Há
uns anos, um certo correspondente do jornal espanhol “El País” dizia que tinha
uma certa dificuldade em justificar ao seu chefe o pouco que escrevia sobre
Portugal, porque na verdade grande parte do que se passava no nosso país era
virtual ou não passava de ameaças de acontecimentos. Quando a semana começava,
uma série de proto acontecimentos prometiam muita ação, mas quando ele se
preparava para escrever o resumo da semana para o seu jornal via que tinha
muito pouco de real para escrever. As promessas dos ministros não passavam
disso, semana após semana; as tricas de baixa política sucediam-se mas eram tão
enfastiantes e repetitivas que nem aos espanhóis interessariam e não havia, de
todo, factos relevantes na economia, sociedade ou cultura a assinalar.
O
jornalista temia seriamente pelo seu emprego como eu hoje temi pelo tema da
minha crónica. Não vos queria sobrecarregar com a via-sacra do senhor Passos que
continua irrevogavelmente com o seu governo ainda que para isso tenho de usar o
mais velho truque socrático da História. Não me entusiasmam aquelas eleições partidárias
abertas ao povo onde um chora o oportunismo do outro e ambos se acusam de falta
de carácter. Não há melhor carta de recomendação para quem já se vê a governar
o país daqui por uns meses. Podia discorrer sobre o aniversário do mais titulado
clube português dos últimos quarenta anos, não fosse o caso dos dirigentes
desse clube, há uns anos, terem “antecipado” a data da sua fundação em treze
anos. Como não fiquei convencido da fundamentação “científica” deixei de saber
ao certo quando nasceu e perdi a vontade de me referir ao evento.
Entretanto,
numa folha anónima de jornal tropeço no nome de Pasteur, o químico e bacteriologista
francês do século XIX que morreu num triste dia de setembro igualzinho ao de
hoje.
Foi ele que solucionou o problema dos
produtores de vinhos e cervejas franceses que não conseguiam perceber porque os
seus produtos azedavam. Pasteur descobriu que a acidificação do vinho ocorria
devida à presença de micro-organismos vivos que se encontravam no ar e por isso
propôs o aquecimento do vinho lentamente a temperaturas até 60ºC para matar as
batérias. Depois o líquido devia ser fechado hermeticamente em cubas para evitar
nova contaminação. Estava criado o famoso processo de pasteurização dos alimentos.
Este processo foi poucos anos mais tarde aplicado ao leite e contribuiu muito
para a segurança alimentar deste alimento essencial. Quando hoje falamos de “leite
pasteurizado” falamos, obviamente, dele. Não poderia haveria melhor maneira de
o imortalizar.
A
teoria de Pasteur foi aplicada na medicina que passou a ferver os instrumentos
usados em procedimentos médicos e cirúrgicos. Pasteur investigou também os
microscópicos agentes patogénicos e descobriu a vacina contra a raiva.
No
campo da Química, Pasteur notabilizou-se por ter descoberto a base molecular
para a assimetria de certos cristais.
Era de homens como Pasteur, mas
nascidos em Portugal, que eu gostaria de “falar”. Eles têm sempre algo a
ensinar. Neles há sempre algo de bom para a sociedade e as suas propostas não
são faits-divers de trazer por casa. Com eles nenhum
jornalista perde o emprego nem o cronista deixa de ter assunto. Eles são os heróis
que contam, aqueles que vêm nas enciclopédias e nos livros de História. Vão-se
fazendo algumas espécies nas universidades, nos institutos de investigação, nos
laboratórios de países que apostam seriamente numa coisa que se chama Educação.
Gabriel
Vilas Boas
Excelente texto que eu subscrevo.
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