Nas últimas décadas, o movimento sindical
tem perdido fôlego e há cada vez menos trabalhadores sindicalizados. Muitas
pessoas acham que os sindicatos são desnecessários, criticam-nos com rudeza,
desprestigiam os seus líderes, acham que são uma força de bloqueio ao desenvolvimento
económico do país.
É frequente ouvirmos, “aquele comuna do
Mário Nogueira está sempre contra o governo! Nunca deu aulas! Está há demasiado
tempo na Fenprof. Os professores só perdem em terem um líder assim.”
A questão é pertinente: os sindicatos
fazem sentido num mundo económico globalizado? Na minha opinião, mais do que
nunca. As condições de trabalho têm-se degradado muitíssimo nos últimos anos e
os sindicatos pouco mais fazem do que aguentarem o dique, ou seja, resistirem,
com muita dificuldade à enxurrada de precariedade, atropelo às mais elementares
leis laborais, desemprego galopante.
Como estaríamos nós se não houvesse
sindicatos? Muito melhor? Que trabalhadores, públicos e privados, acreditam nas
boas intenções dos seus patrões quanto à manutenção dos postos de trabalho
quando há recessão económica? É ou não é verdade, que, quando há lucros, estes
se dividem pelos patrões (acionistas) e quando há prejuízos se despedem
pessoas?
No entanto, se os sindicatos são assim tão
essenciais aos trabalhadores, por que razão há cada vez menos trabalhadores
sindicalizados? A que se deve a crescente descrença dos trabalhadores na força
dos seus sindicatos?
Os sindicatos pararam no tempo! As
reivindicações das direções dos sindicatos, ainda que justas, são muitas vezes
irrealistas, face ao contexto. Depois ainda há que contar com a nefasta
influência política nos sindicatos. Os trabalhadores são de todos os partidos e
não de um só partido. A direção dos sindicatos, sejam eles de professores,
médicos ou maquinistas da CP, têm de perceber que a ligação a um ideário
político só fragiliza a posição dos trabalhadores. Assim como estar sempre
contra, porque sim.
A força dos sindicatos está na oposição
firme e no acordo consciente. Acresce ainda que há muito a negociar além do
aumentozinho do salário. Cabe aos
sindicatos explicar à população que há entidades patronais que podem e devem
alargar o menu de regalias dos seus trabalhadores porque tal se justifica,
porque tal é da mais elementar justiça e porque isso traz vantagem económica
para todos.
Um sindicato de trabalhadores não pode
estar sempre de mão estendida ou sempre a dizer que o patrão X ou Y é péssimo.
Assim é impossível haver clima para acordos.
Cabe também aos sindicatos fazer outra
reflexão: as lideranças têm de se renovar. Não podemos ter o mesmo líder anos a
fio. Ainda que tenha havido eleições, ainda que não apareça melhor, há que dar
a vez a outros por moto próprio. O trabalhador não pode fazer do sindicalismo
um emprego, mas uma missão.
Em suma, acho que os sindicatos são
necessários há vida económica e social das populações, mas precisam
urgentemente de se reinventar, porque como estão caminham perigosamente para o
definhamento e com isso toda a gente perde. Até os patrões, apesar de eles
acharem que quanto pior melhor!
Gabriel Vilas Boas
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