Ontem Sérgio Godinho fez setenta anos. Uma bonita idade, principalmente para quem continua a encher palcos, como aconteceu durante este verão, quando percorreu Portugal em dezenas de espetáculos, em parceria com Jorge Palma.
Grande parte de admiração que nutro por este cantor resulta de ser ele o autor e compositor de alguns dos êxitos que marcaram indelevelmente a história da música portuguesa como “Com Um Brilhozinho Nos Olhos”, “É Terça-Feira”, “O Primeiro Dia”. A ele se deve a conjugação perfeita entre ideia musical e letra, criando músicas que nos cairam no goto para sempre.
Sérgio Godinho foi muito influenciado pelo Maio de 68, em Paris, e por José Mário Branco, seu primeiro companheiro de estrada e de aventuras musicais. A sua participação em “Mudam-se Os Tempos, Mudam-se as Vontades” foi o empurrão decisivo para se lançar no mundo da música. E os primeiros dez anos foram fabulosos, pois datam desse tempo especial, na História de Portugal, os seus grandes êxitos.
Sérgio Godinho soube interagir de modo inovador com o regresso de Portugal a tempos de democracia e de liberdade, lembrando que os sonhos de tanto tempo em angústia, ao mesmo tempo que explorava a seu modo temáticas eternas como o amor.
Um dos aspetos das músicas de Sérgio Godinho que mais prendiam a minha atenção era o ritmo. A maneira como conjugava versos longos e curtos, o número de palavras que conseguia meter num determinado compasso ou a relação perfeita que estabelecia entre ritmo e rima tornavam gostosas as suas músicas.
Por outro lado o compositor-poeta soube sempre não se fechar na sua redoma, abrindo horizontes através do teatro e do cinema (outras das suas paixões) e de parcerias com cantores de diferentes espectros musicais. Se José Mário Branco é a primeira e angular pedra da sua longa carreira, Fausto, Jorge Palma, Da Weasel, Manuela Azevedo, Tito Paris, Tim são parceiros relevantes de quase cinquenta anos de carreira musical, sem fim à vista.
Enquanto houver “aquele brilhozinho nos olhos” que a paixão pela música transporta, amanhã será sempre o primeiro dia do resto de uma vida feita de canções cheias de vida.
Gabriel Vilas Boas
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