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domingo, 6 de julho de 2014

WIMBLEDON



Neste fim-de-semana Inglaterra é o centro do desporto mundial. Acaba mais uma edição do mítico torneio de ténis de Wimbledon e começa o 101.º Tour de France. As duas centenárias provas desportivas são símbolos culturais da França e da Inglaterra, as duas nações mais relevantes na Europa e das mais importantes no mundo. Falar de ciclismo é falar do Tour e falar de ténis sem falar de Wimbledon é impossível, pois ambas as competições constituem o expoente máximo de cada modalidade.

Hoje falarei do torneio de Wimbledon e daqui a algumas semanas abordaremos o Tour.

O torneio de Wimbledon existe há mais 130 anos e só as guerras mundiais o pararam. Durante 90 anos era jogado entre amadores, mais no final da década de sessenta, o ténis e Wimbledon tiveram de aceitar o inevitável: o deporto tinha-se tornado profissional. Mas o glamour de Wimbledon reside no facto de ser um torneio jogado sobre relva, onde a técnica e o virtuosismo dos jogadores é mais evidente do que noutro qualquer torneio do Grande Slam. 

Vencer Wimbledon é um marco na carreira de qualquer tenista, um momento de consagração só ao alcance de grandes campeões. A nossa memória coletiva recorda campeões como Peter Sampras, Roger Federer, Martina Navratilova, Steffi Graf ou mais recentemente as Manas Williams (Venus e Serena), porque triunfaram no torneio inglês. 



Nenhum outro torneio traz tanta glória e fama ao seu vencedor como Wimbledon. Os ingleses sabem como ninguém organizar e valorizar uma competição desportiva porque são intransigentes e respeitadores dos valores essenciais do desporto. 

Também nenhum outro torneio de ténis é tão rigoroso com as “suas” regras como a prova que os ingleses organizam. Nos jogos, não existe qualquer tipo de propaganda ou patrocínio, um ponto bastante diferente dos demais torneios.

Os jogadores são obrigados a usar equipamento branco e só. Todos os itens de vestuários, incluindo chapéus, meias e sapatos, devem ser inteiramente brancos. Roger Federer chegou a ser repreendido pelos organizadores porque os seus sapatos em tons de laranja desrespeitavam as normas. Durante o torneio, os morangos e cremes são comidas típicas e são oferecidas aos espectadores e jogadores. Essa tradição existe desde 1877, tanto que, atualmente, morangos e ténis simbolizam a chegada do verão para os ingleses. Em Wimbledon, os meninos e meninas que recolhem as bolas são chamados de BBGs. Eles não devem ser vistos, precisam de ser discretos e prosseguir o trabalho sempre em voz baixa. Durante o evento os jogadores são referidos como Mr. e Miss, seja qual for o estado civil, especialmente no caso das mulheres.



Mas as curiosidades são mais do que muitas. Em 1877, o torneio só teve 22 participantes (todos homens) e a única modalidade praticada foi singulares masculinos. Assistiram à vitória de Spencer Gore duas centenas de pessoas enquanto hoje podem assistir, ao vivo, aos jogos de todo o torneio, quase 500 mil pessoas. Apesar das regras sobre o uso de equipamento branco se manterem inalteradas, o corte dos fatos foi mudando. Até 1919 as senhoras jogavam com vestidos que as cobriam desde o queixo ao chão. Nesse ano apareceram os primeiros vestidos que mostravam os tornozelos e os braços provocando uma enorme polémica. Nos homens, o primeiro jogador a usar calções num jogo de ténis em Wimbledon foi Henry “Bunny” Austin, em 1932. Na altura foi um choque para quem assistia ao jogo incluindo a Rainha Maria. Ao longo das décadas, as roupas usadas pelos jogadores foram-se reduzindo em tamanho para estes conseguirem mover-se mais livremente.

Quanto à parte técnica, o torneio envolve grande quantidade de meios materiais. Só a título de curiosidade, são usadas cerca de 50.000 bolas de ténis durante as três semanas em que a competição decorre. 

Também relevante, são os prémios monetários envolvidos. Desde 1968 (altura em que a competição passou a profissional) são atribuídos prémios cada vez mais significativos. Em 2012, por exemplo, o prémio em dinheiro para os vencedores singles femininos e masculinos foi de mais de 1,300.000€. Em 1968, o prémio foi de 2.300€ para singles masculinos e 870 € para femininos.


Quanto à competição em si, os grandes momentos estão cheios de pequenas histórias. O jogador mais jovem a consagrar-se campeão em Wimbledon foi o alemão Boris Becker, em 1985, com 17 anos, numa partida contra Kevin Curren e que teve a duração de 3 horas e 18 minutos. Por falar em duração, a final mais longa da história de Wimbledon aconteceu em 2010, na primeira ronda de Wimbledon que pôs frente a frente John Isner e Nicolas Mahut. Isner ganhou por 6-4, 3-6, 6-7(7), 7-6(3), 70-68. O jogo durou 11 horas e 5 minutos, ao longo de 3 dias.

Se este jogo entrou na história pela sua duração, muitos outros ficam registados pela sua espetacularidade. Uma das melhores finais de sempre (senão mesmo a melhor) ocorreu em 2008. A final de Wimbledon de 2008 é mesmo considerada a melhor final da história deste deporto. Rafael Nadal derrotou Roger Federer na luta pelo título. Os duelos entre Federer e o rival Nadal tornaram-se épicos ao longo dos anos, com inúmeras disputas de grande qualidade.

Quanto aos heróis, Wimbledon criou vários. O jogador com mais participações é o francês Jean Borotra que marcou presença em 35 torneios de wimbledon entre 1922 e 1964. Conquistou o seu último título com 41 anos. Em 1977 fez uma aparição na categoria doubles de Veteranos, com 78 anos, fazendo assim uma carreira em Wimbledon de 55 anos.

Wimbledon consagrou vários campeões. Nas mulheres, a checa Martina Navratilova venceu oito torneios, fazendo da sua rival de sempre, Chris Evert, a maior perdedora do torneio com sete finais perdidas. Felizmente, Evert havia de vencer Wimbledon por uma vez. Na era amadora, Helen Willis Modis também conseguiu oito vitórias e mais recentemente Steffi Graf chegou aos sete títulos. Nos homens, William Renshaw, ainda no século XIX, conseguiu oito vitórias na final de singles masculinos. O grande Peter Sampras, entre 1993 e 2000, conseguiu igualá-lo. Desde que começou o século XXI, Roger Federer tem quebrado todos os recordes e hoje poucos são aqueles que duvidam que ele seja o melhor tenista de todos os tempos.



Wimbledon é especial e mágico. É o único torneio do Grande Slam frequentado por uma família real. 

Hoje, perante o olhar do príncipe William e da pincesa Kate Middleton, o sérvio Djokovic repetiu o triunfo de 2011 e impediu que Federer atingisse a imortalidade em Wimbledon, ultrapassando definitivamente o seu ídolo de juventude: Peter Sampras.

Gabriel Vilas Boas

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