Etiquetas

quarta-feira, 18 de maio de 2016

HORÁRIO FAMÍLIA



Em Portugal fala-se de mais e faz-se de menos. Constantemente ouvimos falar em reformas estruturais (já sabemos que isto quer dizer demissão das funções sociais do Estado), que o país tem de fazer isto e aquilo (como se o país não fossemos todos nós e o governo não tivesse o direito e o dever de assumir a iniciativa), que é preciso ir contra os interesses instalados (quando o governo propôs cortar os subsídios dos colégios dos meninos, ai que isso não pode ser, que é uma grande injustiça, uma grande maldade), que é preciso tomar medidas que auxiliem as famílias, que necessitamos de incentivar a natalidade (mas quando alguém quer aumentar um euro por dia ao ordenado mínimo, isso é que não pode ser nada, porque o país não aguenta. Basicamente o país não aguenta um aumento que pague as fraldas mensais de um recém-nascido, mas aguenta três banco falidos em cinco anos)… 

Na verdade, ano após ano assistimos a um discurso social hipócrita. Quem tem filhos sabe, há muito tempo, do que a casa gasta, mas revolve-me sempre os fígados estas falinhas mansas de gente que não se vê ao espelho.
Ideias não faltam e algumas muito válidas. Recentemente, a Ordem dos Médicos fez uma proposta muito interessante: reduzir o horário laboral de um dos pais até que o seu filho faça três anos. Vieira da Silva, ministro do Trabalho, disse hoje que estava disponível para discutir o assunto, mas que tínhamos de ir com calma (maneira educada de dizer “para já não!”), que o assunto era para ser discutido em concertação social (Até ele já está a ver a posição dos patrões: “Somos favoráveis a todas as medidas pró família desde que não paguemos um cêntimo.” ), que temos de saber que isto custa dinheiro, blá, blá, blá…

Tudo custa dinheiro! Até o blá, blá, blá de um ministro. A política é fazer opções. O governo não está a tentar cumprir a sua promessa de repor as 35 horas na função pública e não tem dinheiro para a festa? Então que ganhe coragem e assuma uma opção pró família e comece a implementar esse horário com os pais e as mães.
Obviamente, teremos logo a conversa de que o setor privado não pode cumprir, que não tem condições económicas para uma medida tal, que… Há mais de três décadas que já sabemos que o setor privado não tem condições para aumentar o preço de um café por dia ao ordenado dos seus trabalhadores. A conversa é sempre a mesma.

Esta proposta da Ordem dos Médicos é boa. É socialmente justa, económica viável e traz enormes benefícios socais. Já pensaram quanto poupariam as famílias em ATL´s, em correrias, em discussões extenuantes, se a mãe ou o pai pudesse sair todos os dias às 17 horas do seu emprego? Já notaram quanto mais felizes e bem-dispostas andavam milhões de pessoas em Portugal? Isso não seria excelente para o país sobre todas as perspetivas? Será que isso custa assim tanto dinheiro? Ou estamos antes a falar de egoísmo?
E já não estou a pensar naqueles patrões que mal vissem a medida aprovada, aproveitariam para constranger as pobres mães, torcendo o nariz a promoções, colocando-as na primeira linha de possíveis despedimentos, ignorando a lei com o maior descaramento.

Em Portugal, demora-se demasiado tempo a aceitar as coisas mais óbvias, especialmente quando, por acaso, elas beneficiam primeiro o vizinho.
GAVB

Sem comentários:

Enviar um comentário