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domingo, 13 de julho de 2014

BES, BCP, BPN - MONEY FOR NOTHING


   Há cerca de 25 anos Portugal estava completamente apaixonado por mais um professor de economia e finanças (o mesmo que hoje aguarda pacientemente que se cumpram os prazos legalmente estabelecidos para entrar num asilo de verdade) e poucos se lembravam que, seis antes, um governo de salvação nacional e verdadeiros amigos alemães nos tinham salvado da bancarrota.
      Era tempo de esquecer tristezas porque fundos a perder de vista iam entrar pelos gabinetes ministeriais e, excetuando o “Independente” de Paulo Portas, não havia ninguém para escrutinar tão avultadas transações.
      Cavaco declarara, à professor, “P'ró betão e p'ró alcatrão e em força”. Ferreira do Amaral plantou-lhe IP’s, A1, A2 e A3, que havíamos de pagar; Leonor Beleza pediu hospitais; Álvaro Barreto mandava plantar e desplantar, mas os agricultores colhiam sempre o mesmo: subsídios e jipes.
      Alguém lembrou o óbvio: “Quem seriam os intermediários para tanto negócio a fazer?”. Os bancos, claro está! Outro alguém, advertiu: “Mas tem de ser alguém da nossa confiança!” e logo o avisado acrescentou: “… e da deles, porque isto vira de vez em quando!”


        Então, Oliveira e Costa saiu do governo e foi para o BPN emprestar dinheiro e comprar cumplicidades ao bloco central dos interesses; o BES expandiu a sua rede tentacular de negócios e reabilitou aquele partido que Cavaco quase destruíra; enquanto isso, o BCP aproveitava a recompra, sem concorrência, do Totta aos espanhóis, para lançar uma OPA hostil ao BPA. Cavaco lá teve de se antecipar a Guterres e informar os ex-amigos que “Era a vida. Eles também têm de ter o banco deles. E tiveram.
      A grande corrida ia começar e todos estavam a postos e nos seus lugares: a Caixa fazia de velho patriarca familiar e dava respeitabilidade ao sistema; BES, BCP e BPN (o arco do poder) eram os filhos, ávidos de poder e dinheiro que fariam de tudo para ficar com a melhor parte da fortuna do pai: privatizações da PT, GALP e EDP… Havia ainda um tio velho e rezingão que só se queria vingar da esquerda de abril e logo que pôde espetou a faca a Guterres ao trocar o império Champalimaud por ações do Santander; e também um sobrinho desalinhado (BPI) a quem foi permitido jogar o jogo da fortuna, mas apenas no papel de ator secundário.
     Seguiram-se consultadorias financeiras em barda e generosamente pagas, privatizações em fatias sucessivas e cada vez mais calóricas. Os bancos prosperavam, incorporavam ex-governantes e emprestavam dinheiro que iam buscar a 1% ou 2% para satisfazer os caprichos infantis de governantes falhos de ideias de desenvolvimento.
        O povo achava ótimo. Emprestavam-lhe dinheiro para a casa, para o carro e para as férias, bem acima das garantias dadas.


      Ninguém lhe disse que a bolha havia de rebentar na América e atravessar o Atlântico. O Paulinho deixara de ser “Independente” e quis ser Popular… nas feiras, no partido e no governo.
       Guterres já se tinha sentido enojado com o mau cheiro do pântano e refugiara-se tão longe que poucos sabem onde, mas ainda havia alguém para vender banha da cobra por ouro de primeiro quilate. Um verdadeiro animal político, dizia-se… Dos bancos ainda lhe gritaram, desesperados, que era preciso responsabilidade porque o “muro” era já ali.
       O Banco de Portugal sabia que os bancos só tinham papéis sem valor e que só o nome do país garantia empréstimo para pagar empréstimo, sempre a juros mais elevados. Mas ninguém queria mudar de vida. As administrações dos bancos cometiam erros de gestão absurdos de tão dependentes que estavam do poder político.
      Montavam-se complexos esquemas para embelezar as feias contas públicas e privadas até que chegou à Europa o pus da bolha gigante que a administração Bush deixou rebentar em Nova Iorque. Nem para maquilhagem havia dinheiro.


      Os ratos fugiram para Bruxelas e teve de ser uma senhora, armada em sopeira, a impor a dieta a colher de pau. Como tinha mais que fazer deixou cá dois ajudantes de cozinha para controlar a dose do paciente, mas um não sabia os passos que havia que dar e outro era tão inseguro que até da sombra tinha medo.
       Aos bancos disseram para arrumar aquela papelada tóxica no lixo da Mody’s, mas eles não quiseram sujar as mãos e tivemos de ser nós a reciclar o material mais perigoso. Ao que parece há mais lixo no pântano de Guterres, mas acho que toda a gente já reciclou o que tinha a reciclar.

Gabriel Vilas Boas.

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