Ontem, em Moscovo,
Putin teve das ideias mais infelizes para comemorar os 70 anos do fim da II
Guerra Mundial: uma parada militar monstruosa a lembrar os tempos da guerra
fria, onde o medo de nova guerra impedia a verdadeira paz.
Boicotado pelos líderes
ocidentais, Putin fez um discurso ressentido e ameaçador sobre o presente,
falando dum património comum de valores. Aludia à paz, à democracia, ao
desenvolvimento dos povos, à justiça? Nem ele teve coragem de explicitar aquilo
a que se referia. Mas mostrou-nos as imagens da guerra, do ódio, de desejo de
supremacia dum povo sobre outro povo, duma ideologia sobre outra ideologia.
Putin vive num mundo
que já não existe. O mundo do KGB, o mundo da ameaça e do medo, o mundo das
paradas militares, da luta de grandes blocos. Putin não sabe o que é a essência
da paz e da democracia. Percebo o seu ressentimento porque o mundo não teme,
não considera a grande Rússia, com enormes dificuldades em se perceber, em
encontrar o seu papel na europa e no mundo.
Ser grande é estar em
toda a parte porque nos chamam e não porque impomos a nossa presença, através
de armas, de dinheiro ou do medo. Nisso os americanos entenderam sempre melhor
o mundo que os russos.
Não gosto de Merkel,
mas ela deu a Putin das melhores lições de História, de humildade e de grandeza
humana. Depois da parada e do discurso de ontem, Merkel foi a Moscovo e
depositou flores ao soldado desconhecido russo. Silenciosamente pediu desculpa
aos 27 milhões de russos mortos na II Guerra Mundial, por causa do vírus nazi.
Merkel não olha para o
passado para reescrever a História, mas apenas para construir um futuro
diferente. Talvez não tenha a capacidade nem parceiros à altura para desfazer o
enigma em que a europa se encontra, no entanto ela entende o essencial sobre o
momento presente e sabe que sem paz tudo o resto deixa de fazer sentido.
A europa é hoje um
grande mosaico multicolor e dinâmico, onde qualquer tentativa de domínio por
parte dum povo, ideologia será sempre derrotada. O grande enigma da europa
sobre o seu futuro talvez se resolva aceitando esta pluralidade de pensamentos,
culturas, costumes que junta pequenas e grandes nações à volta de dois grandes
padrões: a paz e a democracia.
Todavia, a paz e a
democracia apenas alimentam a alma e hoje os povos europeus gritam por algo que
lhes alimentem o corpo. A justa distribuição dos recursos e a justiça
constituem-se como elementos fundamentais duma europa que sabe que tem direito
a muito mais do que aquilo que lhe dão.
A europa é um espaço
riquíssimo sobre todos os pontos de vista, falta-lhe apenas dirigentes que
entendem essa riqueza, afinem os instrumentos da orquestra e permitam aos cidadãos
europeus tocaram algo ainda mais belo que a 9.ª sinfonia de Beethoven.
Gabriel Vilas Boas
Plenamente de acordo,com a análise feita ,que tão bem descreve essa comemoração infeliz,impregnada de ameaças,quando o evento deveria ser o contrário disso...um Hino de alegria!Parabens !
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