Há precisamente 100 anos eclodia no centro da Europa a Primeira Guerra Mundial. A partir desta data, o mundo nunca mais foi o mesmo, quer do ponto de vista geográfico e político, quer do ponto de vista social e até psicológico.
Neste dia, há cem anos, os soldados do império austro-húngaro invadiam a Sérvia, respondendo brutalmente ao assassínio, um mês antes, do arquiduque Francisco Fernando da Áustria (herdeiro do trono austro-húngaro), em Sarajevo, na Bósnia, pelo nacionalista jugoslavo Gravilo Princip. Ao mesmo tempo, as tropas do Império Alemão entravam pelas fronteiras da França, Luxemburgo e Bélgica dentro. Ainda que passasse por dificuldades, o Império Otomano acabou por alinhar ao lado do Império Alemão, pois era deste lado que incidia as principais perspetivas de vitória.
Contra estes desejos imperialistas de expansão ilegítima, levantou-se a invadida França, o Império Britânico e o Império Russo. Mais tarde juntou-se-lhes o Reino de Itália e os EUA. Muitos outros países alinharam ao lado de cada um dos dois blocos em conflito, tornando esta, uma verdadeira guerra à escala planetária.
O palco foi a Europa, que ficou totalmente destruída, e envolveu cerca de 70 milhões de pessoas, dos quais 60 milhões foram europeus. O número de mortos também foi assustador: 9 milhões, ou seja, quase toda a população atual de Portugal.
Os combates duraram mais de quatro anos (o final da guerra foi declarado em 11 de Novembro de 1918) e neles foram usadas armas surpreendentemente letais. Os avanços tecnológicos, proporcionados pela revolução industrial, revelaram exércitos com uma grande capacidade destruidora. Apesar do impressionante número de mortos, o futuro mostraria conflitos ainda mortíferos de tal modo que este é apenas o sexto conflito com maior número de mortos de sempre.
Os avanços na tecnologia militar significaram um poder de fogo defensivo mais poderoso que as capacidades ofensivas, tornando a guerra extremamente mortífera. O arame farpado era um constante obstáculo para os avanços da infantaria; a artilharia era muito mais letal que no século XIX, pois estava armada com poderosas metralhadoras. Os alemães começaram a usar gás cloro em 1915, no que foi a primeira utilização de armas químicas, e logo depois ambos os lados usavam a mesma estratégia. Nenhum dos lados ganhou a guerra pelo uso de tal artifício, mas eles tornaram a vida nas trincheiras ainda mais miserável tornando-se um dos mais temidos e lembrados horrores de guerra.
No início o conflito ainda parecia haver alguma ética militar, pois no Natal de 1914, soldados de ambos os lados cessaram as hostilidades, saíram das trincheiras e cumprimentaram-se. Isto ocorreu sem o consentimento do comando, no entanto, foi um evento único. Não se repetiu posteriormente por diversas razões: o número de baixas aumentou os sentimentos de ódio dos soldados e o comando, dados os acontecimentos do primeiro ano, tentou usar esta altura para fazer propaganda, o que levou os soldados a desconfiar ainda mais uns dos outros.
Com a entrada em cena dos EUA, chegaram novas estratégias militares dos aliados e inovadores equipamentos de guerra como o carro de combate e os aviões militares. Rapidamente, os aliados ganharam ascendente decisivo sobre as forças imperialistas, que não conseguiram evitar a derrota.
O desfecho da Primeira Guerra Mundial trouxe alterações geográficas e políticas na Europa: desapareceram os Impérios Alemão, Austro-húngaro e Otomano. O Império Russo também viu chegar o fim da sua existência com o triunfo dos bolcheviques na revolução comunista de 1917, que tornaria vermelha a ideologia a leste e mudaria as coordenadas políticas da Europa no século XX.
Os vencedores impuseram uma rendição humilhante, dolorosa e dispendiosa aos alemães através do Tratado de Versalhes e isso estaria na génese do ódio recalcado dos alemães que conduziria a Europa a novo conflito vinte anos depois, apesar do final do guerra ter trazido a criação da Sociedade das Nações (precursora da ONU), cujo objetivo era evitar que novo conflito mundial tornasse a eclodir.
Portugal teve uma participação breve e infeliz na Primeira Guerra Mundial. Apesar de ter alinhado ao lado dos vencedores, a nossa partição provocou inúmeras baixas no Corpo Expedicionário Português que entrou completamente impreparado na Guerra e sofreu, em muito pouco tempo, um número inusitado de baixas.
Quando terminou, a guerra tinha devastado toda a Europa central, havia mesmo países completamente destruídos e os vencedores impuseram a ruína aos vencidos. Impérios tinham sido desfeitos e o ódio instalou-se nas relações entre povos, por longas décadas.
A raiz do mal, disfarçada de nacionalismo exacerbado, veio para ficar e o mundo nunca mais seria o mesmo a partir de então. Poucos foram aqueles que aprenderam com a História...
Gabriel Vilas Boas
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