Portugal nunca teve
tantos e tão bons jovens empreendedores como atualmente. Nas principais cidades
portuguesas, os nossos jovens que ainda resistem à emigração respondem à falta
de oferta de emprego compatível com as suas qualificações criando o seu próprio
negócio, aproveitando quer as suas múltiplas valências académicas quer o boom de turista low cost que invadiu Porto, Lisboa, Coimbra, Aveiro, Braga.
As novas empresas não
param de crescer em Portugal. Só em julho nasceram 2861. Há relatos de centenas
de casos de sucesso de microempresas que apostam na qualidade e na diferença
dos serviços oferecidos, em áreas tão diversas como a restauração, a hotelaria,
o têxtil, o calçado, o transporte de turistas a baixo custo, entre cidades e
dentro das grandes metrópoles, etc.. Há uma panóplia muito interessante de novas
ofertas que renovam a face do emprego em Portugal.
Esta nova faceta da
economia portuguesa mexe com muita gente já, mas é pouco significativa em
termos macroeconómicos. E sê-lo-á sempre. Os jovens portugueses adotaram o
laureado conceito do microcrédito de Muhammad Yunus e têm pedido em média 10
mil euros aos bancos para concretizar as suas ideias. Este valor é reembolsado em
quatro/cinco anos a um juro baixo. Quando muito a ajuda bancária pode ir até
aos vinte mil euros. Eis até quanto a banca portuguesa pode chegar na ajuda à
reabilitação e reconversão da economia portuguesa!
A solução do empreendedorismo
não é uma opção estratégica nem articulada, mas sim ditada pelas circunstâncias
de severo desemprego que assolam Portugal há uma década. Estes negócios
montados pelos jovens portugueses vivem muito da inovação, do trabalho a custo
zero dos seus criadores, do bom gosto. O retorno económico é algum, mas em
nenhum momento estes jovens empreendedores alcançarão o seu porto seguro. Vivem
para nichos de mercado, para clientes habituados à novidade, à melhor oferta
económica e de qualidade. Em qualquer altura qualquer empresa média que invista
em força na sua área arrasá-los-á em três tempos. Como são negócios
individuais, não estão perfeitamente conectados entre si e por isso não
conseguirão agir concertadamente quando tiverem de se proteger contra o ataque
dos tubarões económicos. Nessa altura terão de começar tudo de novo, puxando
pela cabeça e inventado um novo conceito.
Ora isto não pode ser a
solução para a economia portuguesa. É bom ter inovação, bom gosto, propostas
arriscadas, contudo é preciso dar-lhes estabilidade. Essa estabilidade será
dada quando a maioria dos portugueses puder obter trabalho nos setores
tradicionais e não tenha de se fazer à vida, inventando uma jogada miraculosa
que o salve do desemprego. Usando a gíria futebolística, dá para ganhar um
jogo, jamais dará para ganhar um campeonato. Até porque não somos um paraíso de
empreendedores nem teremos clientes endinheirados a toda a hora nem estaremos
eternamente na moda. Qualquer dia estamos a vender um produto de qualidade a
tão baixo custo que os clientes doutros mercados se interrogarão se não
estaremos a vender gato por lebre.
A grande vantagem no
empreendedorismo português não é a enésima demonstração da arte do
desenrascanço português, mas a consciência de que há valor, vontade e
criatividade para refundar a economia portuguesa. Agora que vendemos tudo o que
era nacional, lá vamos ter de criar outra EDP, outra PT, outra GALP, que sejam
efetivamente portuguesas. Ou então vamos empreender debaixo doutra bandeira…
Gabriel Vilas Boas
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