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quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A SOLIDARIEDADE É A VOZ DA HUMANIDADE


Há uns meses, toda a europa pode exercer a solidariedade que mais gosta: a das palavras. Aconteceu quando o jornal satírico francês Charlie Hebdo foi decapitado barbaramente. Agora é preciso passar das palavras aos atos e acolher centenas de milhares de pessoas que fugiram à guerra, arriscando as suas vidas, para chegar até solo europeu.
Não são ricos, não têm uma mentalidade europeia nem professam uma religião muito bem vista na europa, no entanto são seres humanos. E é de humanidade que trata a solidariedade.

A razão por que os devemos acolhê-los é tão-somente a mais básica e elementar condição que partilhamos com eles. Obviamente não se meteram num bote para atravessar o mediterrâneo e depois a europa para nos violentar, catequizar ou ficar com os nossos recursos. Passámos anos a acusar tantos povos asiáticos africanos de usarem a venda ideológica que os seus líderes políticos e religiosos lhes colocavam, mas hoje somos nós que não percebemos a xenofobia, o sectarismo, os estereótipos em que caímos.

Desconheço quem nos fez assim tão desumanos, mas isso é um problema menos urgente. A questão fundamental é que quem quer ajudar, quem quer receber o sírio ou o líbio o possa fazer sem constrangimentos ou remoques do vizinho, acusando-o de oportunismo e exibicionismo.
É certo que o estrangeiro que agora suplica a nossa solidariedade é tão merecedor dela como o indigente por que passámos ontem, a velhinha do 2.º esquerdo ou a mãe com filhos de colo e sem recursos para os alimentar, mas convém não esquecer que a solidariedade é um ato livre, espontâneo e que deve partir do nosso coração. Ninguém é obrigado nem constrangido a tornar-se solidário, até porque isso não resultaria em solidariedade nenhuma.
Se a pessoa que conhecemos a todo o tempo egoísta quer agora ajudar, devemos apoiá-la sem a criticar. Normalmente, as motivações de cada pessoa são as linhas tortas por onde escrevem os mais belos poemas das suas vidas. Para muitos portugueses e europeus, este será um momento marcante na sua vida, pois irá descobrir-se descobrindo o outro, a sua cultura, a sua mentalidade.
Obviamente que nem tudo correrá bem, pois todas as rosas têm espinhos, todavia este é um trabalho que tem de ser feito. Das poucas coisas boas que Angela Merkel fez ultimamente foi perceber isto. É certo que a traumatizante experiência de uma alemã de leste deve ter ajudado, mas é de louvar a sua atitude-locomotiva, em contraste com as vergonhosas palavras David Cameron e as titubeantes atitudes do presidente francês, François Hollande.
A solidariedade não se mede aos palmos nem às nacionalidades. Quem a quer praticar, pratica-a, quem não quer, está calado. Caso contrário, dá mais trabalho que o refugiado!

Gabriel Vilas Boas

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