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quinta-feira, 17 de setembro de 2015

CENTRO HISTÓRICO DE SÃO SALVADOR DA BAHIA


O maior e o mais valioso (do ponto de vista arquitetónico) conjunto barroco da América Latina é simultaneamente um baluarte da música afro-americana. Mas a terra que viu nascer Jorge Amado é muito mais que isso: é um local exótico, mágico, depravado como nenhum outro do país do carnaval.
São Salvador da Bahia, mais propriamente o seu centro histórico, é  Património da Humanidade há trinta anos. Ninguém o descreveu de maneira tão certeira e naturalista como Jorge Amado como também ninguém o cantou com tanto humor como Dorival Caymmi
“Quem não gosta de samba
Bom sujeito não é
É ruim da cabeça
Ou doente de pé.”

Uma das peculiaridades arquitetónicas de São Salvador são as suas 170 igrejas, uma boa parte delas pré-fabricadas em Portugal. Isto acontecia porque os galeões que viajavam de Portugal em direção à terra de Vera Cruz seguiam quase vazios de mercadorias e por isso os blocos de pedra cuidadosamente numerados e as estátuas de mármore eram bem acolhidos a bordo.
Mesmo ao lado dos embarcadouros do porto, ainda hoje pitorescos, encontra-se uma pérola arquitetónica – a Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, com as suas duas torres e uma invulgar pintura do teto, usando a técnica do trompe l’oeil. A uma distância de poucos metros deparamo-nos com outro chamariz da Cidade Baixa – o Mercado Modelo, hoje gigantesca feira de artesanato. Nas imediações e ao longo do dia, jovens negros fazem demonstrações de capoeira, empolgante dança marcial criada pelos primeiros escravos trazidos para o Brasil, a fim de se defender da prepotência dos feitores e da polícia.
Íngremes ladeiras levam-nos à Cidade Alta, zona mais atraente, e onde se situam museus e palácios, mas quase todos os turistas preferem usar o “Elevador Lacerda”, inaugurado em 1930, e dirigir-se para o Largo do Pelourinho, construído em plano inclinado, e cujo nome vem dessa estaca de pedra onde se acorrentavam escravos. Nele eram açoitados e expostos durante dias inteiras por ofensas de pouca monta.
Quando, nos dias de hoje, as famosas bandas afro-brasileiras Oludum ou Timbalada, com os seus oitenta ou mais percussionistas, fazem vibrar noite adentro, o vizinho Museu Jorge Amado, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e outras mansões coloniais, quase poderíamos pensar que estávamos num qualquer lugar de África.

Após vasta operação de restauro nesta praça, brota no Pelourinho uma espécie de revolução cultural afro-brasileira: cultos e ritos oriundos de África como o candomblé e a umbanda animam o seu quotidiano. Muito visitada é também a catedral erguida no século XVII, assim como a antiga Igreja do Colégio dos Jesuítas, com os altares laterais e pinturas sacras de minucioso labor. Aqui, o espaço interior transmite uma sensação de austeridade e frieza, contrastando com a vizinha Igreja dos Franciscanos. Nesta, a talha integralmente revestida a ouro e uma infinidade de anjinhos nus e figuras de santos fazem dela a mais exuberante igreja barroca brasileira.
“Toda a sensualidade do barroco encontra aqui a sua expressão”, constata o especialista salvadorenho, Carlos Ott, “e não era fácil pregar a moderação nos púlpitos.” 
Grandes murais de azulejos ilustrando temas religiosos, mas também filosófico-éticos ornamentam o claustro do Convento do Franciscanos. Neste monumento de arte sacra não se podem ignorar os aforismos latinos sobre os valores e a moral, a inconstância e a paixão.

A mais popular e mais celebrada igreja de Salvador é a Igreja de Nosso Senhor Bom Jesus do Bonfim, à noite iluminada com colorido de gosto duvidoso e destino de uma procissão sempre realizada em princípios de janeiro, à qual acorrem dezenas de milhar de pessoas. Nessa altura, mulheres vestidas de branco lavam a escadaria da igreja com água perfumada: o Senhor do Bonfim é, para os negros da Bahia, Oxalá, o deus da fecundidade e é apenas em sua honra que inúmeros habitantes se vestem de branco à sexta-feira. O que acontece à volta desta igreja faz frequentemente lembrar um parque de diversões. O que se ouve não são corais devotos mas ritmos quentes de algumas bandas de samba. No espaço à direita, ao lado do portal, todos aqueles a quem o Senhor contemplou com um milagre deixaram ficar fotografias ou presentes. 

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