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sábado, 14 de maio de 2016

MONEY MONSTER


Estreou esta semana “Money Monster” – um filme perturbador, arrebatador e intenso sobre um tema intemporal: o poder destruído do dinheiro.
Interpretado por George Clooney, Julia Roberts, Jack O’’Connell, Money Monster afirma a bela Judie Foster enquanto realizadora, quatro décadas depois da sua precoce estreia como atriz em Taxi Driver. Fosster propõe-nos um filme sobre a fraude do sistema financeiro através de um drama intenso, onde o desespero de um pobre homem, que perdeu todas as poupanças que a mãe lhe deixara, como herança no jogo da bolsa, leva-o à loucura de enfrentar um monstro sem rosto – a ganância.

Em Money Monster não há quem seja 100% culpado nem quem seja 100% inocente, mas há personagens com quem instintivamente simpatizamos, outras que odiamos visceralmente e aquelas a quem acabamos por desculpar.
O grande trunfo do filme é que nos envolve como se também nós nos sentíssemos espetadores involuntários daquele sequestro do rosto mediático da fraude e também nós quiséssemos saber – De onde vem e para onde vai o dinheiro que todos os dias se perde e se ganha na bolsa?
No final, percebemos que esse dinheiro vem da pequena ganância que habita todo o ser humano e vai, quase sempre, para uma conta secreta do dono de uma dessas empresas fantasma que se anuncia muito sólida mas na verdade treme como gelatina e está cheia de ar.
Lee Gates (G. Clooney) é o apresentador do programa televisivo Money Monster, onde dá dicas sobre o mercado financeiro, num estilo popstar, próprio do jornalismo sensacionalista dos tempos modernos. Um dia, um desconhecido (Jack O’’Connell) invade o programa quando este estava a ser gravado e exige a cobertura em direto do sequestro, sob pena de atingir mortalmente o famoso apresentador. E só nessa altura é que a equipa de “Money Monster” vai à procura de respostas sólidas sobre a empresa, que provocou a perda de 800 milhões de euros a pequenos investidores, e descobre um esquema fraudulento, muito bem arquitetado e vendido a preceito pelo programa “Money Monster”.  

Fazer-nos perceber como grandes abstrações da economia global (futuros, flutuações do mercado, mercados) é uma das grandes virtudes desta película. Outra é obrigar-nos a refletir como a informação que nos disponibilizam nem sempre é a mais pura e bem-intencionada.



Money Monster foi traduzido como Jogo do Dinheiro, sugerindo o jogo do mercado bolsista, mas eu retenho a tradução literal – O Monstro Dinheiro. No início não passa de uma brincadeira pueril, um jogo, mas rapidamente assume formas monstruosas, diabolizando-nos a vida.
Quase sempre se perde quando se luta contra um monstro. Ele só é enganado quando enfrenta uma espécie de loucura inteligente e isso, como todos nós sabemos, é uma improbabilidade matemática.

Gabriel Vilas Boas

terça-feira, 10 de março de 2015

RICARDO "ONZENEIRO" SALGADINHO




(Entretanto, um banqueiro apressado, com um mala na mão entra a anunciar a venda dum produto bancário)
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Ações do BES, GES e do PES! Quem quer comprar? Boas e baratas! Boas e baratas! Oportunidade única! Se quer ter um rendimento extra, esta é a sua oportunidade. Quero comprar um lote? Dois lotes?
(Oferece a compra das ações ao diabo, que assiste de braços cruzados e a abanar a cabeça, ao Sócrates e a Teresa Guilherme, que o afastam com um gesto brusco)
DIABO: Arruma lá essa porcaria que aqui ninguém quer nada disso! Isso é material tóxico. Só de cheirar (e faz o gesto de cheirar) uma pessoa fica logo contaminado e os juros do inferno sobem em flecha.


RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Qual contaminado, qual quê? Aqui as ações do mano Ricardo Salgadinho estão a subir na bolsa de Nova Iorque.
DIABO: O único sítio onde essa coisa sobe é na lixeira. Olha, em Portugal, há muita gente que tem desse lixo e agora anda a chorar pelos cantos porque ninguém dá 10 cêntimos por essa coisa imunda.
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Tu é que não tens visão de mercado. Agora valem pouco, mas daqui a meio ano vão valer uma fortuna. Mas não queres, não insisto, há de haver quem queira ficar rico.
DIABO: Tu tens uma lata desgraçada, ó Salgadinho. Eu nunca vi ninguém na nossa família como tu. Tu enganaste o nosso primo, o Ritchiardi, tu enganaste o vaidoso do Sócrates, tu enganaste o tolo do Costa do Banco de Portugal, o FMI, a troika.
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Ehehehehe até que enganei a ti.
DIABO: A mim?
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Lembras-te daqueles ações que compraste o ano passado? Aquelas que eu disse que também vendi à minha irmã?
DIABO: Aquelas que tu disseste que teriam um prémio de 100%?
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Sim essas. Olha… dei-as como caução para não ir para a prisão. Já não são minhas, são da polícia.
(corre furioso atrás de Ricardo Salgadinho, mas não o apanha. Ao fim dum bom bocado, ofegante, para e atira)
DIABO: E eu não as posso recuperar?
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Podes… vais para a prisão por mim que já as recuperas. ehehehe


DIABO: Tu és pior que o diabo! Eu nunca vi um aldrabão tão grande. Tu não tens vergonha daquelas pessoas que te puseram todas a economias no teu banco e agora não têm nada?
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Eu pena tenho, não tenho é dinheiro para lhes dar. Se elas quiserem tenho aqui um saco de penas para lhes pagar
(e tira da mala uma saca de penas que atira ao ar, enquanto ri, e o diabo corre novamente atrás dele, furioso)
DIABO: Sai-me da frente que eu já nem te posso ver. Desaparece-me da vista, seu vigarista.
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Também não fazia intenções de ficar por aqui. A tua casa está cheia de gente como eu e com eles não faço negócio de jeito.
DIABO: Vai-te daqui, seu mentiroso. Vai enganar esse anjinho de meia tijela a quem rezavas aos domingos de manhã. Aposto que foi ele que te protegeu estes anos todos.
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Pronto, pronto… não te irrites! Eu vou já falar com aquele tótó. Pode ser que ele me abra a porta. Afinal eu sou “Espírito Santo” por parte da minha mulher, que é uma santa…
DIABO: Vai, vai. Vais levar uma ripeirada que até te caiem os dentes.
(Com ar de importante, dirige-se ao anjo)
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Querida sobrinha, a tia Espírito Santo manda-lha cumprimentos. Também lhe mandou duas fatias de bolo, mas comi uma e a outra dei ao taxista que me trouxe até aqui, porque agora ninguém me dá boleia.
ANJO: Já te deram muito e tu perdeste tudo! És a vergonha do céu e do inferno, Ricardo.
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Não sejas má comigo. Tive azar! Joguei todo o dinheiro que tinha na bolsa de Nova Iorque e perdi.

ANJO: E continuas tu a mentir! Não te cansas! Tu desapareceste com o dinheiro dos teus clientes e deves tê-lo em alguma ilha offshore escondido. O que é fizeste aos 900 milhões da PT?
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Não está bom de ver? Gastei-o a fazer chamadas para o Brasil, Angola, Estados Unidos, Ilhas Caimão. O pessoal começava com aquela conversa mole “oi cara, tudo legal? Aqui há da grama! E tu já sabes como é:conversa puxa conversa e ficávamos horas naquilo…. A negociar.
ANJO: Tu és um cara com muita lata! Por tua causa é que a OI nos obrigou a dizer Tchau à PT.
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Olha é como dizia o Guterres, “É a vida”, acontece aos melhores.
ANJO: Só a ti é que não te aconteceu nada. Nem preso foste! Como é que convenceste o juiz Carlos Alexandre a não te prender preventivamente como fez com o Sócrates?
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Foi fácil. Disse-lhe: prende o Sócrates que muito do dinheiro que eu gastei foi a suborná-lo.
ANJO: E ele acreditou em ti?
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: Se os portugueses depositavam dinheiro no BES como é que o juiz não havia de depositar confiança em mim. Ele detesta é o Sócrates.
ANJO: Sabes o que te digo?
RICARDO “Onzeneiro” SALGADINHO: O que me dizes?
ANJO: Vais para o inferno porque tu e o Sócrates são farinha do mesmo saco e sem vocês os dois o diabo não tem pão para amassar.
RICARDO “Onzeneiro” SALGADO: Mas ele (apontando para o diabo) já disse que não me aguenta daquele lado (e aponta para o inferno).
ANJO: É aguenta, aguenta! Se os portugueses aguentaram contigo e com o Sócrates ele também aguenta!

DIABO: (faz sinal ao Ricardo Salgadinho com um assobio e com o braço): Anda cá ao Ricardo. Pensando melhor, acho que preciso de ti. Já tenho o pão (aponta para o Sócrates), já tenho a pimenta (aponta para Teresa Guilherme), agora falta o sal (aponta para Ricardo Salgadinho). Depois é só amassar e mandar para o Passos Coelho comer!

GAVB