Separadas
por poucos dias, duas demissões, algo inesperadas, vieram acordar a sociedade
portuguesa: Paulo Bento demitiu-se de selecionador nacional depois de perder em
casa com Malta e Vítor Bento demitiu-se do Novo Banco, ao perceber que não ia
restruturar banco nenhum, antes fazia parte duma comissão liquidatária, para
vender à pressa e mal um banco centenário caído em desgraça.
Curiosamente
Paulo Bento e Vítor Bento têm algumas características comuns: uma personalidade low profile,
um sentido ético aceitável, lucidez para ver quando já estão a mais e todos
esperam que se vão embora mas ninguém tem coragem para lhes dizer.
O
principal erro dos dois foi acreditar que a situação com que se defrontavam não
era assim tão negativa e que contariam com a ajuda daqueles que os rodeavam para
a inverter.
Todos
nós intuímos o défice de qualidade da seleção nacional como sabemos quão podres
estão as contas do BES e como se levantarão questões jurídicas acerca da
divisão do império dos Salgados em “banco bom” e “banco mau”.
Hoje,
gostaria apenas de focar atenção no abandono dos timoneiros de ocasião. Não
lamentamos a sua saída, porque não eram excecionais e sabemos que apenas iam
controlar a putrefação dos cadáveres assumindo as culpas que não eram só suas. A
isto acrescentamos o nosso proverbial deixa andar,
que sempre pomos em prática quando nos surge uma tarefa coletiva pela frente
que dê trabalho e não sabemos bem como resolver.
A
seleção de futebol precisa de dirigentes que assumam que a qualidade dos
melhores jogadores portugueses desceu. Os atuais dirigentes devem também impor
regras claras aos maiores clubes portugueses para que utilizem regularmente os
melhores jogadores jovens que têm e, sobretudo, esses diretores não devem fazer
fretes aos poderosos empresários dos jogadores de futebol que usam a seleção
nacional para promover a sua “mercadoria” e influenciam negativamente as melhores
escolhas de quem seleciona os poucos melhores que o país tem.
Sobre
o banco
da borboleta é preciso ser muito mais exigente, quer com o banco de
Portugal quer com o governo. É preciso saber a verdade sem rodeios e conhecer,
no geral, os planos do governo para a resolução do problema. Pacheco Pereira
diz que aquela gente (que até já foi a sua gente) navega à vista ou à Costa
e não faz a mínima ideia do que anda a fazer, o que só por sorte seria melhor
do que andar a fazer coisas erradas. Muitas vezes tenho as mesmas sensações que
Pacheco Pereira, mas como não temos
informações suficientes não podemos opinar com justiça.
No
entanto era importante que tivéssemos essa informação. Já que mais uma vez
vamos pagar a conta daquilo que os outros comeram e arrotaram, era o mínimo da
decência apresentar a conta descriminada… talvez ainda possamos salvar alguns
pagamentos indevidos ou então ganharmos vinte segundos de coragem e recusarmos
o pagamento. Isso nos dias que correm apenas quer dizer recusar uma
venda apressada e ao desbarato. É só lembrar que esta
equipa governativa vendeu o “BPN Bom” por 1% daquilo que ele nos custou e ainda
ficou com toda a porcaria que as leis do mercado produziram durante anos e que
agora se chamam “produtos tóxicos”.
Paulo
Bento e Vítor Bento, impotentes e traídos, qual borboletas, bateram asas de
corpos em decomposição e destaparam a tampa. Agora que sentimos o cheiro, vamos
desviar o olhar e o passo ou calçamos umas luvas e começamos o processo de
limpeza da podridão? É que se não formos até ela, ela virá até nós.
Gabriel
Vilas Boas
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