Em 1984, a UNESCO
classificou o Escorial como Património da Humanidade. Situado nos arredores de
Madrid, El Escorial é um monumento da monarquia espanhola do tempo de Filipe
II. Palácio, mausoléu de todos os réus espanhóis de Carlos V a Afonso XII e,
simultaneamente, Mosteiro da Ordem dos Jerónimos, sendo o conjunto dedicado a
São Lourenço.
“No meu reino, o sol
nunca se põe”, dizia Filipe II, que sucedeu ao imperador Carlos V, senhor dum
imenso império que incluía Espanha, os Países Baixos, a Sicília, a Sardenha,
Nápoles, Milão e alguns territórios na América do Sul.
Quando subiu ao
trono, em 1556, a Espanha encontrava-se no auge do seu poder mundial. Depois de
ter promovido a unidade religiosa, espiritual e política na europa, através do
Concílio de Trento, era conveniente construir um edifício que desse expressão a
tamanha abundância de sol - “El Escorial”.
Num tempo recorde de
21 anos, concluiu-se o monumento de todas as vaidades que ficou pronto em 1584.
No entanto, nada nele evoca a jovialidade soalheira. Diante dele sente-se o
poder e o fervor religioso na sua dimensão absoluta.
A ideia de dedicar um
mosteiro a São Lourenço já obtivera as graças do monarca, católico convicto, depois
da vitória militar sobre a França em 10 de agosto de 1557.
Do juramento feito na
altura, saiu um edifício multifuncional: local de oração, sede do governo,
centro administrativo, reserva artística e científica, cemitério.
Com a sua estrutura
de linhas direitas, completamente despida de ornamentos, El Escorial tem mais
de 2.500 janelas e 1200 portas. O complexo sugere, logo a nível exterior, a
grelha onde o mártir São Lourenço foi imolado pelo fogo no tempo dos romanos.
A planta do edifício,
da responsabilidade dos arquitetos Juan de Toledo e Juan de Herrera,
inspira-se na forma desse instrumento de tortura, cuja “pega” corresponde ao
palácio privado de Filipe II, que se destaca da estrutura em rectângulo. As
quatro torres de esquina representam os apoios da grelha. Não é de beleza que
se trata, mas sim de monumentalidade.
Rígido e
intransigente, como o sistema repressivo da inquisição que se viveu no reinado
absolutista de Filipe II, El Escorial ergue-se no meio de uma paisagem montanhosa,
com os seus dois elementos fundamentais: palácio e mosteiro.
As irregularidades do
terreno são compensadas com a adição de caves suplementares. Sob o telhado do
Escorial estão reunidas 12 claustros, 300 celas monacais, 16 pátios interiores,
86 escadarias e 88 fontes – mais do que se encontra em algumas cidades. Em
todos os locais se sente a ambição de monumentalidade que esteve na génese
deste projeto arquitectónico.
A aparência ascética
contrasta violentamente com o fausto e luxo do interior. Filipe II não olhou a
despesas e convidou os melhores artistas para criar tetos abobadados, telões de
tapeçaria e pinturas magníficas que decoram as paredes de modo extraordinário.
Do círculo de pintores eleitos fizeram parte Velasquez, El Greco, Goya,
Hieronymus Bosch, Piter Paul Rubens.
Na basílica, na sacristia,
nas salas do capítulo e na biblioteca tem-se a sensação de estar no museu do
Prado, na secção das melhores pinturas antigas.
Para a decoração
interior trabalhou-se «apenas» com materiais preciosos: mármores de diversas cores,
madeiras nobres seleccionadas, marfim, ouro, prata e bronze esmaltado. No
palácio real dos Boubons, Filipe II deixou que o seu designer desse largas ao seu pessoalíssimo gosto pelo rococó, por
isso aí se podem ver valiosos Gobelins, castiçais, candelabros, porcelanas,
espelhos e relógios. Na biblioteca há mais de 3000 preciosidades bibliográficas
das áreas da ciência e da cultura.
O quarto do rei, que
sofria de gota, está situado mesmo ao lado da igreja, permitindo-lhe assim assistir
à missa da própria cama.
No frio coração da
necrópole em granito encontra-se o marmóreo Panteão dos Reis, no qual repousam
os restos mortais de quase todos os monarcas espanhóis.
O granito cinzento é
também o material usado na construção do mosteiro. Este material foi extraído
dos flancos da Serra de Guadarrama, em cujo sopé se encontra o Escorial, cercado
por florestas de carvalhos e extensões de salgueiros.
A escolha de Filipe
II para erigir o seu palácio recaiu na povoação de San Loureço de El Escorial e
a Silla del Rey (uma colina na Serra de Guadarrama) passou a ser o local onde o
rei seguia os trabalhos de construção. Nos nossos dias, são também os madrilenos
que se refugiam no Escorial quando querem virar as costas à cidade.
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