Terminou, hoje, no Champs-Élysées, Em Paris, a centésima primeira edição do
Tour de France. A volta a França é talvez o maior e prestigiado evento
desportivo francês, mas nos últimos anos tem vivido um período negro, por causa
dos constantes casos de doping que envolveram alguns dos vencedores da prova,
nomeadamente o norte-americano Lance Armstrong.
O
tour nasceu em 1903, por inciativa do jornal francês L’Auto, que passava uma crise de vendas e lançou esta prova de ciclismo com o objetivo de
aumentar as suas tiragens. O líder da prova anda vestido com uma camisola
amarela, pois essa era a cor das páginas do jornal.
O tour começou por ser uma prova
destinada a ciclistas franceses, mas a pouco e pouco foi acolhendo ciclistas
doutros países, ganhando fama e tornando os seus vencedores verdadeiros
heróis nacionais. Devido à sua exigência e dificuldade, os melhores ciclistas
mundiais projetavam a sua melhor forma física para os 23 dias em que a prova
decorre, sempre no mês de Julho. São cerca de 3500 km, percorrendo as
principais cidades franceses, entre planícies, planaltos e as altas montanhas
dos pirinéus e dos alpes, para terminar no centro da capital francesa nos
míticos Champs-Elysées.
A história do Tour é também a
história dos seus heróis, ou seja, os seus mais consagrados vencedores. Jacques
Anquetil (França), Bernard Hinault (França), Edy Merckx (Bélgica) e Miguel
Indurain (Espanha) venceram a prova cinco vezes e são os maiores vencedores de
sempre. Até há pouco mais de um ano, o norte-americano Lance Armstrong detinha
o record de vitórias na volta à França com sete vitórias consecutivas, entre
1999 e 2005, mas estes títulos foram-lhe retirados depois duma longa
investigação e posterior condenação por uso de doping.
O uso de doping
sempre foi o grande problema do ciclismo, mas nas últimas duas décadas têm-se
multiplicado os casos, envolvendo os melhores ciclistas mundiais. Depois do
caso de Lance Armstrong muitas suspeitas se têm lançado sobre os vencedores das principais provas de ciclismo mundial e muitos fãs desta modalidade desportiva
afastaram-se, desgostosos com os pés de barros dos seus “deuses” que voavam até
ao col du tourmalet.
Depois de completar a sua
centésima edição, vivendo a maior crise de honorabilidade de sempre, o Tour
inicia o seu segundo centenário de existência tentando recuperar credibilidade.
Talvez não interesse tanto fazer surgir novos heróis, como Armstrong, Hinault,
Marcks ou Lemond, mas fazer acreditar os milhões de fãs do ciclismo na Europa e
na América que o ciclismo é um desporto limpo, onde triunfa o mais forte e
dotado, aquele que merece inscrever o seu nome no livro sagrado do Tour.
Nunca um português triunfou na
maior prova velocipédica mundial. O melhor resultado de sempre foi conseguido
por Joaquim Agostinho, essa força bruta da natureza, em 1978 e em 1979, com dois
terceiros-lugares. Atualmente, o maior ídolo do ciclismo português é o campeão
do mundo de estrada, Rui Costa. Infelizmente ainda não foi este ano que
conseguiu uma classificação honrosa e acabou por desistir.
Hoje, em Paris, triunfou um
desconhecido, o italiano Vicenzo Nibali. Talvez o Tour precise destes heróis involuntários e passageiros, que daqui por um ano se afundem novamente
no anonimato, para voltar a ser a prova que seduziu tantos milhões de pessoas
em toda a europa.
Gabriel Vilas Boas
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