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sexta-feira, 29 de maio de 2015

EL ESCORIAL – O PODER ABSOLUTO E O RIGOR INQUISITORIAL



Em 1984, a UNESCO classificou o Escorial como Património da Humanidade. Situado nos arredores de Madrid, El Escorial é um monumento da monarquia espanhola do tempo de Filipe II. Palácio, mausoléu de todos os réus espanhóis de Carlos V a Afonso XII e, simultaneamente, Mosteiro da Ordem dos Jerónimos, sendo o conjunto dedicado a São Lourenço.
No meu reino, o sol nunca se põe”, dizia Filipe II, que sucedeu ao imperador Carlos V, senhor dum imenso império que incluía Espanha, os Países Baixos, a Sicília, a Sardenha, Nápoles, Milão e alguns territórios na América do Sul.
Quando subiu ao trono, em 1556, a Espanha encontrava-se no auge do seu poder mundial. Depois de ter promovido a unidade religiosa, espiritual e política na europa, através do Concílio de Trento, era conveniente construir um edifício que desse expressão a tamanha abundância de sol  - “El Escorial”.
Num tempo recorde de 21 anos, concluiu-se o monumento de todas as vaidades que ficou pronto em 1584. No entanto, nada nele evoca a jovialidade soalheira. Diante dele sente-se o poder e o fervor religioso na sua dimensão absoluta.

A ideia de dedicar um mosteiro a São Lourenço já obtivera as graças do monarca, católico convicto, depois da vitória militar sobre a França em 10 de agosto de 1557.
Do juramento feito na altura, saiu um edifício multifuncional: local de oração, sede do governo, centro administrativo, reserva artística e científica, cemitério.
Com a sua estrutura de linhas direitas, completamente despida de ornamentos, El Escorial tem mais de 2.500 janelas e 1200 portas. O complexo sugere, logo a nível exterior, a grelha onde o mártir São Lourenço foi imolado pelo fogo no tempo dos romanos.
A planta do edifício, da responsabilidade dos arquitetos Juan de Toledo e Juan de Herrera, inspira-se na forma desse instrumento de tortura, cuja “pega” corresponde ao palácio privado de Filipe II, que se destaca da estrutura em rectângulo. As quatro torres de esquina representam os apoios da grelha. Não é de beleza que se trata, mas sim de monumentalidade.

Rígido e intransigente, como o sistema repressivo da inquisição que se viveu no reinado absolutista de Filipe II, El Escorial ergue-se no meio de uma paisagem montanhosa, com os seus dois elementos fundamentais: palácio e mosteiro.
As irregularidades do terreno são compensadas com a adição de caves suplementares. Sob o telhado do Escorial estão reunidas 12 claustros, 300 celas monacais, 16 pátios interiores, 86 escadarias e 88 fontes – mais do que se encontra em algumas cidades. Em todos os locais se sente a ambição de monumentalidade que esteve na génese deste projeto arquitectónico.
A aparência ascética contrasta violentamente com o fausto e luxo do interior. Filipe II não olhou a despesas e convidou os melhores artistas para criar tetos abobadados, telões de tapeçaria e pinturas magníficas que decoram as paredes de modo extraordinário. Do círculo de pintores eleitos fizeram parte Velasquez, El Greco, Goya, Hieronymus Bosch, Piter Paul Rubens.

Na basílica, na sacristia, nas salas do capítulo e na biblioteca tem-se a sensação de estar no museu do Prado, na secção das melhores pinturas antigas.
Para a decoração interior trabalhou-se «apenas» com materiais preciosos: mármores de diversas cores, madeiras nobres seleccionadas, marfim, ouro, prata e bronze esmaltado. No palácio real dos Boubons, Filipe II deixou que o seu designer desse largas ao seu pessoalíssimo gosto pelo rococó, por isso aí se podem ver valiosos Gobelins, castiçais, candelabros, porcelanas, espelhos e relógios. Na biblioteca há mais de 3000 preciosidades bibliográficas das áreas da ciência e da cultura.

O quarto do rei, que sofria de gota, está situado mesmo ao lado da igreja, permitindo-lhe assim assistir à missa da própria cama.
No frio coração da necrópole em granito encontra-se o marmóreo Panteão dos Reis, no qual repousam os restos mortais de quase todos os monarcas espanhóis.
O granito cinzento é também o material usado na construção do mosteiro. Este material foi extraído dos flancos da Serra de Guadarrama, em cujo sopé se encontra o Escorial, cercado por florestas de carvalhos e extensões de salgueiros.

A escolha de Filipe II para erigir o seu palácio recaiu na povoação de San Loureço de El Escorial e a Silla del Rey (uma colina na Serra de Guadarrama) passou a ser o local onde o rei seguia os trabalhos de construção. Nos nossos dias, são também os madrilenos que se refugiam no Escorial quando querem virar as costas à cidade.     

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