Jorge Peixinho foi para além de um grande compositor do século XX português, um músico completo, na medida em que compunha, interpretava, dirigia, analisava e ainda divulgava, não só a sua música como a de outros compositores seus contemporâneos. Era também um professor que transmitia o conhecimento com um entusiasmo tão cativante, que estimulava qualquer aluno a compor. Era um cidadão íntegro e exemplar que lutava pelos ideais em que acreditava com uma grande sinceridade, honestidade e espontaneidade, qualidades que nem sempre agradavam aos que estavam em posições de chefia e que por isso causaram alguns dissabores a Jorge Peixinho que dizia sempre aquilo que pensava e lhe ia na alma estivesse onde estivesse. Era também um amigo que ia com os seus alunos a concertos, aos Encontros de Música Contemporânea na Gulbenkian e depois recebia esses jovens em sua casa para continuarem a discussão sobre aquilo que tinham acabado de ouvir e também para dar conta dos seus projetos e do que se estava a produzir em termos musicais na restante Europa e no mundo.
Jorge Peixinho foi sempre um homem de esquerda. Antes da revolução de abril foi perseguido por dizer em alta voz o que pensava e depois manteve uma participação cívica ativa tendo sido membro da assembleia municipal do Montijo, eleito pela CDU.
Jorge Peixinho com três discípulos na sua casa, na Rua de S. Bento, em Lisboa. Um deles haveria de ser compositor, Eduardo Luís Patriarca.
Iniciou a sua vida musical aos seis anos quando começou a ter aulas de piano com uma tia, no Montijo, sua terra natal, onde nasceu em 1940. Prosseguiu os estudos de piano e composição no Conservatório de Música de Lisboa, terminando em 1958 o Curso Superior de Piano. Em 1959 partiu para Roma, com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian e com a finalidade de aperfeiçoar os estudos em composição. Aí permaneceu por dois anos, tomando contacto com o atonalismo serial, o dodecafonismo e o cromatismo que passa a utilizar nas suas composições. Foi em Roma que teve o primeiro contacto com a música de Schoenberg e de Webern que em Lisboa não se ouvia. Estudou com Boris Perena e Goffredo Petrassi na Academia de Santa Cecília em Roma, obtendo o diploma de aperfeiçoamento em Composição. Posteriormente, trabalhou com Luigi Nono em Veneza e com Pierre Boulez e Stockausen na Academia de Música de Basileia. Participou também em diversos Cursos Internacionais de Darmstadt e fez um sério trabalho de pesquisa em música electrónica em Gante, na Bélgica. Este contacto com as novas tendências musicais europeias influenciou as suas composições, tornando-o um inovador e o introdutor da chamada música de vanguarda em Portugal. Em 1970 fundou, juntamente com alguns músicos portugueses, o Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, que dirigiu até à sua morte em 1995. Participou em inúmeros festivais e eventos de música contemporânea em diversos países divulgando obras de compositores como Constança Capdeville, Emanuel Nunes, Clotilde Rosa e outros.
Produziu uma vasta e diversificada obra, muita dela gravada em CD. Para audição, proponho uma das suas últimas obras, o Concerto para Harpa e Conjunto Instrumental, interpretado pelo Grupo de Música Contemporânea de Lisboa.
Margarida Assis
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