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domingo, 31 de maio de 2015

A DIMENSÃO SOCIAL DAS TELENOVELAS

Se olharmos para a história da televisão em Portugal nos últimos quarenta anos, reparamos que a telenovela se afirmou como programa âncora de qualquer grelha televisiva, independentemente do canal.
Desde das primeiras telenovelas brasileiras que prendiam ao ecrã pessoas de todas as idades e condições sociais, a telenovela afirmou-se como o entretenimento de todos: de fácil acesso, barato, descontraído e, muitas vezes, educativo. No entanto, parece-me que, apesar de importantes, estas razões não justificam esta longevidade que parece não ter fim à vista. 
O que têm as telenovelas de tão especial que cativam gerações sucessivas, apesar de todas as mudanças sociais e mentais que o país viveu em quatro décadas de democracia?

Na verdade as telenovelas  souberam reinventar-se, evoluíram, aproveitando ao máximo a evolução tecnológica operada. É certo que sempre contaram com alguns argumentos de eleição, capazes, por si só, de manter o espetador preso à trama, mas o grande trunfo foi a proximidade com o espectador. As telenovelas aproximaram-se tantos dos seus clientes que os fizeram decisores da evolução da história, permitindo, em muitos casos, que fosse o espectador a escolher o final da novela e por consequência a mensagem a reter.
Através da telenovela, o espectador sentiu-se, pela primeira vez, parte da ação. Percebendo o filão psicológico que deviam explorar, as produtoras apostaram cada vez mais em histórias que fossem de encontro aos dramas diários dos espectadores.

As telenovelas começaram por explorar temas clássicos: a dicotomia entre amor e carreira, os amores proibidos e perigosos, a luta entre famílias, os dilemas de consciência. Depois evoluíram para a intervenção social mais incisiva trazendo à discussão os temas que apaixonavam a opinião pública num dado momento. Acompanhando a evolução cultural das sociedades, trouxeram para ribalta as diferenças entre culturas, povos e costumes. Obrigaram os espectadores a refletir sobre a homossexualidade, o adultério, o racismo, a homofobia, a exploração do trabalho infantil, a violência doméstica. Neste sentido, as novelas funcionaram um pouco como fóruns de discussão e espelho social.
A qualidade dos atores fez-nos rir, chorar, comover, discutir, duvidar, mudar de opinião como se aquilo que víamos no ecrã fosse a realidade dos nossos dias. E na verdade era! Havia e há tanto de nós, dos nossos vizinhos, dos nossos amigos ou familiares naquelas histórias que nos entra(ra)m, em doses diárias de 30/40 minutos, pela nossa alma adentro.
Sem darmos conta, a telenovela juntava a família ou parte dela, punha quase toda a gente a dizer o que pensava sobre determinado tema, obrigava-nos a ver as razões do outro lado.
Sim, era tudo ficção e os finais eram quase sempre felizes e educativos como não é a vida, mas durante vários meses tudo aquilo era tão real, tão intenso, tão verdadeiro que desejávamos o fim do telejornal para nos ver na televisão sem que ninguém suspeitasse. Nem nós!
Gabriel Vilas Boas

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