Quando
no século VII, os árabes muçulmanos entraram em Palmyra, a cidade das
Palmeiras, as grandiosas ruínas desta urbe, no oásis, colocaram-lhes uma série
de questões.
Quem
edificara tão poderosa arquitetura com as suas numerosas colunas? Acharam que
dificilmente se poderia atribuir a mão humana tão grandiosa obra, daí que se
pensasse no bíblico rei Salomão como construtor, de quem se julgava ter espíritos
demoníacos às suas ordens. Esta crença prolongou-se até ao século XX.
O
Ocidente redescobriu Palmyra por volta de 1620, através do italiano Pietro de
la Valle. A grandiosidade das suas ruínas sempre causou um grande impacto entre
os visitantes, e muitos deles teceram as mais variadas considerações acerca de
como Palmyra havia chegado àquele estado.
Desde
tempos imemoriais que o oásis a que os Árabes chamam Tadmur oferecia uma fonte abundante de água potável, tornando
possível a vida em pleno deserto. E durante o século I a.C., com o poder nas
mãos de abastadas famílias de mercadores, Palmyra ascendeu a um estatuto de
metrópole do deserto. Caravanas de camelos transportavam até aqui mercadorias
da China, Arábia e Índia, e partiam de Palmyra com produtos oriundos de vários
pontos do império romano. Graças aos tributos que lhe era imposto, este rendoso
comércio encheu os cofres da famosa Cidade das Palmeiras.
A
sua riqueza tomou forma numa impressionante arquitetura monumental, que
contrasta com a aridez do deserto circundante, dando-lhe ainda um encanto
suplementar.
Contemplando
o oásis em 1917, o arqueólogo alemão Wiegrand referiu entusiasmado: “Palmyra é
a paisagem heróica mais grandiosa que alguma vez vi na minha vida”.
A
realização arquitetónica mais importante da cidade era o Templo de Baal, um
antigo deus sírio considerado como o senhor dos céus. Esta maravilha da arte
sacra, cuja edificação exigiu mais de um século, era cercada por uma imponente
muralha. Quem a pretendesse contornar teria de percorrer mais de um quilómetro.
No
centro do recinto sagrado erguia-se o templo do deus, construído sobre um pódio
e cercado de colunatas.
Apesar
de a arquitetura seguir o cânone grego, o rito manteve-se estritamente
oriental, representando, de algum modo, a união entre o oriente e o ocidente.
A
grande via de colunas, com a sua porta de arco e o tetrápilo diverge do modelo
greco-romano, devido às suas múltiplas mudanças de direção.
Apesar
da adoção das regras clássicas, os habitantes de Palmyra permitiram-se uma
certa abertura em termos urbanísticos. Templos consagrados a Nabu, deus
mesopotâmico da sabedoria e da arte da escrita, ou a Baal Chamim, integram-se
num reticulado de ruas que seguem o modelo grego.
Fontes
ornamentais, termas e um teatro eram lugares de receção à moda mediterrânea.
Da
“espargata cultural” da cidade de Palmyra no oásis dá testemunho o acampamento
de Diocleciano, na parte oeste da cidade: no centro deste campo bélico com
blocos de casernas, terreiro de paradas e um santuário de militar, erguia-se um
templo dedicado à antiga deusa árabe, Allat.
A
autonomia política foi sempre uma preocupação menor de Palmyra, comparada com a
busca da independência económica. Contudo, depois de se ter separado de Roma, e, mediante campanhas vitoriosas, ter alargado as fronteiras do seu reino até ao
Egito e à Anatólia Central, a rainha Zanóbia reclamou para o filho o título de
imperador romano. A esta reivindicação, Roma respondeu com um contra-ataque: em
agosto de 273, Palmyra foi saqueada e destruída e a poderosa rainha foi feita
prisioneira e levada à força para Roma.
Seguiram-se
centenas de anos de um certo adormecimento, antes de Palmyra se converter, nos
séculos XVIII e XIX, num local de peregrinação para exploradores românticos e
arqueólogos amadores.
Em
1980 as Ruínas de Palmyra, na Síria, foram classificadas como Património da
Humanidade, dada a sua importância como um dos mais relevantes centros culturais
da Antiguidade. Há dois dias, o autoproclamado Estado Islâmico tomou o controle
total de Palmyra, fazendo todo o mundo temer pela integridade de um dos mais
belos e bem preservados tesouros arquitetónicos do Médio Oriente.
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