Há
dez anos, Portugal carpia as mágoas duma tragédia grega futebolística do seu
Euro 2004 de quase sonho, quando do interior da Rússia radicais chechenos
traziam o horror e a tragédia para as capas dos jornais e imagens das
televisões de todo o mundo.
Numa
escola de Beslan, na província da Ossétia do Norte, na Rússia, terroristas
chechenos fizeram 1200 reféns entre crianças e adultos, procurando que o
governo de Putin cedesse às suas reivindicações separatistas. A tensão durou
dois dias, até que, ao terceiro dia, as forças especiais da polícia russa
resolveram atuarem como um elefante faz numa loja de porcelanas. Os terroristas
resolveram agir como kamikazes e detonaram os explosivos, arrastando para a
morte 334 civis, entre os quais 184 crianças.
Vítimas do atentado do sequestro da escola de Beslan
Lembro-me
da impressão que me causou a falta de tato da polícia russa, mas no fundo Putin
continua(va) a pensar como Estaline, para quem “tragédia é a morte duma pessoa,
enquanto a morte dum milhão não passa de mera estatística”, e por isso não
houve lugar a lágrimas, nem a justificações, nem a desculpas, nem a
arrependimentos.
A
ocidente o caso foi vivido com aquela indignaçãozinha que “lamenta
profundamente”, que está “chocadíssima” perante ato tão “bárbaro e
inqualificável”. Bush, Blair, Romano Prodi, João Paulo II, Nelson Mandela
declararam o seu pesar institucional e um mês depois Beslan voltou ao buraco
negro do esquecimento, assim como o terrorismo deixou de estar na agenda
internacional, embora só tivessem passado pouco mais de mil dias sobre o 11 de
setembro de 2001.
O
terrorismo internacional é feito por gente profundamente má e, provavelmente,
sem salvação. Impossível qualquer acordo com eles, porque não partem duma base
racional. No entanto, grande parte das suas atividades só foram/são possíveis
porque convenceram e arregimentaram para os seus ideais radicais gente crédula,
inculta, amedrontada, espezinhada e humilhada. Gente que sofre há demasiado
tempo, gente para quem o futuro deixou de ter horizonte.
Quando
Israel, para repor a ordem e eliminar os agentes do Hamas, se acha no direito
de matar civis palestinianos a eito, quando o governo sunita corrupto
pró-ocidental do Iraque despreza a fação xiita do país e todos no Ocidente
assobiam para o lado, não me espanta que o Estado Islâmico floresça nem me
admira que o Hamas encontre novas cumplicidades entre os escombros humanos da
Faixa de Gaza.
Obama está muito preocupado com o
seu compatriota assassinado frente às câmaras de televisão. Como diria Estaline
“isto é que é verdadeiramente trágico”. Quanto aos milhares de curdos que
morreram encurralados no Iraque ou aos palestinianos que morreram em Gaza há
dois meses, são uma estatística igual aos russos da escola de Beslan, da
Ossétia do Norte.
Triste
do mundo que permite a Joseph Estaline poder sorrir sarcasticamente lá do fundo
do seu túmulo de maldade.
Gabriel Vilas Boas
"Quando Israel, para repor a ordem e eliminar os agentes do Hamas, se acha no direito de matar civis palestinianos a eito..." É a mesma falta de direito com que o Hamas sequestrou e matou três jovens civis Israelitas, reiniciando este novo conflito, com a diferença das forças israelitas não se escudarem com o seu povo. É de lamentar a morte de inocentes, mas a sua opinião nada tem de imparcial.
ResponderEliminarProcuro sempre ser justo naquilo que escrevo, mas a minha opinião será sempre uma opinião e por isso o meu nome está no final do texto, tal como gostaria que estivesse o seu. Sobre o tema, digo-lhe que a minha opinião sobre o Hamas não é diferente da sua. No entanto, faço-lhe notar que Israel tem uma responsabilidade, perante a comunidade internacional, bem diferente da do Hamas. Israel é um Estado...
ResponderEliminarLamento todo o tipo de mortes de inocentes: das crianças, dos velhos e dos adultos.
Acho que era possível outro caminho neste conflito. Penso que Itzhak Rabin também pensaria o mesmo.