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domingo, 27 de setembro de 2015

O PRINCÍPIO DO FIM DA ESPANHA?




Há minutos as urnas fecharam na Catalunha e as primeiras projeções de resultados dão às forças políticas que defendem o começo do processo de separação da Catalunha de Espanha uma maioria, mas não absoluta. Para fazer avançar o processo como pretende, Artur Mas, provavelmente, terá de se coligar com a extrema-direita catalã.
Para mim, a questão fundamental que este processo põe a claro é que para os catalães a questão da separação/independência não é para adiar mais!
Atropelando a Constituição espanhola, acordos e ameaças, Artur Mas conseguiu que a Espanha e a Catalunha se olhem finalmente olhos nos olhos.

Por regra, sou favorável a que qualquer povo com língua, identidade, cultura e territórios próprios decida se quer permanecer ou não como região de um país. Também acho de muito mau tom estar a tecer considerações valorativas sobre uma votação. Garantidas as condições de democraticidade, o resultado de umas eleições é sempre bom. Goste eu muito ou muito pouco deles.
Reconheço aos catalães o direito de quererem abandonar a Espanha, mas não lhes reconheço o direito de imporem condições. Querem ir embora? Pois que vão, mas assumindo as responsabilidades dos seus atos.

Obviamente fora do euro, obviamente fora da União Europeia; obviamente pagando taxas alfandegárias para a entrada e circulação dos seus bens; obviamente construindo o seu próprio sistema judicial e de saúde públicos; obviamente pagando as suas dívidas e criando os seus próprios bancos. Obviamente assegurando as reformas dos seus cidadãos (aquelas que já se encontram a pagamento e aquelas que ainda o serão).
Obviamente começando do zero como qualquer um! Pedindo para entrar nas várias instituições europeias e esperando vez, como os outros esperaram!
Se os catalães amam assim tanto a sua independência, a sua cultura, a sua língua, não se importarão que os grandes bancos europeus vão fazer negócio para outro lado, que o seu querido F. C. Barcelona não jogue o Campeonato Espanhol de Futebol (não faria qualquer sentido) e de esperar alguma duvidosa alteração especial para competir na Liga dos Campeões; que a sua moeda desvalorize como outra qualquer fora do euro.
Era isto que Artur Mas devia ter dito de forma clara ao povo catalão. E quando lhes disse que não haveria retorno devia ter esclarecido que que isso queria dizer “não a haverá lugar a qualquer desculpem lá, mas queremos voltar para Espanha”.

Se a clara maioria dos catalães, que votou hoje no sim, quer ISTO e outras minudências não despiciendas, encantado da vida! A luta vai ser longa, mas estou do seu lado.
Infelizmente acho que aquilo que une muita gente à volta do nacionalismo catalão é mais o ódio a Madrid, ao seu poder, à maneira autoritária como sempre lho esfregaram na cara. Ora isso não é suficiente. Nenhum país se pode alicerçar no ódio nem na geometria dos interesses.
Madrid gosta muito da Catalunha dentro de Espanha porque esta é riquíssima. Fosse esta pobre e já o Rei e o Primeiro-Ministro tinham desistido de lutar pela união.
Talvez a Catalunha acabe por capitular como o Syriza o fez na Grécia, mas a Espanha terá sempre o seu Cavalo de Tróia na Catalunha, à espera que o poder central dormite profundamente.
 Gabriel Vilas Boas 

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