Etiquetas

domingo, 28 de setembro de 2014

A EDUCAÇÃO É COMO O ALGODÃO: NÃO ENGANA


Há uns anos, um certo correspondente do jornal espanhol “El País” dizia que tinha uma certa dificuldade em justificar ao seu chefe o pouco que escrevia sobre Portugal, porque na verdade grande parte do que se passava no nosso país era virtual ou não passava de ameaças de acontecimentos. Quando a semana começava, uma série de proto acontecimentos prometiam muita ação, mas quando ele se preparava para escrever o resumo da semana para o seu jornal via que tinha muito pouco de real para escrever. As promessas dos ministros não passavam disso, semana após semana; as tricas de baixa política sucediam-se mas eram tão enfastiantes e repetitivas que nem aos espanhóis interessariam e não havia, de todo, factos relevantes na economia, sociedade ou cultura a assinalar.
O jornalista temia seriamente pelo seu emprego como eu hoje temi pelo tema da minha crónica. Não vos queria sobrecarregar com a via-sacra do senhor Passos que continua irrevogavelmente com o seu governo ainda que para isso tenho de usar o mais velho truque socrático da História. Não me entusiasmam aquelas eleições partidárias abertas ao povo onde um chora o oportunismo do outro e ambos se acusam de falta de carácter. Não há melhor carta de recomendação para quem já se vê a governar o país daqui por uns meses. Podia discorrer sobre o aniversário do mais titulado clube português dos últimos quarenta anos, não fosse o caso dos dirigentes desse clube, há uns anos, terem “antecipado” a data da sua fundação em treze anos. Como não fiquei convencido da fundamentação “científica” deixei de saber ao certo quando nasceu e perdi a vontade de me referir ao evento.

Entretanto, numa folha anónima de jornal tropeço no nome de Pasteur, o químico e bacteriologista francês do século XIX que morreu num triste dia de setembro igualzinho ao de hoje.
 Foi ele que solucionou o problema dos produtores de vinhos e cervejas franceses que não conseguiam perceber porque os seus produtos azedavam. Pasteur descobriu que a acidificação do vinho ocorria devida à presença de micro-organismos vivos que se encontravam no ar e por isso propôs o aquecimento do vinho lentamente a temperaturas até 60ºC para matar as batérias. Depois o líquido devia ser fechado hermeticamente em cubas para evitar nova contaminação. Estava criado o famoso processo de pasteurização dos alimentos. Este processo foi poucos anos mais tarde aplicado ao leite e contribuiu muito para a segurança alimentar deste alimento essencial. Quando hoje falamos de “leite pasteurizado” falamos, obviamente, dele. Não poderia haveria melhor maneira de o imortalizar.
A teoria de Pasteur foi aplicada na medicina que passou a ferver os instrumentos usados em procedimentos médicos e cirúrgicos. Pasteur investigou também os microscópicos agentes patogénicos e descobriu a vacina contra a raiva.
No campo da Química, Pasteur notabilizou-se por ter descoberto a base molecular para a assimetria de certos cristais.

                Era de homens como Pasteur, mas nascidos em Portugal, que eu gostaria de “falar”. Eles têm sempre algo a ensinar. Neles há sempre algo de bom para a sociedade e as suas propostas não são faits-divers de trazer por casa. Com eles nenhum jornalista perde o emprego nem o cronista deixa de ter assunto. Eles são os heróis que contam, aqueles que vêm nas enciclopédias e nos livros de História. Vão-se fazendo algumas espécies nas universidades, nos institutos de investigação, nos laboratórios de países que apostam seriamente numa coisa que se chama Educação.    

Gabriel Vilas Boas

1 comentário: