Há dois dias, o povo
irlandês aprovou, em referendo, a legalização do casamento entre pessoas do
mesmo sexo, alargando para cerca de duas dezenas os países onde a união entre
casais homossexuais é permitida.
Lentamente os diversos
povos do planeta vão tratando de pôr em lei um direito vedado a muitos milhões de
pessoas em todo o mundo, no entanto ainda há um largo caminho a percorrer,
sobretudo ao nível das mentalidades, para que a homofobia não seja um problema
sério das sociedades modernas.
Facilmente reconhecemos
que todo o ser humano tem direito à sua personalidade e dignidade e que a sua
orientação sexual não deve ser motivo para discriminá-lo, mas, na prática,
muitos de nós continuam a discriminar, ridicularizar e impedir que casais
homossexuais vivam conforme a sua orientação sexual. E isso é absolutamente
inaceitável! Em certos momentos torna-se indigno e desumano, pois a maneira
como certos homossexuais são tratado é de tal forma humilhante e degradante que devia envergonhar toda e qualquer sociedade que pactua com este tipo de realidade.
E este não é um
problema a que não somos alheios. No mesmo dia em que os irlandeses repunham alguma
justiça às suas leis, uma aluna minha escolhia o tema da homofobia como tema da
sua oral. No breve diálogo que manteve no final com os colegas, referiu que
tinha de ponderar bem uma putativa assunção da condição homossexual, pois tinha
fundadas dúvidas sobre a reação dos colegas. Ela não estava disponível para
suportar discriminações e humilhações e por isso achava que poderia ser melhor
manter discreta uma relação homossexual.
Como esta jovem pensam
milhares de pessoas em Portugal, o que se demonstra que a homofobia existe e está
longe de ser residual.
É uma arrogância
inútil, mas perigosa, queremos decidir a vida privada dos outros. Absurdo
invocar argumentos culturais ou tradicionais quando em causa está um bem maior,
como o direito de personalidade e dignidade.
A imposição de padrões
morais é ilógica, pois em todo o mundo homens e mulheres relacionam-se de
diferentes modos. O importante é respeitar os direitos fundamentais do ser
humano e não permitir que aqueles que têm uma visão egocêntrica da vida voem como uma ave de rapina sobre os direitos humanos. Mesmo que a maioria seja heterossexual tem o dever de zelar pelos
direitos daqueles que não o são. E zelar é não discriminar, nas pequenas e nas
grandes coisas.
Muitas vezes,
argumenta-se que a homossexualidade é anti natural e que atenta contra a reprodução. Curiosamente, no passado, já lhe chamaram uma doença, mas, com o tempo, foram polindo
as garras e tornaram-se aparentemente mais controlados nas objeções.
Ora cabe dizer que os
homossexuais não têm nada a opor à existência de heterossexuais, simplesmente têm
uma orientação sexual diferente e querem-na afirmar sem receios. Os
homossexuais fazem perigar tanto a reprodução humana como os padres, as freiras
ou todos aqueles que livremente decidem não ter filhos. Ultimamente o número
tem crescido entre os heterossexuais…
Além disto, o ser humano não se afirma
apenas pelo instinto reprodutor. Os domínios cognitivo e afetivo são património inalienável
da humanidade, que não autorizam argumentos homofóbicos baseados na alegada não
naturalidade da homossexualidade.
A sociedade portuguesa
como a generalidade da sociedade ocidental ainda tem um largo caminho a
percorrer para expurgar a homofobia dos comportamentos sociais. Acho que a
atitude correta não pode ser não tocar neste assunto por ser polémico, mas,
pelo contrário, trazê-lo para o debate público.
Gabriel Vilas Boas
Sem comentários:
Enviar um comentário