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terça-feira, 10 de março de 2015

RICARDO "ONZENEIRO" SALGADINHO




(Entretanto, um banqueiro apressado, com um mala na mão entra a anunciar a venda dum produto bancário)
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Ações do BES, GES e do PES! Quem quer comprar? Boas e baratas! Boas e baratas! Oportunidade única! Se quer ter um rendimento extra, esta é a sua oportunidade. Quero comprar um lote? Dois lotes?
(Oferece a compra das ações ao diabo, que assiste de braços cruzados e a abanar a cabeça, ao Sócrates e a Teresa Guilherme, que o afastam com um gesto brusco)
DIABO: Arruma lá essa porcaria que aqui ninguém quer nada disso! Isso é material tóxico. Só de cheirar (e faz o gesto de cheirar) uma pessoa fica logo contaminado e os juros do inferno sobem em flecha.


RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Qual contaminado, qual quê? Aqui as ações do mano Ricardo Salgadinho estão a subir na bolsa de Nova Iorque.
DIABO: O único sítio onde essa coisa sobe é na lixeira. Olha, em Portugal, há muita gente que tem desse lixo e agora anda a chorar pelos cantos porque ninguém dá 10 cêntimos por essa coisa imunda.
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Tu é que não tens visão de mercado. Agora valem pouco, mas daqui a meio ano vão valer uma fortuna. Mas não queres, não insisto, há de haver quem queira ficar rico.
DIABO: Tu tens uma lata desgraçada, ó Salgadinho. Eu nunca vi ninguém na nossa família como tu. Tu enganaste o nosso primo, o Ritchiardi, tu enganaste o vaidoso do Sócrates, tu enganaste o tolo do Costa do Banco de Portugal, o FMI, a troika.
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Ehehehehe até que enganei a ti.
DIABO: A mim?
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Lembras-te daqueles ações que compraste o ano passado? Aquelas que eu disse que também vendi à minha irmã?
DIABO: Aquelas que tu disseste que teriam um prémio de 100%?
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Sim essas. Olha… dei-as como caução para não ir para a prisão. Já não são minhas, são da polícia.
(corre furioso atrás de Ricardo Salgadinho, mas não o apanha. Ao fim dum bom bocado, ofegante, para e atira)
DIABO: E eu não as posso recuperar?
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Podes… vais para a prisão por mim que já as recuperas. ehehehe


DIABO: Tu és pior que o diabo! Eu nunca vi um aldrabão tão grande. Tu não tens vergonha daquelas pessoas que te puseram todas a economias no teu banco e agora não têm nada?
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Eu pena tenho, não tenho é dinheiro para lhes dar. Se elas quiserem tenho aqui um saco de penas para lhes pagar
(e tira da mala uma saca de penas que atira ao ar, enquanto ri, e o diabo corre novamente atrás dele, furioso)
DIABO: Sai-me da frente que eu já nem te posso ver. Desaparece-me da vista, seu vigarista.
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Também não fazia intenções de ficar por aqui. A tua casa está cheia de gente como eu e com eles não faço negócio de jeito.
DIABO: Vai-te daqui, seu mentiroso. Vai enganar esse anjinho de meia tijela a quem rezavas aos domingos de manhã. Aposto que foi ele que te protegeu estes anos todos.
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Pronto, pronto… não te irrites! Eu vou já falar com aquele tótó. Pode ser que ele me abra a porta. Afinal eu sou “Espírito Santo” por parte da minha mulher, que é uma santa…
DIABO: Vai, vai. Vais levar uma ripeirada que até te caiem os dentes.
(Com ar de importante, dirige-se ao anjo)
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Querida sobrinha, a tia Espírito Santo manda-lha cumprimentos. Também lhe mandou duas fatias de bolo, mas comi uma e a outra dei ao taxista que me trouxe até aqui, porque agora ninguém me dá boleia.
ANJO: Já te deram muito e tu perdeste tudo! És a vergonha do céu e do inferno, Ricardo.
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Não sejas má comigo. Tive azar! Joguei todo o dinheiro que tinha na bolsa de Nova Iorque e perdi.

ANJO: E continuas tu a mentir! Não te cansas! Tu desapareceste com o dinheiro dos teus clientes e deves tê-lo em alguma ilha offshore escondido. O que é fizeste aos 900 milhões da PT?
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Não está bom de ver? Gastei-o a fazer chamadas para o Brasil, Angola, Estados Unidos, Ilhas Caimão. O pessoal começava com aquela conversa mole “oi cara, tudo legal? Aqui há da grama! E tu já sabes como é:conversa puxa conversa e ficávamos horas naquilo…. A negociar.
ANJO: Tu és um cara com muita lata! Por tua causa é que a OI nos obrigou a dizer Tchau à PT.
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Olha é como dizia o Guterres, “É a vida”, acontece aos melhores.
ANJO: Só a ti é que não te aconteceu nada. Nem preso foste! Como é que convenceste o juiz Carlos Alexandre a não te prender preventivamente como fez com o Sócrates?
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Foi fácil. Disse-lhe: prende o Sócrates que muito do dinheiro que eu gastei foi a suborná-lo.
ANJO: E ele acreditou em ti?
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Se os portugueses depositavam dinheiro no BES como é que o juiz não havia de depositar confiança em mim. Ele detesta é o Sócrates.
ANJO: Sabes o que te digo?
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: O que me dizes?
ANJO: Vais para o inferno porque tu e o Sócrates são farinha do mesmo saco e sem vocês os dois o diabo não tem pão para amassar.
RICARDO “Onzeneiro” SALGADO: Mas ele (apontando para o diabo) já disse que não me aguenta daquele lado (e aponta para o inferno).
ANJO: É aguenta, aguenta! Se os portugueses aguentaram contigo e com o Sócrates ele também aguenta!

DIABO: (faz sinal ao Ricardo Salgadinho com um assobio e com o braço): Anda cá ao Ricardo. Pensando melhor, acho que preciso de ti. Já tenho o pão (aponta para o Sócrates), já tenho a pimenta (aponta para Teresa Guilherme), agora falta o sal (aponta para Ricardo Salgadinho). Depois é só amassar e mandar para o Passos Coelho comer!

GAVB

terça-feira, 16 de setembro de 2014

FOI UM "BENTO" QUE LHES DEU


Separadas por poucos dias, duas demissões, algo inesperadas, vieram acordar a sociedade portuguesa: Paulo Bento demitiu-se de selecionador nacional depois de perder em casa com Malta e Vítor Bento demitiu-se do Novo Banco, ao perceber que não ia restruturar banco nenhum, antes fazia parte duma comissão liquidatária, para vender à pressa e mal um banco centenário caído em desgraça.
Curiosamente Paulo Bento e Vítor Bento têm algumas características comuns: uma personalidade low profile, um sentido ético aceitável, lucidez para ver quando já estão a mais e todos esperam que se vão embora mas ninguém tem coragem para lhes dizer.
O principal erro dos dois foi acreditar que a situação com que se defrontavam não era assim tão negativa e que contariam com a ajuda daqueles que os rodeavam para a inverter.
Todos nós intuímos o défice de qualidade da seleção nacional como sabemos quão podres estão as contas do BES e como se levantarão questões jurídicas acerca da divisão do império dos Salgados em “banco bom” e “banco mau”.


Hoje, gostaria apenas de focar atenção no abandono dos timoneiros de ocasião. Não lamentamos a sua saída, porque não eram excecionais e sabemos que apenas iam controlar a putrefação dos cadáveres assumindo as culpas que não eram só suas. A isto acrescentamos o nosso proverbial deixa andar, que sempre pomos em prática quando nos surge uma tarefa coletiva pela frente que dê trabalho e não sabemos bem como resolver.
A seleção de futebol precisa de dirigentes que assumam que a qualidade dos melhores jogadores portugueses desceu. Os atuais dirigentes devem também impor regras claras aos maiores clubes portugueses para que utilizem regularmente os melhores jogadores jovens que têm e, sobretudo, esses diretores não devem fazer fretes aos poderosos empresários dos jogadores de futebol que usam a seleção nacional para promover a sua “mercadoria” e influenciam negativamente as melhores escolhas de quem seleciona os poucos melhores que o país tem.
Sobre o banco da borboleta é preciso ser muito mais exigente, quer com o banco de Portugal quer com o governo. É preciso saber a verdade sem rodeios e conhecer, no geral, os planos do governo para a resolução do problema. Pacheco Pereira diz que aquela gente (que até já foi a sua gente) navega à vista ou à Costa e não faz a mínima ideia do que anda a fazer, o que só por sorte seria melhor do que andar a fazer coisas erradas. Muitas vezes tenho as mesmas sensações que Pacheco Pereira,  mas como não temos informações suficientes não podemos opinar com justiça.


No entanto era importante que tivéssemos essa informação. Já que mais uma vez vamos pagar a conta daquilo que os outros comeram e arrotaram, era o mínimo da decência apresentar a conta descriminada… talvez ainda possamos salvar alguns pagamentos indevidos ou então ganharmos vinte segundos de coragem e recusarmos o pagamento. Isso nos dias que correm apenas quer dizer recusar uma venda apressada e ao desbarato. É só lembrar que esta equipa governativa vendeu o “BPN Bom” por 1% daquilo que ele nos custou e ainda ficou com toda a porcaria que as leis do mercado produziram durante anos e que agora se chamam “produtos tóxicos”.
Paulo Bento e Vítor Bento, impotentes e traídos, qual borboletas, bateram asas de corpos em decomposição e destaparam a tampa. Agora que sentimos o cheiro, vamos desviar o olhar e o passo ou calçamos umas luvas e começamos o processo de limpeza da podridão? É que se não formos até ela, ela virá até nós.     
Gabriel Vilas Boas
  

domingo, 13 de julho de 2014

BES, BCP, BPN - MONEY FOR NOTHING


   Há cerca de 25 anos Portugal estava completamente apaixonado por mais um professor de economia e finanças (o mesmo que hoje aguarda pacientemente que se cumpram os prazos legalmente estabelecidos para entrar num asilo de verdade) e poucos se lembravam que, seis antes, um governo de salvação nacional e verdadeiros amigos alemães nos tinham salvado da bancarrota.
      Era tempo de esquecer tristezas porque fundos a perder de vista iam entrar pelos gabinetes ministeriais e, excetuando o “Independente” de Paulo Portas, não havia ninguém para escrutinar tão avultadas transações.
      Cavaco declarara, à professor, “P'ró betão e p'ró alcatrão e em força”. Ferreira do Amaral plantou-lhe IP’s, A1, A2 e A3, que havíamos de pagar; Leonor Beleza pediu hospitais; Álvaro Barreto mandava plantar e desplantar, mas os agricultores colhiam sempre o mesmo: subsídios e jipes.
      Alguém lembrou o óbvio: “Quem seriam os intermediários para tanto negócio a fazer?”. Os bancos, claro está! Outro alguém, advertiu: “Mas tem de ser alguém da nossa confiança!” e logo o avisado acrescentou: “… e da deles, porque isto vira de vez em quando!”


        Então, Oliveira e Costa saiu do governo e foi para o BPN emprestar dinheiro e comprar cumplicidades ao bloco central dos interesses; o BES expandiu a sua rede tentacular de negócios e reabilitou aquele partido que Cavaco quase destruíra; enquanto isso, o BCP aproveitava a recompra, sem concorrência, do Totta aos espanhóis, para lançar uma OPA hostil ao BPA. Cavaco lá teve de se antecipar a Guterres e informar os ex-amigos que “Era a vida. Eles também têm de ter o banco deles. E tiveram.
      A grande corrida ia começar e todos estavam a postos e nos seus lugares: a Caixa fazia de velho patriarca familiar e dava respeitabilidade ao sistema; BES, BCP e BPN (o arco do poder) eram os filhos, ávidos de poder e dinheiro que fariam de tudo para ficar com a melhor parte da fortuna do pai: privatizações da PT, GALP e EDP… Havia ainda um tio velho e rezingão que só se queria vingar da esquerda de abril e logo que pôde espetou a faca a Guterres ao trocar o império Champalimaud por ações do Santander; e também um sobrinho desalinhado (BPI) a quem foi permitido jogar o jogo da fortuna, mas apenas no papel de ator secundário.
     Seguiram-se consultadorias financeiras em barda e generosamente pagas, privatizações em fatias sucessivas e cada vez mais calóricas. Os bancos prosperavam, incorporavam ex-governantes e emprestavam dinheiro que iam buscar a 1% ou 2% para satisfazer os caprichos infantis de governantes falhos de ideias de desenvolvimento.
        O povo achava ótimo. Emprestavam-lhe dinheiro para a casa, para o carro e para as férias, bem acima das garantias dadas.


      Ninguém lhe disse que a bolha havia de rebentar na América e atravessar o Atlântico. O Paulinho deixara de ser “Independente” e quis ser Popular… nas feiras, no partido e no governo.
       Guterres já se tinha sentido enojado com o mau cheiro do pântano e refugiara-se tão longe que poucos sabem onde, mas ainda havia alguém para vender banha da cobra por ouro de primeiro quilate. Um verdadeiro animal político, dizia-se… Dos bancos ainda lhe gritaram, desesperados, que era preciso responsabilidade porque o “muro” era já ali.
       O Banco de Portugal sabia que os bancos só tinham papéis sem valor e que só o nome do país garantia empréstimo para pagar empréstimo, sempre a juros mais elevados. Mas ninguém queria mudar de vida. As administrações dos bancos cometiam erros de gestão absurdos de tão dependentes que estavam do poder político.
      Montavam-se complexos esquemas para embelezar as feias contas públicas e privadas até que chegou à Europa o pus da bolha gigante que a administração Bush deixou rebentar em Nova Iorque. Nem para maquilhagem havia dinheiro.


      Os ratos fugiram para Bruxelas e teve de ser uma senhora, armada em sopeira, a impor a dieta a colher de pau. Como tinha mais que fazer deixou cá dois ajudantes de cozinha para controlar a dose do paciente, mas um não sabia os passos que havia que dar e outro era tão inseguro que até da sombra tinha medo.
       Aos bancos disseram para arrumar aquela papelada tóxica no lixo da Mody’s, mas eles não quiseram sujar as mãos e tivemos de ser nós a reciclar o material mais perigoso. Ao que parece há mais lixo no pântano de Guterres, mas acho que toda a gente já reciclou o que tinha a reciclar.

Gabriel Vilas Boas.