Etiquetas

terça-feira, 16 de setembro de 2014

FOI UM "BENTO" QUE LHES DEU


Separadas por poucos dias, duas demissões, algo inesperadas, vieram acordar a sociedade portuguesa: Paulo Bento demitiu-se de selecionador nacional depois de perder em casa com Malta e Vítor Bento demitiu-se do Novo Banco, ao perceber que não ia restruturar banco nenhum, antes fazia parte duma comissão liquidatária, para vender à pressa e mal um banco centenário caído em desgraça.
Curiosamente Paulo Bento e Vítor Bento têm algumas características comuns: uma personalidade low profile, um sentido ético aceitável, lucidez para ver quando já estão a mais e todos esperam que se vão embora mas ninguém tem coragem para lhes dizer.
O principal erro dos dois foi acreditar que a situação com que se defrontavam não era assim tão negativa e que contariam com a ajuda daqueles que os rodeavam para a inverter.
Todos nós intuímos o défice de qualidade da seleção nacional como sabemos quão podres estão as contas do BES e como se levantarão questões jurídicas acerca da divisão do império dos Salgados em “banco bom” e “banco mau”.


Hoje, gostaria apenas de focar atenção no abandono dos timoneiros de ocasião. Não lamentamos a sua saída, porque não eram excecionais e sabemos que apenas iam controlar a putrefação dos cadáveres assumindo as culpas que não eram só suas. A isto acrescentamos o nosso proverbial deixa andar, que sempre pomos em prática quando nos surge uma tarefa coletiva pela frente que dê trabalho e não sabemos bem como resolver.
A seleção de futebol precisa de dirigentes que assumam que a qualidade dos melhores jogadores portugueses desceu. Os atuais dirigentes devem também impor regras claras aos maiores clubes portugueses para que utilizem regularmente os melhores jogadores jovens que têm e, sobretudo, esses diretores não devem fazer fretes aos poderosos empresários dos jogadores de futebol que usam a seleção nacional para promover a sua “mercadoria” e influenciam negativamente as melhores escolhas de quem seleciona os poucos melhores que o país tem.
Sobre o banco da borboleta é preciso ser muito mais exigente, quer com o banco de Portugal quer com o governo. É preciso saber a verdade sem rodeios e conhecer, no geral, os planos do governo para a resolução do problema. Pacheco Pereira diz que aquela gente (que até já foi a sua gente) navega à vista ou à Costa e não faz a mínima ideia do que anda a fazer, o que só por sorte seria melhor do que andar a fazer coisas erradas. Muitas vezes tenho as mesmas sensações que Pacheco Pereira,  mas como não temos informações suficientes não podemos opinar com justiça.


No entanto era importante que tivéssemos essa informação. Já que mais uma vez vamos pagar a conta daquilo que os outros comeram e arrotaram, era o mínimo da decência apresentar a conta descriminada… talvez ainda possamos salvar alguns pagamentos indevidos ou então ganharmos vinte segundos de coragem e recusarmos o pagamento. Isso nos dias que correm apenas quer dizer recusar uma venda apressada e ao desbarato. É só lembrar que esta equipa governativa vendeu o “BPN Bom” por 1% daquilo que ele nos custou e ainda ficou com toda a porcaria que as leis do mercado produziram durante anos e que agora se chamam “produtos tóxicos”.
Paulo Bento e Vítor Bento, impotentes e traídos, qual borboletas, bateram asas de corpos em decomposição e destaparam a tampa. Agora que sentimos o cheiro, vamos desviar o olhar e o passo ou calçamos umas luvas e começamos o processo de limpeza da podridão? É que se não formos até ela, ela virá até nós.     
Gabriel Vilas Boas
  

Sem comentários:

Enviar um comentário