Giovanni António Canal,
chamado Il Canaletto (1697-1768), é um dos últimos génios do Barroco italiano.
Graças ao contacto com paisagistas que estabelece em Roma, ganha muito
interesse pelas cenas urbanas.
Hoje escolhi duas obras
deste autor italiano do século XVIII, que estão no National Gallery de Londres,
tal como acontece com a obra de Sandro Botticelli falada há duas semanas.
As obras selecionadas
focam Veneza, terra natal do Canaletto.
VENEZA: A FESTA DE SÃO
ROQUE
Esta obra de António
Canal, mais conhecido como Canaletto, é uma das poucas em que o artista aborda
uma temática diferente daquela em que se notabilizou: a paisagem.
Trata-se da festa de São Roque, que tinha lugar a dezasseis de Agosto, em comemoração do fim da terrível
praga de 1576, na qual morreu Ticiano. No dia dezasseis de Agosto, o Doge ouviu
missa na igreja de S. Rocco, onde aquele santo fora enterrado, a em memória da
sua intercessão para acabar com a praga.
A obra de Canaletto
mostra a enorme procissão de altos dignatários e embaixadores, saindo da
igreja. Todos os participantes levam consigo pequenos ramos de flores que
oferecem em sinal de lembrança da praga que ceifou tantas vidas.
O Doge, personagem
principal da obra, fora eleito para representar a República de Veneza até 1797,
ano em que o último Doge (o número 120) foi destituído por Napoleão.
Uma vez eleito, o Doge
governava até à sua morte, embora não pudesse beneficiar livremente dos fundos
do Estado. O Doge é sempre reconhecido pela sua indumentária, em particular com
o chapéu com o nó atrás, o «corno ducal», muito típico no século XIV.
É evidente a perfeita
noção que Canaletto tinha deste acontecimento, levado a cabo na sua cidade
natal. É curioso a maneira como o artista retrata o Doge. Os rostos de todos
eles são extremamente parecidos, sem grande pretensão em conseguir alguma
expressividade.
Neste quadro destacaria
dois pormenores: a grinalda que Canaletto coloca na porta principal da igreja é
mais um símbolo da festa de São Roque.
O guarda-sol que cobre
a cabeça e o rosto do Doge, juntamente com os pequenos ramos de flores, são dos
poucos pormenores que se revelaram dignos de serem trabalhados por Canaletto.
VENEZA: O GRANDE CANAL
COM A IGREJA DE S. SIMEONE PICCOLO
Esta pintura de
Canaletto pertence a uma vasta série de obras do artista sobre o grande canal
de Veneza.
Nesta panorâmica
podemos contemplar a igreja de São Simeone Piccolo, reconstruída por
Scalfarotto e benzida em 1738. Esta é uma das obras de grande dimensão tratada
de um modo mais cuidado, nomeadamente em relação à luz e aos efeitos de
perspetiva tão bem conseguidos.
É impressionante observar como as casas junto
ao canal se refletem nas suas águas cristalinas e azuis, sobretudo na zona
esquerda da composição. Contudo, a zona direita fica submersa na escuridão. As
casas são reproduções fiéis das daquele tempo. Neste sentido, a obra de
Canaletto é mais uma fonte de informação acerca da época.
A barca que aparece na
zona esquerda mostra uma das atrações típicas de Veneza e de que ainda hoje em
dia podemos desfrutar: o passeio de gôndola. O gondoleiro que se encontro no
extremo da embarcação está inclinado, a remar.
A casa que está junto ao
canal, na zona esquerda da composição, mostra sinais evidentes de humidade e
daí que, por tal motivo, se possa observar um conjunto de manchas.
A perspetiva criada por
Canaletto nesta obra denota que possui um grande domínio da técnica, a qual
aplicará na maioria das suas paisagens venezianas.
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