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domingo, 21 de setembro de 2014

EUROPA: AMEAÇA DE FRAGMENTAÇÃO


Há uns meses largos, o primeiro-ministro escocês Alex Salmond reivindicou junto do seu homólogo inglês mais autonomia para o seu governo dentro do Reino Unido. David Cameron disse que não e fez-se de forte: se Salmond queria mais autonomia, mais valia pôr a questão de independência da Escócia aos escoceses através de referendo. Estava mais que convencido da rejeição de tal proposta. Nos últimos dias deve ter amargurado tanta jactância, só possível em quem não conhece bem os orgulhosos escoceses. Há uma semana, os escoceses estavam mais inclinados para a cisão, mas à última hora, o coração british e o medo de perder a libra fê-los recuar.
Acho que fizeram bem. A alma grandiosa e nobre da Escócia pertence ao Reino Unido. Eles não queriam sair! Eles “apenas” queriam ser respeitados e considerados um parceiro igual à Inglaterra e não um parente de segundo que tinha que ficar agradecido de ser súbdito de Sua Majestade.


Não duvido que o medo da saída da União Europeia e a dúvida quanto à permanência da libra como moeda fizeram pender a balança para o lado do "Não", mas também estou certo que os escoceses estavam mentalmente preparados para amarrarem sozinhos o seu futuro.
Muita gente comparou o caso escocês ao catalão, referindo que o caso escocês abriria a caixa de Pandora da fragmentação europeia, sendo a Catalunha a próxima a “exigir” a sua libertação de Espanha.
Acho que os dois casos têm pouco em comum. Os escoceses queriam ficar… com mais respeito e consideração; os catalães querem sair debaixo do jugo de Madrid porque não suportam que a capital seja Madrid e que tenham de lhe prestar vassalagem. Os escoceses estavam preparados para assumir a rutura apesar de não a quererem; os catalães, ou melhor, os barcelonistas não estão preparados nem economicamente nem mentalmente para sair de Espanha.

Barcelona acha-se rica e autossuficiente, mas esquece que a sua riqueza lhe vem das inúmeras multinacionais que lá se instalaram e que não suportariam ficar fora do espaço da moeda única como certamente aconteceria à Catalunha. Por outro lado, Barcelona é profundamente cosmopolita e não estou a ver os catalães odiaram assim tanto Madrid para abdicarem da sua “dolce vita”. Se estivéssemos a falar dos bascos já não diriam o mesmo… 
Por falar em bascos: o que acharão eles desta ideia catalã de independência? Provavelmente o seu longo sorriso irónico se lembrará de como os “amigos” de Barcelona foram contra o desejo basco de sair de Espanha.
Além disto, ainda não estou convencido que a maioria da Catalunha almeje abandonar a grande Espanha. Julgo que essa vontade é muito maior em Barcelona que na região da Catalunha.
Reconheço a específica cultura catalã, a sua língua, a sua riqueza económica, mas não encontro “boas e fortes razões” para a sua saída do Reino de Filipe VI e Letizia.
Se a Catalunha se separar, será impossível impedir os bascos de “ir embora” e, nessa altura, a Espanha implodirá e a Europa terá outro desenho, pois a pequena Bélgica deixará de existir e outros casos surgirão para atormentar a União Europeia…


A única coisa positiva que vejo nesta nefasta deriva fragmentária da Europa é que tudo está a ser feito pacificamente e em democracia. E é assim que deve ser. Não podemos viver novamente tempos de violência como a sangrenta guerra nos balcãs, onde a Jugoslávia acabou da pior maneira.   
 Gabriel Vilas Boas


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