Em cena desde meados de Fevereiro, “As três (velhas) Irmãs” de Martim Pedroso é uma peça que parte da obra-prima de Tchekhov “As três irmãs”. Como o próprio encenador refere na breve apresentação que faz ao público, esta peça constrói-se a partir da ficção que se faz da peça do dramaturgo russo. Não interessou ao jovem ator e encenador português encenar o original de Tchekhov (já sobejamente conhecido do público que frequenta os teatros) mas obrigar o espetador a refletir sobre problemática do fim de uma sociedade que se cansou de prometer, assim como o fim de todos os ideais e sonhos. A descrença, o medo e a vontade de mudar, são inerentes a estas personagens enquanto ensaiam estratégias de fuga aos problemas das suas vidas.
Ora a atualidade e oportunidade desta peça está precisamente nisto, porque a sociedade ocidental e especialmente a portuguesa vive esta descrença, esta cansaço de promessas, este desencanto com os sonhos que não se cumpriram nem se vão cumprir.
E que faz Martim Pedroso para nos conectar com uma história com mais de um século de vida? Elimina quase todas as referências históricas e geográficas da peça de Tchekhov, retira-lhe até o fio condutor da história e convida três actrizes séniores para vestirem a pele de Olga, Macha e Irina. O objetivo é que representem as heroínas de Tchekhov como se estivessem a falar das próprias vivências. E Graça Lobo, Mariema e Paula Só conseguem isso na perfeição.
O texto escrito por Martim Pedroso consegue o fim pretendido, porque aproxima e confunde atrizes e personagens como se não houvesse fronteiras entre elas, enquanto revisita a história das três irmãs esquecidas numa província russa que ainda ousam sonhar.
Como nós conhecemos alguns retalhos da vida das actrizes em palco é fácil aderirmos à peça e darmos conta dessa nostalgia triste, vencida, conformada que invade a alma das atrizes. Olga, Irina, Macha são apenas um pretexto para ouvirmos as memórias, confissões, fantasias de Graça Lobo, Paula Só e Mariema. Falam delas, mas também falam de nós. Os mais velhos revêem-se, os mais novos pressentem como pode vir a ser. Parece uma peça marcada pela tristeza dos sonhos desfeitos, do desencanto social, no entanto, talvez dela brote algo mais do que a admiração e a gratidão do público para com aquelas grandíssimas atrizes. Graça Lobo, Paula Só e Mariema são uma lição de vida para os mais novos, são a prova de que, como diria Maria Barroso, apesar de todos os revezes da vida, valeu a pena ter vivido, vale a pena ter sonhos e acreditar numa sociedade melhor.
Como muito bem fez notar Martim Pedroso, “através da peça, elas vão conseguindo sobreviver a estes tempos, a esta contemporaneidade tão pouco idealista e sonhadora. A peça é a Bíblia delas, é um acto de fé. É a estratégia que elas encontram para se lembrarem de si mesmas. Do que foram e do que querem vir a ser ainda no futuro. É o paliativo destas atrizes porque elas não querem parar, elas querem continuar a trabalhar para sempre. Querem continuar a amar para sempre”.
O texto escrito por Martim Pedroso consegue o fim pretendido, porque aproxima e confunde atrizes e personagens como se não houvesse fronteiras entre elas, enquanto revisita a história das três irmãs esquecidas numa província russa que ainda ousam sonhar.
Como nós conhecemos alguns retalhos da vida das actrizes em palco é fácil aderirmos à peça e darmos conta dessa nostalgia triste, vencida, conformada que invade a alma das atrizes. Olga, Irina, Macha são apenas um pretexto para ouvirmos as memórias, confissões, fantasias de Graça Lobo, Paula Só e Mariema. Falam delas, mas também falam de nós. Os mais velhos revêem-se, os mais novos pressentem como pode vir a ser. Parece uma peça marcada pela tristeza dos sonhos desfeitos, do desencanto social, no entanto, talvez dela brote algo mais do que a admiração e a gratidão do público para com aquelas grandíssimas atrizes. Graça Lobo, Paula Só e Mariema são uma lição de vida para os mais novos, são a prova de que, como diria Maria Barroso, apesar de todos os revezes da vida, valeu a pena ter vivido, vale a pena ter sonhos e acreditar numa sociedade melhor.
Como muito bem fez notar Martim Pedroso, “através da peça, elas vão conseguindo sobreviver a estes tempos, a esta contemporaneidade tão pouco idealista e sonhadora. A peça é a Bíblia delas, é um acto de fé. É a estratégia que elas encontram para se lembrarem de si mesmas. Do que foram e do que querem vir a ser ainda no futuro. É o paliativo destas atrizes porque elas não querem parar, elas querem continuar a trabalhar para sempre. Querem continuar a amar para sempre”.
Gabriel Vilas Boas
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