Ouvi este comentário
várias vezes a algumas colegas mais velhas, quando comentavam os destemperos
dos seus alunos, cujos pais, por acaso, tinham sido seus alunos também.
A influência dos pais na nossa formação é sempre maior que a gente admite ou pensa. É
claro que há as circunstâncias, o tempo em que vivemos e sobretudo a nossa
própria vontade, mas é um erro crasso desprezar quanto da tradição familiar permanece
em nós.
E se virarmos o
tabuleiro e nos pusermos no papel dos pais, será que temos a perceção de quanto
de nós os nossos filhos absorvem inconscientemente? Acho que aqui a perceção é
bem menor. Talvez nos primeiros anos de vida das crianças tenhamos mais
consciência de como o exemplo é importante, mas o surgimento dos grandes
problemas do desenvolvimento da personalidade dos filhos
(adolescência/juventude) apanham muitos pais em contramão. Ou porque também
eles estão ensarilhados nos seus próprios problemas relacionais ou porque se
sentem incapazes de dar respostas capazes e convincentes às equações colocados
pelos seus rebentos ou porque perderam a noção de quanto tudo aquilo que fazem
se repercute, consciente e inconscientemente, na evolução dos filhos.
A maneira como o pai
trata a mãe e vice-versa; o modo de lidar com o dinheiro; a transigência ou
intransigência com valores essenciais como a verdade, a amizade, a honra
são defendidos; o estilo e a forma do relacionamento interpessoal; a relação com
a família alargada; o comprometimento com o trabalho (no caso dos alunos, com a
escola) são eixos fundamentais que os pais vão legando aos filhos, através do
exemplo.
Ainda que os filhos rejeitem claramente o exemplo dado (por exemplo, o
pai bate na mãe), ele está presente de forma vincada, através da mágoa, de um
trauma ou como um sinal claro do que não se deve fazer.
Apesar de perceber
quanto determinante é o exemplo dos pais na formação da personalidade dos filhos,
não acho que os pais devam estar agarrados a uma representação ideal de pai/mãe
para não estragar o futuro do filhinho(a).
É importante ser atento,
responsável, mas, antes de mais, genuíno. Não deixar de ser quem é, explicar
que há vários caminhos para atingir um objetivo e nunca deixar de envolver a
liberdade do filho no processo de crescimento, pois acho imperioso que o
adolescente/jovem perceba que um bom/mau exemplo é só um começo que ele pode
aceitar ou rejeitar; que os pais são um excelente ajuda, mas a decisão final
tem de ser deles.
O desenvolvimento de uma personalidade só se faz quando o
próprio se implica nela e também investe em si.
Obviamente saímos a
alguém, mas para que alguém saia a nós, temos de nos construir como peça única
e irrepetível.
Gabriel Vilas Boas
Sem comentários:
Enviar um comentário