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segunda-feira, 18 de maio de 2015

O REI ROBERTO CARLOS


Por esta hora, Roberto Carlos dá o último dos quatro concertos que programou para esta tournée em Portugal. Com setenta e quatro anos de idade e cinquenta e cinco de carreira, o Rei veio, provavelmente, para se despedir duma enorme legião de fãs que o venera há mais de quatro décadas.
Cresci a ver a geração dos meus pais idolatrar o grande cantor romântico da música brasileira e durante algum tempo olhei para a sua música com algum desdém, próprio de quem considerava todo aquele romantismo das suas letras e músicas ultrapassado e desfasado da realidade das relações entre homens e mulheres.

No entanto, com o passar dos anos, fui-me rendendo a toda a beleza das canções de Roberto Carlos. Como diria Paulo Gonzo, sei, quase de cor, algumas letras das músicas mais emblemáticas e tenho de me vergar perante a poesia e melodia, extremamente sedutoras, que exalam de muitas delas. Roberto Carlos tem uma voz encantadora, cavalheiresca, melodiosa que cativa até quando fala. A sua música chega a todas as classes sociais e a sua qualidade intrínseca acabou por conquistar até aqueles que dela escarneciam à socapa.
De todas as suas músicas, “As Baleias” ocupará sempre um lugar de destaque no meu coração. Pela consciência ecológica que dela emana quando a ecologia nem era tema, pela poesia da letra, pela serenidade e beleza da melodia.
“Como é possível que você tenha coragem
De não deixar nascer a vida que se faz
Em outra vida que sem ter lugar seguro
Te pede a chance de existência no futuro”.



Mas o que faz de Roberto Carlos o Rei é a música romântica que enterneceu, uniu e acasalou milhões de corações ao longo de décadas. Canções como Tudo Pára (E é tão grande o amor que a gente faz/ Que até os absurdos são reais…), Lady Laura(Lady Laura, me leve para casa/ Lady Laura, me conte uma história/ Lady Laura, me faça dormir/ Lady Laura), Emoções (Mas eu estou aqui/ vivendo esse momento lindo/ de frente para você/ e as emoções se repetindo) Cama e Mesa (Eu quero ser sua canção/ Eu quero ser som tom/Me esfregar na sua boca/Ser o seu batton…), Detalhes (Detalhes tão piquenos de nós dois são coisas muito grandes para esquecer, e a toda hora vão estar presentes, você vai ver…) fazem-nos perceber toda a excelência do romantismo das canções de Roberto Carlos. Todavia, ele vai muito para além desse romantismo, pois também toca outro tipo de relações humanas, como aquelas que temos com os nossos pais, em “Meu Pai, Meu Velho, Meu Amigo”.



Há ainda o Roberto Carlos profundamente religioso que celebrizou Jesus Cristo, Jesus Cristo, eu estou aqui ou Nossa Senhora.
Temos ainda o Roberto Carlos brincalhão e bem-disposto, apitando ao volante do seu Calhambeque ou alguém que canta coisas tão fabulosas que saem do Fundo do Meu Coração (Vi todo o orgulho em sua mão,/Deslizar, se espatifar no chão/ Vi o meu amor tratado assim/ Mas basta agora o que você me fez/ Acabe com essa droga de uma vez, /Não volte nunca mais para mim). Descobri esta extraordinária canção numa interpretação excecional de Adriana Calcanhotto, que recomendo a todos ouvirem, pelo menos, uma vez.
Roberto Carlos está a despedir-se dos fãs que tem espalhados pelo mundo. Infelizmente, não consegui ainda vê-lo ao vivo, mas a sua música conquistou-me. 
Com a sabedoria das coisas grandes e belas, as canções de Roberto Carlos fizeram felizes milhões de pessoas, transmitindo o que de melhor a vida tem: o amor, a paz, a concórdia e a gratidão pelo enorme prazer que é viver.
Gabriel Vilas Boas

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