A sociedade portuguesa está a mudar os
seus comportamentos, as suas opções, a sua mentalidade. Um dado recente do INE
refere que, em 2015, um em cada seis bebés nascidos eram filhos de pais não
casados e que não viviam em comum.
Repararemos que as condições (não casados
e não vivem na mesma casa) são cumulativas e aplicam-se a bebés, ou seja, há uma
opção consciente destas mulheres e homens em terem filhos apesar de não serem
casados, não viverem juntos e não haver perspetivas de o serem.
Partindo do princípio que a esmagadora
maioria dos nascimentos ocorridos no ano anterior foram planeados, estes dados
permitem-nos duas grandes conclusões: há um enorme desejo das mulheres e homens
portugueses serem pais, apesar de todos os obstáculos; a mentalidade social
quanto aos comportamentos está a mudar.
Claro que a crise económica fez
desaparecer muitos homens jovens de Portugal nos últimos oito anos; claro que
há muito desemprego que adiou casamentos; claro que há muitas mulheres no limite
de idade fértil que são impelidas a tomar uma decisão pouco ortodoxa quanto à
maternidade, mas parece-me que estes dados refletem algo mais do que isso. As condicionantes já se
verificaram há três décadas e o «fenómeno» living
apart together não ocorria.
O que se está a passar então? Muitas
mulheres e homens tomaram consciência da importância de serem pais para a sua
realização plena como pessoas e decidiram concretizar esse anseio independentemente
de haver casamento ou não, de haver vida em comum ou não.
O que antes parecia uma ideia «amalucada»,
com tudo para dar errado, acabou por se tornar numa solução possível para a incerteza
económica, social e afetiva em que muitas relações caíram.
Se o que tem de ser tem muita força, o que
não se pode mais adiar tem de se concretizar. O período fértil de uma mulher
não dura eternamente e por isso muitas decisões ousadas tiveram de ser tomadas.
A constatação de que alguns casais
divorciados conseguiram proporcionar aos seus filhos uma educação minimamente
coerente e equilibrada deve ter decidido alguns a arriscar uma solução de
maternidade/paternidade nada convencional. E ainda bem que o fizeram, porque a
maternidade/paternidade é das realizações mais plenas que o ser humano pode
experimentar e não deve ser inibida por qualquer convencionalismo social ou
comportamental.
Obviamente ninguém tinha imaginado este
projeto de vida, mas, desde o bíblico Samuel que já sabemos que “são insondáveis os
caminhos… da felicidade”.
Gabriel
Vilas Boas
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