Há poucas horas foram
publicados os resultados das candidaturas dos alunos que concluíram o ensino
secundário, às várias faculdades das universidades públicas portuguesas. Para
mais de quarenta mil jovens, este é um momento único e especial nas suas vidas.
A entrada na
universidade é um marco, um momento de passagem e de viragem na vida de cada
jovem, que estes perspectivam risonha, por é chegado o momento de concretizar
todos os sonhos atravessados na memória e escondidos no coração.
A entrada na
Universidade não representa apenas a definição mais clara do que farão
profissionalmente no futuro, mas também a experiência da liberdade e da
responsabilidade longe dos pais.
Poder decidir o que
fazer com o imenso tempo livre que sobra das aulas e do estudo sem ter que dar
explicações nem sentir restrições baila na cabeça de milhares de rapazes e
raparigas como uma atração irresistível.
A universidade, os
novos professores, os colegas de todos os sítios, a cidade nova e desconhecida
que os acolherá, são sentidos, por todos, como um upgrade na vida de cada
caloiro.
Estão felizes!
Inocentemente felizes, mas felizes e é bom que vivam plenamente esse tempo de
gostosa ilusão. A ilusão de que com eles será diferente, pois são especiais. E
são-no. Cada ser é único e irrepetível… no entanto não tão único e especial
como pensa. Daqui por um ano verão este momento sem a salutar embriaguez da
ilusão. É um processo necessário para o crescimento pessoal e geracional.
Por falar em geração,
os dados publicados nos jornais desta manhã dizem-me que estamos pouco
diferentes do tempo em que eu próprio entrei na universidade. Os cursos de
Medicina parecem feitos apenas para alunos estratosféricos; as escolhas dos
alunos seguem a tendência da oferta pública de emprego; as universidades do
interior têm dificuldade em captar alunos; os melhores alunos do secundário
optam cada vez mais por uma seleção monolítica e materialista. Onde para a
paixão de seguir uma vocação, um sonho?
Apesar desta tendência
há ainda coisas que me surpreendem: os cursos de enfermagem estão, desde já
completamente, cheios, embora no último ano seis enfermeiros por dia tenham
sido obrigados a emigrar por falta de oferta de emprego digna.
Outro dado que me
chamou a atenção foi o de apenas metade dos candidatos ter obtido colocação na
sua primeira prioridade, o que sugere que o futuro profissional desta geração
começa por ser logo uma segunda escolha. Não tem que ser necessariamente maus,
mas não é um bom indicador
Sem qualquer indicador,
número ou estatística, não quero deixar de lembrar a imensa legião dos excluídos do
ensino superior, ou seja aqueles que por razões económicas (pais no desemprego
ou com baixos rendimentos) abandonaram precocemente o sonho de fazer um curso
superior. São milhares. E este é um dia silencioso e triste. Para eles não
houve sequer a oportunidade de ilusão.
Gabriel Vilas Boas
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