Ao ver este filme de animação, não pude deixar de me lembrar da maior fã da ovelha Choné, que conheço: a minha colega Cidália. O filme excedeu em muito as minhas melhores expectativas, na medida em que me divertiu, me recordou alguns dos valores fundamentais das relações humanas e das relações entre o Homem e os animais e ainda por cima estava muito bem feito.
A primeira grande surpresa que o espectador menos familiarizado com a saga da ovelha Choné apanha é que o filme não tem diálogos falados, ou seja, toda a comunicação entre as personagens é feita através de sons e gestos. Tal técnica resultou lindamente, realçando a arte e a imaginação dos atores. Não houve nenhum diálogo que não fosse entendível e as soluções encontradas sãos surpreendentemente simples, eficazes e muito divertidas.
Do ponto de vista temático, o filme de Mark Burton e Richard Starzack foca a relação do Homem com os animais, realçando a maior responsabilidade e cuidado que os animais põe nessa relação que o ser humano. No entanto, o final feliz que um filme destes tem de ter redime o agricultor, pois ele também tem um bom coração.
Não deixei de notar como o argumentista deste filme tão ternurento aportou a cada animal o comportamento que lhe é mais característico e que ao mesmo tempo consegue ser profundamente humano. Poe exemplo, o cão manifesta toda a sua fidelidade ao dono. Numa das muitas entrevistas que deram, os realizadores não deixaram de notar quão difícil foi o processo de escrita deste filme. No entanto o argumentista soube transformar em sons ideias simples, mas muito significativas e profundas, capazes de ser entendidas por crianças da mais tenra idade.
Outro elemento verdadeiramente surpreendente nesta película é a fidelidade à técnica de fabricação de imagem por imagem (stop motion) que em consonância com o uso de bonecos de plasticina constroem um filme fofo, sensível e afetivamente próximo do seu público-alvo.
No filme, a ovelha Choné decide trazer um pouco de animação ao seu pachorrento quotidiano e tirar um dia de folga para se divertir, no entanto, acabado por ter mais animação do que esperava.
Uma confusão com o fazendeiro, uma colina muito íngreme e uma caravana descontrolada atiram todo o rebanho para a confusão da cidade grande, onde a ovelha Choné chama a si a missão de remediar a situação e fazer todos regressar a casa.
O desejo de fuga da ovelha Choné à rotina da sua quinta transforma-se num conto moral sobre as tensões entre o individualismo e as regras de pertença a um grupo.
Na sua alegria contagiante é também um filme que nos obriga a um sereno relativismo, pois aqueles bonequinhos de plasticina mostram que para além das maravilhas do mundo digital há mais mundos no reino da animação.
Gabriel Vilas Boas
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