Faz
hoje 41 anos que foi instituído o salário mínimo nacional. Na altura fixado em
3300$00, o que corresponderia a cerca de 16,50 euros. No entanto, em 1980, já
tinha crescido duas vezes e meia para cerca de 45 euros. Entre 1980 e 1990
quase que quadruplicou. Curiosamente a meia dessa década Portugal viveu uma
situação de quase bancarrota, com a intervenção do FMI, mas não havia BPN, BES
nem BPP.... Na última década do milénio duplicou, ou seja, de 174 euros, em 1990, passou a 334 euros, em 2001. A partir daí cresceu ao ritmo da teoria da
migalha.
Ao fim
de quatro décadas de salário mínimo nacional, ele continua a ser preciso, mas
continua a ser muito baixo e a não servir de remuneração justa para muito do
trabalho realizado em Portugal.
Infelizmente,
a mentalidade económica do Portugal democrático é pequenina e vive de
expedientes. Depois de todas as teorias económicas terem derrotado a ideia de
que a competitividade económica de um país se faz através de baixos salários, a
solução política adotada por Portugal é aprofundar esse caminho. Já o vínhamos a
seguir mesmo antes da troika ter armado a sua tenda no Terreiro do Paço, mas os
gurus do FMI e do BCE insistiram numa receita que cavou desigualdades e atirou
para a pobreza e a miséria quase 20% da população portuguesa.
O mais
trágico do salário mínimo que temos é que ele é, na prática, inferior àquele que tínhamos
há uma década. O salário mínimo nacional não garante a quem o ganha totais
condições de dignidade, pois não consegue cobrir todas as necessidades básicas
daqueles que o têm como única fonte de rendimento.
Apesar
de tudo isto, o salário mínimo é necessário. Tal não é um contra senso, pois em
Portugal há gente que pagaria menos que isto se a tal não fosse obrigado.
Sei
perfeitamente que um aumento justo do salário mínimo nacional causaria um
impacto assinalável nas contas públicas e privadas, que um país em
convalescença não pode, de momento, suportar. No entanto, esse aumento, para
patamares mais justos (cerca de 600 euros), devia tornar-se numa prioridade político
e económica.
Como
já referi no dia 1 de maio, se não sabemos valorizar corretamente o trabalho,
rapidamente perdemos o norte social. Quando o trabalho não é justamente
remunerado, as pessoas tendem a procurar formas menos lícitas de ganharem o
dinheiro que precisam.
O
salário mínimo nacional não deve deixar de existir, mas deixar de ser tema de
conversa, na medida em que aqueles que o ganham sejam em número tão reduzido que
não tenham expressão social.
Não
podemos, não nos devemos conformar com a ideia de um salário mínimo cada vez
mais mínimo a caminho do miserável.
Gabriel
Vila Boas
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