A expressão «À grande e à francesa», que
genericamente designa um estilo de vida luxuoso, tem mais de duzentos anos e
remonta à primeira invasão francesa (1807), quando o general Jean Junot
permitiu aos portugueses assistir ao modo de vida soberbo e luxuoso, ainda que
de curta duração.
E foi esta expressão, devidamente
adaptada, que me surgiu automaticamente quando li há alguns dias que o
milionário chinês Li Jinyuan decidiu gastar sete milhões de euros para pagar
umas férias a 2500 empregados seus, em Espanha.
Como na China é tudo em grande, os números
são à “chinês”: vinte aviões fretados, quatro comboios de alta velocidade
cheios, setenta autocarros alugados, 1650 quartos reservados em hotéis e… toda
a Europa a falar da filantropia deste chinês que faz em Espanha uma gigantesca
campanha de marketing de repercussões incalculáveis.
O que são sete milhões de euros para um
homem cuja fortuna está avaliada em mais de cinco mil milhões de euros? “Peanuts”,
como diria Jorge Jesus!
No entanto, a atitude do dono da Tiens
está muito para além do marketing puro. Li Jinyuan é mesmo o tipo de patrão que
todo o empregado gostaria de ter: no ano passado já tinha levado 6700
empregados a França, onde gastou mais de treze milhões de euros; nos anos
anteriores, os afortunados trabalhadores chineses já tinham estado em Moscovo e
na África do Sul, onde o seu patrão também não olhou a gastos para lhes
proporcionar umas férias inesquecíveis.
A China e os chineses continuam a
surpreender o mundo, dando lições de economia e de marketing, precisamente em
áreas em que eram muito criticados.
Durante décadas acusámos os chineses de exploração
indecorosa de mão-de-obra baratíssima. Eles sorriram e aparentemente não
mudaram, mas lentamente lá vão repercutindo algum do enorme lucro das suas
empresas em regalias para os trabalhadores. E depois sabem perfeitamente
publicitar ações estridentes e «à americana» como a do magnata Li Jinyuan, que
funcionam como uma espécie de bofetada de luva branca na retórica liberal e hipócrita
de uma Europa que já nem disfarça a degradação dos direitos dos trabalhadores
por anteposição ao aumento dos casos de corrupção entre os mais altos
dirigentes de empresas públicas em privadas.
Os chineses continuam comunistas,
continuam a reprimir a liberdade de expressão e de imprensa, mas permitem-se a
estas excentricidades que nos amolecem o coração enquanto fazemos negócios com
eles sem perguntarmos como vivem os seus.
Gabriel Vilas Boas
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