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domingo, 20 de setembro de 2015

AMIGO DE PENICHE



Regresso hoje a um tema que me agrada muito: as expressões idiomáticas do português.
Hoje resolvi explorar “Amigo de Peniche”. Como muitos saberão o “amigo de Peniche” é um amigo falso, traiçoeiro, em que não se pode confiar.
Obviamente, os naturais de Peniche não têm lá muita simpatia por esta expressão, que tem tanto de histórica como de injusta.

Em 1579, o rei D. Sebastião desapareceu na batalha de Alcácer Quibir, em Marrocos, e deixou o reino sem sucessor. O parente mais próximo era o cardeal D. Henrique (tio do desaparecido) que foi aclamado rei dias depois. Todavia, o cardeal já tinha uma idade muito avançada e vínculo religioso, ou seja, não tinha filhos nem maneira de os arranjar, o que criava um grave problema à sucessão, como se veria um ano depois. Em 1580, o cardeal morreu e vários candidatos perfilaram-se à sucessão, mas a disputa resumiu-se a três candidatos: Filipe II (rei de Espanha e neto de D. Manuel I de Portugal), Dona Catarina de Bragança (neta de D. Manuel I) e D. António Prior do Crato (também neto de D. Manuel I). D. Filipe II ganhou vantagem e arrebatou a coroa, depois da invasão do exército castelhano ter aberto o caminho para o trono.
D. António ficou furioso e pediu ajuda a Isabel, a suposta rainha virgem de Inglaterra. Isabel emprestou uma armada de cerca de vinte mil homens e cento e sessenta navios. Aos comandos desses navios, o general John Norris desembarcou na praia sul de Peniche a 26 de maio de 1589. Começou então a marcha terrestre rumo a Lisboa, ao mesmo tempo que a esquadrada que desembarcara em Peniche navegava rumo a Cascais.
As notícias chegaram depressa a Lisboa: «Vêm aí os nossos amigos… os amigos que desembarcaram em Peniche». Ou seja, os amigos que libertariam os portugueses do jugo dos espanhóis.
O problema foi que D. António Prior do Crato acabou traído pelo avanço do exército britânico em direção a Lisboa e que durante essa viagem acabou por devastar e pilhar as terras por onde passava. Foram recebidos pelos canhões do Castelo de São Jorge…. John Norris ficou muito surpreendido porque ninguém lhe tinha falado em combates, mas antes em grandes festejos pela chegada dos ingleses. Após várias mudanças de acampamento, o grupo de soldados britânicos retirou-se de Lisboa. Dentro das muralhas, a incógnita cresceu e todos perguntavam: “Mas, afinal, quando chegam os nossos amigos de Peniche?» Acabariam por nunca chegar, desapontando D. António e os seus apoiantes.
Afinal, os amigos de Peniche não nasceram em Peniche, mas em Inglaterra, mas ninguém resolve esta “falsidade” aos de Peniche!

3 comentários:

  1. Artigo muito interessante, no entanto tem uma pequena incorreção... D. Catarina de Bragança, pretendente ao trono, era neta de D. Manuel I e casada com D. João, Duque de Bragança. D. Catarina de Bragança, infanta de Portugal que casou com o rei Inglês Charles II, era sua bisneta, já que D. João IV, o fundador da Casa de Bragança, era seu neto.

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    1. Pois tem absoluta razão. Obrigado pelo reparo. vou retificar o erro.

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  2. A neta Dona Caterina , casou com Dom João 6 Duque de Bragança , e não Dom João Quarto Rei de Portugal , 8 Duque de Bragança , Felipe 2 de Espanha tinha direito ao trono Portuguez , por ser filho Dona Isabel de Portugal e Dom Carlos 5 Imperadores os dois ,

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