Os media são o maior
poder dos tempos modernos. São eles que impõem a agenda política, social e
cultural. Ajudam a criar mentalidades in, destroem e constroem estrelas com uma
facilidade assustadora.
O poder dos jornais,
televisões e sítios da internet começou quando os poderes clássicos deixaram de
fazer o seu trabalho e criaram um vazio que os media souberem aproveitar e
capitalizar. Rapidamente os jornais e as televisões apareceram aos olhos da
opinião pública como os guardiões do templo; os únicos capazes de defender os
fracos, os oprimidos, aqueles que não têm voz. Inebriados pela sua elevada
missão, rapidamente passaram de advogados de defesa a acusadores e, finalmente,
a implacáveis julgadores.
Respaldados na opinião
pública que formataram, passaram a condicionar toda ação daqueles que decidem,
mandam ou detêm o poder.
O grande erro foi que o
fizeram sem alma, sem convicção nem rigor. O barulho das luzes ativou a vaidade
mediática de muitos jornalistas que escolhem uma determinada causa social para
cavalgar, apenas porque esta lhes aumenta o share; resolvem atacar determinado
político ou figura mediática, porque eles decidiram que ele é culpado. São eles
que apresentam a acusação e que o julgam sumariamente nos telejornais, nos
programas de debate, na direção que imprimem às reportagens.
Além da impressionante
parcialidade e falta de rigor jornalístico com que tratam os factos, o que mais
me revolta é o desprezo com que abandonam causas sociais ou o caso particular
de um qualquer cidadão que antes fora apresentado como emblemático.
Os juízes sempre se
queixaram dos media, referindo que o
tempo da justiça não era o mesmo que o tempo mediático, todavia a classe
jornalística sorria com desdém e assobiava para o lado, tratando de fazer a
justiça que lhe convinha.
O grande problema é que
qualquer questão precisa de tempo para ser bem resolvida. Não apenas na justiça
como também na educação, na economia, na agricultura, na administração pública.
Ao exigirem ações concretas para ontem, os media estão apenas a contribuir para
que elas não se resolvam ou fiquem mal solucionadas.
O tempo mediático é
aquele fazedor de obra pública que esburaca as ruas das nossas cidades, começa
a reabilitação urbana ou lança uma qualquer obra de grande envergadura, mas que
ao primeiro contratempo se desinteressa e deixa tudo numa grande trapalhada,
bem pior do que estava. O tempo mediático é absolutamente interesseiro e cruel.
Expõe o problema, lança as acusações, dá a sua sentença sobre os factos e parte
para “outra”, porque aquela bomba jornalística já deu as audiências que tinha a
dar. Entretanto, a desorganização causada deixa o cidadão com um problema maior
do que aquele que tinha.
Os políticos já
perceberam como funcionam estes novos polícias da coisa pública e adaptaram a
sua inação ao estilo. A sua pseudo ação segue as vagas informativas. Se o
problema for profundo e de difícil resolução, há que marcar umas reuniões para
discutir o problema, fingir que se está a estudar a solução e, sobretudo,
esperar que o tempo mediático passe e a questão esgote o interesse para os
jornalistas. Obviamente, eles sabem que tudo ficará igual ou até pior, mas
também sabem que não haverá mais debates na imprensa porque o tema murchou.
As populações ficam
então como sempre estiveram: sós! E depois nem se podem queixar que a imprensa
não tentou ajudar.
O tempo mediático anda
a tirar-nos o discernimento necessário para resolvermos os nossos problemas
coletivos e contribui para que nos andemos a enganar uns aos outros.
Gabriel Vilas Boas
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