Trata-se de uma
expressão que nos habituamos a ouvir e a ler nos mais variados contextos, mas
nem todos saberão as suas nobres origens. O seu criador foi Fernando Pessoa,
mas o célebre poeta não a inseriu em nenhum poema ilustre, mas antes a transformou
em slogan publicitário para a Coca-Cola.
É verdade, além de
poeta, filósofo, jornalista, Fernando Pessoa também trabalhou como criador
publicitário. Na década de 1920, ao serviço da agência “Hora” criou este “Primeiro
Estranha-se, Depois Entranha-se”, que se tornaria num dos slogans publicitários
mais conhecidos do século XX em Portugal.
No entanto, a Coca-Cola
não viria a tirar grande partido deste momento de inspiração do poeta
dos heterónimos, porque rapidamente ficou interdita no nosso país, por
alegadamente se tratar de um produto suscetível de criar habituação.
O médico Ricardo Jorge
(esse mesmo que deu o nome ao Instituto Ricardo Jorge), na qualidade de Diretor
de Saúde de Lisboa, mandou apreender todas as garrafas de coca-cola que já circulavam
no mercado. Para o doutor Ricardo Jorge, o grande problema da coca-cola é que
tinha coca no nome e “coca” era a planta donde se extraía a cocaína.
A proibição da
coca-cola baseava-se em dois argumentos algo contraditórios: o refrigerante não
podia ser vendido porque podia intoxicar os consumidores…. Por outro lado, se o
produto não tinha coca (como defendiam os seus vendedores), então anunciá-lo
com essa palavra no nome seria, no mínimo, publicidade enganosa. Para quem mandava,
estas eram razões mais do que suficientes para impedir que a coca-cola fosse comercializada.
O slogan de Fernando
Pessoa ficou, no entanto, para a posterioridade, passando a ser usado em
diversas ocasiões com propriedade e elegância literária. No fundo, Pessoa só
antecipou o êxito que a coca-cola teve em Portugal, quando a 4 de julho de
1977, foi finalmente permitida em garrafas de vidro de 20 cl.
Não sabemos ao certo se ao escrever “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”, o poeta se referia
à bebida ou à cocaína que supostamente conteria, mas o que é certo é que a
expressão se aplica ainda hoje a tudo o que, causando primeiro uma estranheza,
depressa se torna familiar… mas não obrigatoriamente uma dependência.
Sou honesto bastante para assumir a minha ignorancia até aos dias de hoje, quanto à frase em questão e do seu autor.
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