O que vale o trabalho nos
dias de hoje? Não me refiro ao valor monetário, mas ao estatuto social do
Trabalho.
Quando observo as horas
de intenso labor com que muitos trabalhadores pontuam os seus dias e as comparo
com os parcos euros ou dólares que esses mesmos trabalhadores levam para casa,
não deixo de me interrogar se não estamos a desvalorizar demasiado um dos
valores fundamentais de qualquer sociedade.
A sociedade deve
organizar-se de maneira a remunerar justamente todo e qualquer trabalho. Não é
admissível que quem trabalha oito/dez horas por dia não consiga angaria o suficiente
para viver com dignidade. No entanto, grande parte dos trabalhadores
portugueses e de outros países apenas consegue sobreviver com aquilo que lhe
pagam. Outros nem isso…
Injusto, imoral,
socialmente inaceitável, economicamente discutível, este moderno pensamento da
oligarquia que governa o mundo é também muito perigoso.
Quando os jovens
perceberem claramente que não é pelo esforço, pelo trabalho realizado que
melhoram substancialmente as suas vidas, deixarão de eleger o Trabalho
como um valor referencial e perseguirão outros deuses bem menos recomendáveis.
Como se pode fazer um
trabalhador ter espírito de equipa, ter brio nas tarefas que executa, mostrar
responsabilidade, quando nunca é convidado a sentar-se à mesa dos lucros, os
elogios ficam sempre para os administradores e os problemas que os outros
criaram se resolvem sempre à custa do seu salário?
Há trinta anos, os
empregadores queixavam-se dos trabalhadores faltosos que inventavam doenças
para faltarem ao trabalho. Hoje, os patrões coagem os empregados a fazerem
horas extraordinárias que nunca pensaram em lhes pagar; humilham-nos no dia 1
de maio, obrigando-os a trabalhar a dobrar; não fazem nenhum esforço por manter
os postos de trabalho quando surgem as primeiras contrariedades do mercado. Em
ambos os casos o erro é o mesmo: o Trabalho, enquanto valor âncora duma
sociedade, foi desconsiderado. Depois seguem-se os respetivos acertos de contas
entre agentes que deviam ter confianças uns nos outros e ajudarem-se. E não saímos
desta luta irracional e desgastante.
Valorizar o trabalho é remunerá-lo
justamente; valorizar o trabalho é respeitar as regras previamente acordadas
entre as partes; valorizar o trabalho é fazer todos participarem das perdas e
dos lucros; valorizar o trabalho é entender que quem trabalha tem uma outra
vida (social, familiar, cultural…) além do emprego; valorizar o trabalho torná-lo
num espaço humano; valorizar o trabalho é fazê-lo o último pagador das crises e
o primeiro beneficiário das “retomas”; valorizar o trabalho é perceber que o
trabalhador tem de descansar; valorizar o trabalho é entender que o
investimento deve ter retorno; valorizar o trabalho é fazer do local de
trabalho um espaço plural, livre, solidário.
O Trabalho é um dever e
um direito, não um privilégio nem uma esmola.
Gabriel
Vilas Boas
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