No dia em que passam 555 anos desde que Diogo Gomes avistou as ilhas de Cabo Verde, deu-me uma enorme SODADE de Cesária Évora. Fui ouvi-la novamente para perceber melhor a rainha da morna, o nome maior da música de Cabo Verde.
“Quem mostra' bo
Ess caminho longe?
Ess caminho
Pa Sã Tomé
Sodade
Dess nha terra d’Sã Nicolau
Si bô 'screvê' me
'M ta 'screvê be
Si bô 'squecê me
'M ta 'squecê be
Até dia
Qui bô voltá”
Ess caminho longe?
Ess caminho
Pa Sã Tomé
Sodade
Dess nha terra d’Sã Nicolau
Si bô 'screvê' me
'M ta 'screvê be
Si bô 'squecê me
'M ta 'squecê be
Até dia
Qui bô voltá”
Dizem que ninguém canta melhor a saudade que os portugueses, mas Cesária Évora é única a cantá-la com a doçura e a tristeza daquela gente pobre e boa, que vivia (e ainda vive) no eterno dilema do ter que partir e querer ficar. A pobreza da terra que amavam obrigava os cabo-verdenses a buscar sustento noutras paragens, mas as saudades entranhavam-se na alma e sequestravam a alegria inata do africano.
Cesária, essa princesa de pés descalços, por quem a França se apaixonou no final do século passado, teve a infância e a vida de todos os compatriotas – família pobre, dificuldades económicas, alguns desgostos – mas também uma voz divina, que a uns faz chorar docemente e a outros recorda momentos de felicidade primitiva, onde as coisas vinham sempre depois das pessoas.
SODADE é, justamente, o hino não oficial de Cabo Verde, a música que todos trazem na boca porque os acordes lhes saem do coração e da alma. Muitos cantores interpretaram esta SODADE das ilhas do Sal e da Boa Vista, mas nenhum o fez como Cesária.
Quem esteve em Cabo Verde talvez viaje pelas ruas do Mindelo ao ouvir este SODADE de Cesária, talvez reencontre sons, olhos tristes e doces, cheiros que a europa jamais terá…
Para aqueles que apenas têm a música de cantora, que um dia o presidente francês Sarkozy distinguiu com a medalha da Legião de Honra, fica uma música suave, profunda como alma e doce como um beijo.
Gabriel Vilas Boas
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