Há
precisamente dez anos, Agustina Bessa Luís, a mais relevante escritora
amarantina do século XX ,recebia o mais importante galardão da Literatura
Portuguesa: o Prémio Camões. Trata-se dum prémio que existe há 25 anos e que
normalmente premeia a carreira literária dos grandes vultos da literatura escrita
em português. É um prémio que marca a carreira dum escritor e portanto muito
desejado por qualquer um.
Agustina
não é uma escritora do meu tempo. É uma senhora que caminha para os 92 anos de
idade e o seu reinado parece pertencer a outro século, no entanto, a sua vasta
obra revela um espírito criativo, atento e laborioso.
Ao
olharmos para a sua biografia impressionam dois dados: a quantidade de obras
publicadas desde 1948, em várias disciplinas literárias, e a panóplia de
prémios alcançados, com particular destaque para o Prémio Camões. Agustina
granjeou a admiração dos seus pares e dos verdadeiros amantes da literatura, num
tempo em que esse grupo era restrito, mas muito exigente. Quem arrecada prémios
como o “Delfim Guimarães”, o “Prémio Eça de Queirós”, o “Prémio Internacional
da União Latina”, o “Prémio D. Dinis”, ou o “Prémio de Romance e Novela da Associação
Portuguesa de Escritores” só pode ser um grande escritor.
No
entanto, a sua obra é completamente desconhecida pelas novas gerações. Isto
acontece porque a sua literatura remonta a um tempo que já não existe, com
personagens e ambientes que fazem parte dum Portugal rural, analfabeto,
escondido do mundo. Por outro lado, a sua literatura usa uma linguagem
rendilhada, trabalhada com a paciência do artesão, atento a todos os pormenores
e subtilizas das palavras. E esse definitivamente não é o estilo, o tempo e a
temática que nos seduz.
Mas
ninguém é Prémio Camões, por acaso. Por debaixo do pó do tempo, reluz o brilho
da escritora que criou a “Sibila”, “A Corte do Norte”, “O Vale Abraão” ou “Adivinhas
de Pedro e Inês”. Agustina é um das melhores cultoras da novela lusitana do
século XX, mas a sua obra também incluí excelentes romances, textos dramáticos,
biografias, ensaios, crónicas, textos juvenis.
Talvez
só encontremos alguns dos seus livros em alfarrabistas, mas é certo que dentro
deles acharemos a melhor definição do papel da mulher portuguesa do
interior durante os longos anos da ditadura de Salazar; é através das muitas páginas
dos seus livros que conheceremos o mítico Douro e as intrincadas relações sociais
no norte de Portugal.
Descobrir
a mulher enigmática que num dia de outono, de 1922 nasceu em Vila Meã é
redescobriu um pouco do que foi o tempo, o modo e o lugar em que os nossos avós
ou bisavós viveram. Talvez aí percebamos melhor um pouco de nós…
Gabriel Vilas Boas
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