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domingo, 30 de dezembro de 2018

FRANCO AOS CAÍDOS

Desde que o governo espanhol decidiu que os restos mortais do ditador Franco seriam transladados do Vale dos Caídos para outro local, à escolha dos seus descendentes não tem parado a luta de argumentos entre os partidários e os opositores do ex. ditador espanhol, acerca do acerto da medida.

 A decisão tem causado grande polémica em toda a sociedade espanhola, que desde há muito reclamava sobre o direito do ditador estar sepultado num local onde não devia de estar. 
Argumentavam os opositores de Francisco Franco que ele não era vítima da Guerra Civil espanhola, mas o seu principal fautor. A sua presença era, pois, uma afronta para os milhares de espanhóis que tombaram numa guerra fraticida e que deixou marcas ainda visíveis na sociedade espanhola. Contrapunham os defensores de Francisco Franco que o Vale dos Caídos fora mandado erigir por Franco e lá eram  recordados todos os nacionalistas que tombaram na guerra civil espanhola, sendo Franco o seu incontestável líder.

Há meses, o governo decidiu tirar o que resta do ex. ditador do Vale dos Caídos, mas não lhe deu destino certo. A família queria-o colocar na catedral de Almudena, bem no coração de Madrid, mas o governo do socialista Pedro Sánchez negou-lhe os intentos argumentando com razões de ordem pública, risco de ameaça terrorista, colapso da zona circundante, limitação da liberdade religiosa. o facto é que o governo espanhol teme confrontos entre os partidários e os opositores de Franco, dentro da própria catedral de Almudena.



Um ditador não se venera, mas também não se atira para uma vala comum, pois ele representou, infelizmente, o poder e a vontade de muitos durante longo tempo. 
Quer os espanhóis queiram quer não, ele foi o rosto de Espanha durante quase quarenta anos. Não se suicidou e quis deixar memória de si, do que fez e do seu tempo. 

Houve muitos espanhóis que o apoiaram e que comungavam das suas ideias. Hoje são uma minoria, mas já foram (ainda que através de um silêncio cúmplice) maioria. 

Na minha opinião, cada país deve saber aceitar a sua história, o seu passado, por muito que isso a embarace. Encontrar um lugar digno para Franco é um dever dos espanhóis que amam a liberdade, a paz e a pluralidade de opiniões. A Espanha precisa de enterrar definitivamente Franco, aceitando que o que ele foi como uma parte da sua História.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

À GRANDE E À CHINESA


A expressão «À grande e à francesa», que genericamente designa um estilo de vida luxuoso, tem mais de duzentos anos e remonta à primeira invasão francesa (1807), quando o general Jean Junot permitiu aos portugueses assistir ao modo de vida soberbo e luxuoso, ainda que de curta duração.
E foi esta expressão, devidamente adaptada, que me surgiu automaticamente quando li há alguns dias que o milionário chinês Li Jinyuan decidiu gastar sete milhões de euros para pagar umas férias a 2500 empregados seus, em Espanha.

Como na China é tudo em grande, os números são à “chinês”: vinte aviões fretados, quatro comboios de alta velocidade cheios, setenta autocarros alugados, 1650 quartos reservados em hotéis e… toda a Europa a falar da filantropia deste chinês que faz em Espanha uma gigantesca campanha de marketing de repercussões incalculáveis.
O que são sete milhões de euros para um homem cuja fortuna está avaliada em mais de cinco mil milhões de euros? “Peanuts”, como diria Jorge Jesus!
No entanto, a atitude do dono da Tiens está muito para além do marketing puro. Li Jinyuan é mesmo o tipo de patrão que todo o empregado gostaria de ter: no ano passado já tinha levado 6700 empregados a França, onde gastou mais de treze milhões de euros; nos anos anteriores, os afortunados trabalhadores chineses já tinham estado em Moscovo e na África do Sul, onde o seu patrão também não olhou a gastos para lhes proporcionar umas férias inesquecíveis.

A China e os chineses continuam a surpreender o mundo, dando lições de economia e de marketing, precisamente em áreas em que eram muito criticados.
Durante décadas acusámos os chineses de exploração indecorosa de mão-de-obra baratíssima. Eles sorriram e aparentemente não mudaram, mas lentamente lá vão repercutindo algum do enorme lucro das suas empresas em regalias para os trabalhadores. E depois sabem perfeitamente publicitar ações estridentes e «à americana» como a do magnata Li Jinyuan, que funcionam como uma espécie de bofetada de luva branca na retórica liberal e hipócrita de uma Europa que já nem disfarça a degradação dos direitos dos trabalhadores por anteposição ao aumento dos casos de corrupção entre os mais altos dirigentes de empresas públicas em privadas.
Os chineses continuam comunistas, continuam a reprimir a liberdade de expressão e de imprensa, mas permitem-se a estas excentricidades que nos amolecem o coração enquanto fazemos negócios com eles sem perguntarmos como vivem os seus.

Gabriel Vilas Boas

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A BATALHA DE TRAFALGAR, 1805



«Sua Senhoria veio ter comigo à popa, e depois de ordenar o envio de certos sinais, por volta de um quarto para o meio-dia, disse: “Senhor Pasco, quero transmitir à armada que A INGLATERRA TEM CONFIANÇA QUE TODOS CUMPRIRÃO O SEU DEVER.” E acrescentou: “Tem de ser rápido, pois tenho mais um a enviar, que não pode demorar.” Respondi: “Se vossa senhoria me permitir que substitua confiança por expectativa, o sinal será enviado em breve porque o termo expectativa, consta do vocabulário, e o termo confiança tem de ser soletrado.” Sua Senhoria respondeu à pressa e com aparente satisfação: “Pode ser, Pasco, faça isso já.” – John Pasco, Sinaleiro, Hms Victory, 1805.

As célebres palavras de encorajamento do Vice-almirante Lord Nelson à sua armada, transmitidas no recém-introduzido sistema de sinalização por telégrafo, foram seguidas pelas suas igualmente famosas: «Envolvam mais o inimigo», quando comandava a primeira das duas linhas britânicas num ataque pela direita ao centro da linha franco-espanhola.
A sua tática, destinada a dispersar a armada inimiga e a tirar partido do seu poder de fogo superior, alterou os pressupostos tradicionais em relação à guerra naval e transformou a napoleónica batalha naval de Trafalgar, perto de Gibraltar, numa série de combates individuais.  

A nau capitaneada por Nelson, HMS Victory, envolveu-se numa luta cerrada com o segundo navio da linha francesa, o Redoutable. Quando os navios se embrenharam na luta, Lorde Nelson foi atingido na espinha por um tirador empoleirado no cordame francês. Transportado para baixo, a sua morte tornou-se lendária.
Entre as suas últimas palavras, tal como contou o cirurgião de bordo William Beattie, contam-se um apelo a favor da sua amante Emma Hamilton (“Tomem conta da pobre Lady Hamilton”). Já as suas derradeiras palavras foram sobre a sua vida na Royal Navy: «Graças a Deus, cumpri o meu dever.»

O corpo de Lord Nelson regressou a Inglaterra para o funeral, e a sua reputação como herói, que garantira o domínio naval britânico durante um século, consolidou-se de forma definitiva e até lendária.

domingo, 27 de setembro de 2015

O PRINCÍPIO DO FIM DA ESPANHA?




Há minutos as urnas fecharam na Catalunha e as primeiras projeções de resultados dão às forças políticas que defendem o começo do processo de separação da Catalunha de Espanha uma maioria, mas não absoluta. Para fazer avançar o processo como pretende, Artur Mas, provavelmente, terá de se coligar com a extrema-direita catalã.
Para mim, a questão fundamental que este processo põe a claro é que para os catalães a questão da separação/independência não é para adiar mais!
Atropelando a Constituição espanhola, acordos e ameaças, Artur Mas conseguiu que a Espanha e a Catalunha se olhem finalmente olhos nos olhos.

Por regra, sou favorável a que qualquer povo com língua, identidade, cultura e territórios próprios decida se quer permanecer ou não como região de um país. Também acho de muito mau tom estar a tecer considerações valorativas sobre uma votação. Garantidas as condições de democraticidade, o resultado de umas eleições é sempre bom. Goste eu muito ou muito pouco deles.
Reconheço aos catalães o direito de quererem abandonar a Espanha, mas não lhes reconheço o direito de imporem condições. Querem ir embora? Pois que vão, mas assumindo as responsabilidades dos seus atos.

Obviamente fora do euro, obviamente fora da União Europeia; obviamente pagando taxas alfandegárias para a entrada e circulação dos seus bens; obviamente construindo o seu próprio sistema judicial e de saúde públicos; obviamente pagando as suas dívidas e criando os seus próprios bancos. Obviamente assegurando as reformas dos seus cidadãos (aquelas que já se encontram a pagamento e aquelas que ainda o serão).
Obviamente começando do zero como qualquer um! Pedindo para entrar nas várias instituições europeias e esperando vez, como os outros esperaram!
Se os catalães amam assim tanto a sua independência, a sua cultura, a sua língua, não se importarão que os grandes bancos europeus vão fazer negócio para outro lado, que o seu querido F. C. Barcelona não jogue o Campeonato Espanhol de Futebol (não faria qualquer sentido) e de esperar alguma duvidosa alteração especial para competir na Liga dos Campeões; que a sua moeda desvalorize como outra qualquer fora do euro.
Era isto que Artur Mas devia ter dito de forma clara ao povo catalão. E quando lhes disse que não haveria retorno devia ter esclarecido que que isso queria dizer “não a haverá lugar a qualquer desculpem lá, mas queremos voltar para Espanha”.

Se a clara maioria dos catalães, que votou hoje no sim, quer ISTO e outras minudências não despiciendas, encantado da vida! A luta vai ser longa, mas estou do seu lado.
Infelizmente acho que aquilo que une muita gente à volta do nacionalismo catalão é mais o ódio a Madrid, ao seu poder, à maneira autoritária como sempre lho esfregaram na cara. Ora isso não é suficiente. Nenhum país se pode alicerçar no ódio nem na geometria dos interesses.
Madrid gosta muito da Catalunha dentro de Espanha porque esta é riquíssima. Fosse esta pobre e já o Rei e o Primeiro-Ministro tinham desistido de lutar pela união.
Talvez a Catalunha acabe por capitular como o Syriza o fez na Grécia, mas a Espanha terá sempre o seu Cavalo de Tróia na Catalunha, à espera que o poder central dormite profundamente.
 Gabriel Vilas Boas 

sexta-feira, 29 de maio de 2015

EL ESCORIAL – O PODER ABSOLUTO E O RIGOR INQUISITORIAL



Em 1984, a UNESCO classificou o Escorial como Património da Humanidade. Situado nos arredores de Madrid, El Escorial é um monumento da monarquia espanhola do tempo de Filipe II. Palácio, mausoléu de todos os réus espanhóis de Carlos V a Afonso XII e, simultaneamente, Mosteiro da Ordem dos Jerónimos, sendo o conjunto dedicado a São Lourenço.
No meu reino, o sol nunca se põe”, dizia Filipe II, que sucedeu ao imperador Carlos V, senhor dum imenso império que incluía Espanha, os Países Baixos, a Sicília, a Sardenha, Nápoles, Milão e alguns territórios na América do Sul.
Quando subiu ao trono, em 1556, a Espanha encontrava-se no auge do seu poder mundial. Depois de ter promovido a unidade religiosa, espiritual e política na europa, através do Concílio de Trento, era conveniente construir um edifício que desse expressão a tamanha abundância de sol  - “El Escorial”.
Num tempo recorde de 21 anos, concluiu-se o monumento de todas as vaidades que ficou pronto em 1584. No entanto, nada nele evoca a jovialidade soalheira. Diante dele sente-se o poder e o fervor religioso na sua dimensão absoluta.

A ideia de dedicar um mosteiro a São Lourenço já obtivera as graças do monarca, católico convicto, depois da vitória militar sobre a França em 10 de agosto de 1557.
Do juramento feito na altura, saiu um edifício multifuncional: local de oração, sede do governo, centro administrativo, reserva artística e científica, cemitério.
Com a sua estrutura de linhas direitas, completamente despida de ornamentos, El Escorial tem mais de 2.500 janelas e 1200 portas. O complexo sugere, logo a nível exterior, a grelha onde o mártir São Lourenço foi imolado pelo fogo no tempo dos romanos.
A planta do edifício, da responsabilidade dos arquitetos Juan de Toledo e Juan de Herrera, inspira-se na forma desse instrumento de tortura, cuja “pega” corresponde ao palácio privado de Filipe II, que se destaca da estrutura em rectângulo. As quatro torres de esquina representam os apoios da grelha. Não é de beleza que se trata, mas sim de monumentalidade.

Rígido e intransigente, como o sistema repressivo da inquisição que se viveu no reinado absolutista de Filipe II, El Escorial ergue-se no meio de uma paisagem montanhosa, com os seus dois elementos fundamentais: palácio e mosteiro.
As irregularidades do terreno são compensadas com a adição de caves suplementares. Sob o telhado do Escorial estão reunidas 12 claustros, 300 celas monacais, 16 pátios interiores, 86 escadarias e 88 fontes – mais do que se encontra em algumas cidades. Em todos os locais se sente a ambição de monumentalidade que esteve na génese deste projeto arquitectónico.
A aparência ascética contrasta violentamente com o fausto e luxo do interior. Filipe II não olhou a despesas e convidou os melhores artistas para criar tetos abobadados, telões de tapeçaria e pinturas magníficas que decoram as paredes de modo extraordinário. Do círculo de pintores eleitos fizeram parte Velasquez, El Greco, Goya, Hieronymus Bosch, Piter Paul Rubens.

Na basílica, na sacristia, nas salas do capítulo e na biblioteca tem-se a sensação de estar no museu do Prado, na secção das melhores pinturas antigas.
Para a decoração interior trabalhou-se «apenas» com materiais preciosos: mármores de diversas cores, madeiras nobres seleccionadas, marfim, ouro, prata e bronze esmaltado. No palácio real dos Boubons, Filipe II deixou que o seu designer desse largas ao seu pessoalíssimo gosto pelo rococó, por isso aí se podem ver valiosos Gobelins, castiçais, candelabros, porcelanas, espelhos e relógios. Na biblioteca há mais de 3000 preciosidades bibliográficas das áreas da ciência e da cultura.

O quarto do rei, que sofria de gota, está situado mesmo ao lado da igreja, permitindo-lhe assim assistir à missa da própria cama.
No frio coração da necrópole em granito encontra-se o marmóreo Panteão dos Reis, no qual repousam os restos mortais de quase todos os monarcas espanhóis.
O granito cinzento é também o material usado na construção do mosteiro. Este material foi extraído dos flancos da Serra de Guadarrama, em cujo sopé se encontra o Escorial, cercado por florestas de carvalhos e extensões de salgueiros.

A escolha de Filipe II para erigir o seu palácio recaiu na povoação de San Loureço de El Escorial e a Silla del Rey (uma colina na Serra de Guadarrama) passou a ser o local onde o rei seguia os trabalhos de construção. Nos nossos dias, são também os madrilenos que se refugiam no Escorial quando querem virar as costas à cidade.     

sábado, 9 de maio de 2015

X FESTIVAL DA MÁSCARA IBÉRICA


Desde quinta-feira e até amanhã, o coração de Lisboa está tomada pelo Festival da Máscara Ibérica. Trata-se de um certame que se realiza pela décima vez e que traz à capital portuguesa 690 participantes, divididos em 30 grupos, que revelam à população um dos traços mais profundos da cultura ibérica.
A Máscara Ibérica é uma máscara típica de Portugal e Espanha, muito ligada aos cultos celtas que assinalavam o solstício de inverno. Outras máscaras ligam-se a rituais de fertilidade e outras ligam-se ao Entrudo.

A Máscara Ibérica é um projeto conjunto da PROGESTUR (associação de cultura e turismo) e da EGEAC que engloba um grandioso desfile de Máscaras Ibéricas (realizado durante a tarde de hoje), exposições e produção bibliográfica sobre a Máscara Ibérica.  
Durante várias horas, a baixa lisboeta foi invadida por Caretos de Podence, Lazarim, Lagoa (Mira), Aveleda; Diabos, Sécias, Zangarrões, Galdrapas, Velhos, Marafonas, Chocarreiros da Bemposta e da Val de Porco e também máscaras de algumas zonas da Galiza e norte peninsular, onde devemos destacar os Boteiros, Pantallas, Peliqueiros, Cigarróns, Vergalleiros, Felos, que permitem ao espectador um festim de cor, movimento, som, alegria durante várias horas. Tudo se torna ainda mais interessante porque este festival permite que as regiões donde estas máscaras são oriundas tragam até à capital o que de melhor há na sua gastronomia. Os doces, os enchidos, os vinhos de Trás-os-Montes e da Galiza possibilitam ao visitante desfrutar, de modo mais completo, as raízes da cultura ibérica.

A Gastronomia Ibérica, com shoxcookings, workshops, e os vinhos ibéricos são sempre muito apreciados, como se viu em edições anteriores, onde o público que marcou presença no certame da Máscara Ibérica atingiu o meio milhão de visitantes. Além da gastronomia, este Festival traz aos olhos dos lisboetas e muitos turistas estrangeiros que visitam a cidade, neste fim-de-semana, peças artesanais portuguesas e espanholas únicas, numa das trinta espaços comerciais do Festival.

A animação de rua é assegurada pelos Sidros de Valdesoto (Astúrias),Gaiteiros de Viana do Bolo (Espanha) e Os Caçulas (Portugal).

O Palco Ibérico apresenta concertos de música folk de raiz tradicional europeia com elementos de fusão o tradicional, ska-folk e o rock.

Paralelamente organiza-se uma vez mais o concurso de fotografia "Desfile com a Máscara Ibérica". As fotos vencedoras do ano passado estão patentes no Rossio. 

O Festival da Máscara Ibérica é uma sinfonia de história, cor, movimento, sons e sabores que nos faz viajar na máquina do tempo.
 
Gabriel Vilas Boas

domingo, 21 de setembro de 2014

EUROPA: AMEAÇA DE FRAGMENTAÇÃO


Há uns meses largos, o primeiro-ministro escocês Alex Salmond reivindicou junto do seu homólogo inglês mais autonomia para o seu governo dentro do Reino Unido. David Cameron disse que não e fez-se de forte: se Salmond queria mais autonomia, mais valia pôr a questão de independência da Escócia aos escoceses através de referendo. Estava mais que convencido da rejeição de tal proposta. Nos últimos dias deve ter amargurado tanta jactância, só possível em quem não conhece bem os orgulhosos escoceses. Há uma semana, os escoceses estavam mais inclinados para a cisão, mas à última hora, o coração british e o medo de perder a libra fê-los recuar.
Acho que fizeram bem. A alma grandiosa e nobre da Escócia pertence ao Reino Unido. Eles não queriam sair! Eles “apenas” queriam ser respeitados e considerados um parceiro igual à Inglaterra e não um parente de segundo que tinha que ficar agradecido de ser súbdito de Sua Majestade.


Não duvido que o medo da saída da União Europeia e a dúvida quanto à permanência da libra como moeda fizeram pender a balança para o lado do "Não", mas também estou certo que os escoceses estavam mentalmente preparados para amarrarem sozinhos o seu futuro.
Muita gente comparou o caso escocês ao catalão, referindo que o caso escocês abriria a caixa de Pandora da fragmentação europeia, sendo a Catalunha a próxima a “exigir” a sua libertação de Espanha.
Acho que os dois casos têm pouco em comum. Os escoceses queriam ficar… com mais respeito e consideração; os catalães querem sair debaixo do jugo de Madrid porque não suportam que a capital seja Madrid e que tenham de lhe prestar vassalagem. Os escoceses estavam preparados para assumir a rutura apesar de não a quererem; os catalães, ou melhor, os barcelonistas não estão preparados nem economicamente nem mentalmente para sair de Espanha.

Barcelona acha-se rica e autossuficiente, mas esquece que a sua riqueza lhe vem das inúmeras multinacionais que lá se instalaram e que não suportariam ficar fora do espaço da moeda única como certamente aconteceria à Catalunha. Por outro lado, Barcelona é profundamente cosmopolita e não estou a ver os catalães odiaram assim tanto Madrid para abdicarem da sua “dolce vita”. Se estivéssemos a falar dos bascos já não diriam o mesmo… 
Por falar em bascos: o que acharão eles desta ideia catalã de independência? Provavelmente o seu longo sorriso irónico se lembrará de como os “amigos” de Barcelona foram contra o desejo basco de sair de Espanha.
Além disto, ainda não estou convencido que a maioria da Catalunha almeje abandonar a grande Espanha. Julgo que essa vontade é muito maior em Barcelona que na região da Catalunha.
Reconheço a específica cultura catalã, a sua língua, a sua riqueza económica, mas não encontro “boas e fortes razões” para a sua saída do Reino de Filipe VI e Letizia.
Se a Catalunha se separar, será impossível impedir os bascos de “ir embora” e, nessa altura, a Espanha implodirá e a Europa terá outro desenho, pois a pequena Bélgica deixará de existir e outros casos surgirão para atormentar a União Europeia…


A única coisa positiva que vejo nesta nefasta deriva fragmentária da Europa é que tudo está a ser feito pacificamente e em democracia. E é assim que deve ser. Não podemos viver novamente tempos de violência como a sangrenta guerra nos balcãs, onde a Jugoslávia acabou da pior maneira.   
 Gabriel Vilas Boas