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terça-feira, 5 de maio de 2015

LEANDRO, O REI DA HELÍRIA


Hoje levei os meus alunos do 7.ºano a assistir à peça de Alice Vieira “Leandro, O Rei da Helíria”, levada à cena pela companhia Cultural Kids.
Trata-se de uma história simples e fascinante que nos permite refletir sobre o Amor, a Riqueza, a Ambição e o Poder.
Alice Vieira escreveu este texto dramático a partir de um conto popular de Teófilo Braga sem deixar de ter em conta, também, a imortal obra de Shakespeare, “Rei Lear” (uma tragédia em que se representa o enlouquecimento de um rei que legou, insensatamente, o seu reino a duas das três filhas.).
Na peça da escritora portuguesa, o velho rei da Helíria conta ao seu fiel bobo (que em toda a peça funciona muito mais como confidente e fiel amigo do que como bobo) o inquietante sonho que tivera e onde perdia coroa, trono e reino.

Incapaz de perceber quanto o sonho tinha de premonitório, Leandro assistiu à luta das duas filhas mais velhas pela sucessão do trono. E a sua cegueira de pai impossibilitou-o de ver a dissimulação, a perfídia, o casamento sem amor que cada uma procurava. Cego perante os defeitos de Amarílis e Hortênsia. Leandro também não soube entender o Amor que brotava do coração da mais nova, Violeta.
Um rei concentrado apenas na riqueza material e tangível é um rei perdido. Sem habilidade para decifrar sonhos, também não percebeu quanto Amor brotava da boca de Violeta quando esta lhe disse que “lhe queria tanto quanto a comida quero sal”. O amor está nas coisas pequenas e aparentemente insignificantes, mas o soberano nada percebia acerca do Amor e expulsou a filha, ao julgar-se desconsiderado por tal comparação.

Leandro atribuiu o seu reino a Amarílis e a Hortênsia, em partes iguais, e deu-se o esperado: em pouco tempo as amadas filhas e os ambiciosos genros mostraram quanto o desprezavam. Rapidamente passou de rei a mendigo, ficando apenas com o seu fiel bobo como amparo.
Helíria haveria de se consumir e desaparecer nesta luta fratricida e Leandro andou errando, cego, pelo mundo, até que o destino o levou ao reino de Violeta e Reginaldo, para aprender a mais importante e simples das lições: o Amor. Aquele que se encontra nas coisas pequenas, como o sal, aquele que perdoa sempre como Violeta, aquele que se torna coroa, trono e reino que todos querem (e podem) possuir.

A Cultural Kids fez uma encenação fiel ao texto e à mensagem, introduzindo alguns laivos de modernidade através da ligação, via Skype, a William Shakespeare, que interrompeu a peça algumas vezes, para deixar comentários certeiros, humorados e reveladores da conexão desta peça com a tragédia “Rei Lear”.

O trabalho dos atores Anabela Santos, André Louro, Bruno Martelo, Jorge Neto, Pedro Cardoso, Pessoa Júnior, Sofia Brito, Sónia Aragão e do encenador John Mowat mereceram o aplauso de toda a sala do Teatro Sá da Bandeira, hoje repleta de adolescentes, ávidos de ver as palavras ganharem vida, coração e alma, em palco.
Gabriel Vilas Boas

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