Hoje levei os meus
alunos do 7.ºano a assistir à peça de Alice Vieira “Leandro, O Rei da Helíria”,
levada à cena pela companhia Cultural Kids.
Trata-se de uma
história simples e fascinante que nos permite refletir sobre o Amor, a Riqueza,
a Ambição e o Poder.
Alice Vieira escreveu
este texto dramático a partir de um conto popular de Teófilo Braga sem deixar
de ter em conta, também, a imortal obra de Shakespeare, “Rei Lear” (uma
tragédia em que se representa o enlouquecimento de um rei que legou,
insensatamente, o seu reino a duas das três filhas.).
Na peça da escritora
portuguesa, o velho rei da Helíria conta ao seu fiel bobo (que em toda a peça
funciona muito mais como confidente e fiel amigo do que como bobo) o
inquietante sonho que tivera e onde perdia coroa, trono e reino.
Incapaz de perceber quanto
o sonho tinha de premonitório, Leandro assistiu à luta das duas filhas mais
velhas pela sucessão do trono. E a sua cegueira de pai impossibilitou-o de ver
a dissimulação, a perfídia, o casamento sem amor que cada uma procurava. Cego
perante os defeitos de Amarílis e Hortênsia. Leandro também não soube entender o Amor
que brotava do coração da mais nova, Violeta.
Um rei concentrado
apenas na riqueza material e tangível é um rei perdido. Sem habilidade para
decifrar sonhos, também não percebeu quanto Amor brotava da boca de Violeta
quando esta lhe disse que “lhe queria tanto quanto a comida quero sal”. O amor está
nas coisas pequenas e aparentemente insignificantes, mas o soberano nada
percebia acerca do Amor e expulsou a filha, ao julgar-se desconsiderado por tal
comparação.
Leandro atribuiu o seu
reino a Amarílis e a Hortênsia, em partes iguais, e deu-se o esperado: em pouco
tempo as amadas filhas e os ambiciosos genros mostraram quanto o desprezavam.
Rapidamente passou de rei a mendigo, ficando apenas com o seu fiel bobo como
amparo.
Helíria haveria de se
consumir e desaparecer nesta luta fratricida e Leandro andou errando, cego,
pelo mundo, até que o destino o levou ao reino de Violeta e Reginaldo, para aprender
a mais importante e simples das lições: o Amor. Aquele que se encontra nas
coisas pequenas, como o sal, aquele que perdoa sempre como Violeta, aquele que
se torna coroa, trono e reino que todos querem (e podem) possuir.
A Cultural Kids fez uma
encenação fiel ao texto e à mensagem, introduzindo alguns laivos de modernidade
através da ligação, via Skype, a William Shakespeare, que interrompeu a peça
algumas vezes, para deixar comentários certeiros, humorados e reveladores da
conexão desta peça com a tragédia “Rei Lear”.
O trabalho dos atores
Anabela Santos, André Louro, Bruno Martelo, Jorge Neto, Pedro Cardoso, Pessoa
Júnior, Sofia Brito, Sónia Aragão e do encenador John Mowat mereceram o aplauso
de toda a sala do Teatro Sá da Bandeira, hoje repleta de adolescentes, ávidos
de ver as palavras ganharem vida, coração e alma, em palco.
Gabriel Vilas Boas
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