Há minutos as urnas
fecharam na Catalunha e as primeiras projeções de resultados dão às forças
políticas que defendem o começo do processo de separação da Catalunha de
Espanha uma maioria, mas não absoluta. Para fazer avançar o processo
como pretende, Artur Mas, provavelmente, terá de se coligar com a
extrema-direita catalã.
Para mim, a questão
fundamental que este processo põe a claro é que para os catalães a questão da
separação/independência não é para adiar mais!
Atropelando a
Constituição espanhola, acordos e ameaças, Artur Mas conseguiu que a Espanha e
a Catalunha se olhem finalmente olhos nos olhos.
Por regra, sou favorável a que qualquer povo
com língua, identidade, cultura e territórios próprios decida se quer permanecer
ou não como região de um país. Também acho de muito mau tom estar a tecer
considerações valorativas sobre uma votação. Garantidas as condições de
democraticidade, o resultado de umas eleições é sempre bom. Goste eu muito ou
muito pouco deles.
Reconheço aos catalães
o direito de quererem abandonar a Espanha, mas não lhes reconheço o
direito de imporem condições. Querem ir embora? Pois que vão, mas assumindo as
responsabilidades dos seus atos.
Obviamente fora do
euro, obviamente fora da União Europeia; obviamente pagando taxas alfandegárias
para a entrada e circulação dos seus bens; obviamente construindo o seu próprio
sistema judicial e de saúde públicos; obviamente pagando as suas dívidas e
criando os seus próprios bancos. Obviamente assegurando as reformas dos seus
cidadãos (aquelas que já se encontram a pagamento e aquelas que ainda o serão).
Obviamente começando do
zero como qualquer um! Pedindo para entrar nas várias instituições europeias e
esperando vez, como os outros esperaram!
Se os catalães amam
assim tanto a sua independência, a sua cultura, a sua língua, não se importarão
que os grandes bancos europeus vão fazer negócio para outro lado, que o seu
querido F. C. Barcelona não jogue o Campeonato Espanhol de Futebol (não faria
qualquer sentido) e de esperar alguma duvidosa alteração especial para competir
na Liga dos Campeões; que a sua moeda desvalorize como outra qualquer fora do
euro.
Era isto que Artur Mas
devia ter dito de forma clara ao povo catalão. E quando lhes disse que não
haveria retorno devia ter esclarecido que que isso queria dizer “não a haverá
lugar a qualquer desculpem lá, mas
queremos voltar para Espanha”.
Se a clara maioria dos
catalães, que votou hoje no sim, quer ISTO e outras minudências não despiciendas,
encantado da vida! A luta vai ser longa, mas estou do seu lado.
Infelizmente acho que
aquilo que une muita gente à volta do nacionalismo catalão é mais o ódio a
Madrid, ao seu poder, à maneira autoritária como sempre lho esfregaram na cara.
Ora isso não é suficiente. Nenhum país se pode alicerçar no ódio nem na
geometria dos interesses.
Madrid gosta muito da
Catalunha dentro de Espanha porque esta é riquíssima. Fosse esta pobre e já o
Rei e o Primeiro-Ministro tinham desistido de lutar pela união.
Talvez a Catalunha
acabe por capitular como o Syriza o fez na Grécia, mas a Espanha terá sempre o
seu Cavalo de Tróia na Catalunha, à espera que o poder central dormite profundamente.
Gabriel Vilas Boas
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