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domingo, 13 de setembro de 2015

EMPREENDEDORISMO OU A ARTE DO DESENRASCANÇO


Portugal nunca teve tantos e tão bons jovens empreendedores como atualmente. Nas principais cidades portuguesas, os nossos jovens que ainda resistem à emigração respondem à falta de oferta de emprego compatível com as suas qualificações criando o seu próprio negócio, aproveitando quer as suas múltiplas valências académicas quer o boom de turista low cost que invadiu Porto, Lisboa, Coimbra, Aveiro, Braga.

As novas empresas não param de crescer em Portugal. Só em julho nasceram 2861. Há relatos de centenas de casos de sucesso de microempresas que apostam na qualidade e na diferença dos serviços oferecidos, em áreas tão diversas como a restauração, a hotelaria, o têxtil, o calçado, o transporte de turistas a baixo custo, entre cidades e dentro das grandes metrópoles, etc.. Há uma panóplia muito interessante de novas ofertas que renovam a face do emprego em Portugal.
Esta nova faceta da economia portuguesa mexe com muita gente já, mas é pouco significativa em termos macroeconómicos. E sê-lo-á sempre. Os jovens portugueses adotaram o laureado conceito do microcrédito de Muhammad Yunus e têm pedido em média 10 mil euros aos bancos para concretizar as suas ideias. Este valor é reembolsado em quatro/cinco anos a um juro baixo. Quando muito a ajuda bancária pode ir até aos vinte mil euros. Eis até quanto a banca portuguesa pode chegar na ajuda à reabilitação e reconversão da economia portuguesa!
A solução do empreendedorismo não é uma opção estratégica nem articulada, mas sim ditada pelas circunstâncias de severo desemprego que assolam Portugal há uma década. Estes negócios montados pelos jovens portugueses vivem muito da inovação, do trabalho a custo zero dos seus criadores, do bom gosto. O retorno económico é algum, mas em nenhum momento estes jovens empreendedores alcançarão o seu porto seguro. Vivem para nichos de mercado, para clientes habituados à novidade, à melhor oferta económica e de qualidade. Em qualquer altura qualquer empresa média que invista em força na sua área arrasá-los-á em três tempos. Como são negócios individuais, não estão perfeitamente conectados entre si e por isso não conseguirão agir concertadamente quando tiverem de se proteger contra o ataque dos tubarões económicos. Nessa altura terão de começar tudo de novo, puxando pela cabeça e inventado um novo conceito.

Ora isto não pode ser a solução para a economia portuguesa. É bom ter inovação, bom gosto, propostas arriscadas, contudo é preciso dar-lhes estabilidade. Essa estabilidade será dada quando a maioria dos portugueses puder obter trabalho nos setores tradicionais e não tenha de se fazer à vida, inventando uma jogada miraculosa que o salve do desemprego. Usando a gíria futebolística, dá para ganhar um jogo, jamais dará para ganhar um campeonato. Até porque não somos um paraíso de empreendedores nem teremos clientes endinheirados a toda a hora nem estaremos eternamente na moda. Qualquer dia estamos a vender um produto de qualidade a tão baixo custo que os clientes doutros mercados se interrogarão se não estaremos a vender gato por lebre.
A grande vantagem no empreendedorismo português não é a enésima demonstração da arte do desenrascanço português, mas a consciência de que há valor, vontade e criatividade para refundar a economia portuguesa. Agora que vendemos tudo o que era nacional, lá vamos ter de criar outra EDP, outra PT, outra GALP, que sejam efetivamente portuguesas. Ou então vamos empreender debaixo doutra bandeira…

Gabriel Vilas Boas 

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