Há
uns meses largos, o primeiro-ministro escocês Alex Salmond reivindicou junto do
seu homólogo inglês mais autonomia para o seu governo dentro do Reino Unido. David
Cameron disse que não e fez-se de forte: se Salmond queria mais autonomia, mais
valia pôr a questão de independência da Escócia aos escoceses através de referendo.
Estava mais que convencido da rejeição de tal proposta. Nos últimos dias deve
ter amargurado tanta jactância, só possível em quem não conhece bem os
orgulhosos escoceses. Há uma semana, os escoceses estavam mais inclinados para
a cisão, mas à última hora, o coração british e o medo de perder a libra fê-los
recuar.
Acho
que fizeram bem. A alma grandiosa e nobre da Escócia pertence ao Reino Unido.
Eles não queriam sair! Eles “apenas” queriam ser respeitados e considerados um
parceiro igual à Inglaterra e não um parente de segundo que tinha que ficar
agradecido de ser súbdito de Sua Majestade.
Não
duvido que o medo da saída da União Europeia e a dúvida quanto à permanência da
libra como moeda fizeram pender a balança para o lado do "Não", mas também estou
certo que os escoceses estavam mentalmente preparados para amarrarem sozinhos o
seu futuro.
Muita
gente comparou o caso escocês ao catalão, referindo que o caso escocês abriria
a caixa de Pandora da fragmentação europeia, sendo a Catalunha a próxima a “exigir”
a sua libertação de Espanha.
Acho
que os dois casos têm pouco em comum. Os escoceses queriam ficar… com mais
respeito e consideração; os catalães querem sair debaixo do jugo de Madrid
porque não suportam que a capital seja Madrid e que tenham de lhe prestar vassalagem. Os
escoceses estavam preparados para assumir a rutura apesar de não a quererem; os
catalães, ou melhor, os barcelonistas não estão preparados nem economicamente nem
mentalmente para sair de Espanha.
Barcelona
acha-se rica e autossuficiente, mas esquece que a sua riqueza lhe vem das
inúmeras multinacionais que lá se instalaram e que não suportariam ficar fora do espaço da moeda única como certamente aconteceria à Catalunha. Por outro lado,
Barcelona é profundamente cosmopolita e não estou a ver os catalães odiaram
assim tanto Madrid para abdicarem da sua “dolce vita”. Se estivéssemos a falar
dos bascos já não diriam o mesmo…
Por falar em bascos: o que acharão eles desta
ideia catalã de independência? Provavelmente o seu longo sorriso irónico se
lembrará de como os “amigos” de Barcelona foram contra o desejo basco de
sair de Espanha.
Além
disto, ainda não estou convencido que a maioria da Catalunha almeje abandonar a
grande Espanha. Julgo que essa vontade é muito maior em Barcelona que na região
da Catalunha.
Reconheço
a específica cultura catalã, a sua língua, a sua riqueza económica, mas não
encontro “boas e fortes razões” para a sua saída do Reino de Filipe VI e
Letizia.
Se
a Catalunha se separar, será impossível impedir os bascos de “ir embora” e, nessa altura, a Espanha implodirá e a Europa terá outro desenho, pois a pequena
Bélgica deixará de existir e outros casos surgirão para atormentar a União
Europeia…
A
única coisa positiva que vejo nesta nefasta deriva fragmentária da Europa é que
tudo está a ser feito pacificamente e em democracia. E é assim que deve ser. Não
podemos viver novamente tempos de violência como a sangrenta guerra nos balcãs,
onde a Jugoslávia acabou da pior maneira.
Gabriel Vilas Boas
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