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sexta-feira, 13 de maio de 2016

PEREGRINAR ATÉ FÁTIMA OU ATÉ DEUS?



As Peregrinações ao santuário mariano de Fátima são um elemento icónico da religiosidade do povo português.
Sobretudo em Maio, as estradas portuguesas enchem-se de peregrinos desejosos de mostrar todo o amor da sua fé à Virgem de Fátima. Não critico, não discuto sequer Fátima e os seus milagres com estes cristãos que elegeram Nossa Senhora de Fátima como padroeira da sua fé.
Admiro-os pela autenticidade que emana do seu generoso gesto. A fé não se explica nem se racionaliza. Qualquer ateu sabe isto perfeitamente. Quem a tem vive-a a seu modo. E tem todo o direito a isso bem como a não ser importunado, ridicularizado, achincalhado ou simplesmente questionado.

São dezenas/centenas de quilómetros que esta gente faz todos os anos ou uma única vez. Gente impreparada, gente doente, gente que não parece conhecer outra forma de se entender com Deus que não seja através do sacrifício e da dor. Mais do que gente interesseira é gente de palavra, num código de honra que se tornou sagrado.
É-me difícil perceber uma fé que se afirma primordialmente através do sacrifício, mas a verdade é que este sacrífico levado até ao limite é uma manifestação concreta de fé, que não posso criticar, apenas louvar. Não há exibicionismo nem sequer protagonismo, apenas uma maneira muito portuguesa de viver a fé. Talvez a única que lhes ensinaram e com ela vivem há anos.

No entanto, não deixo de me questionar: não seria possível manifestar tanto fervor religioso em algo mais útil e menos doloroso fisicamente, como por exemplo o voluntariado? Talvez seja apenas a minha visão intelectualizada da fé, mas não me deixa de me inquietar que milhares e milhares de peregrinos sejam capazes de tamanho sacrifício ano após ano e depois sejam tão pobres em obras de caridade com os vizinhos necessitados das suas paróquias.
Bem sei que a fé não se racionaliza, mas todo o crente é dotado de sensibilidade, bom senso e inteligência e certamente já pensou como seria um verdadeiro milagre transformar todo aquele esforço de dias de peregrinação em ações diárias de amor e caridade cristãs, junto das comunidades a que cada um pertence.
A fé é mais do que um sacrifício ou uma tradição; ela pode e deve ser também uma manifestação do Amor de Deus na ação diária de cada crente.

Gabriel Vilas Boas

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