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terça-feira, 15 de julho de 2014

AS CRUZADAS


      Um dos elementos fundamentais da Idade Média são as CRUZADAS. Genericamente, aprendemos que as Cruzadas foram movimentos militares cristãos que demandaram a Terra Santa (Jerusalém) com a finalidade de resgatá-la ao domínio dos islamitas e mantê-la sob domínio cristão.

      Hoje passam 915 anos desde que a Primeira Cruzada conquistou a Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém, tomando a cidade após um ataque final. Em 1095, o Papa Urbano II proclamara oficialmente esta Cruzada, com o objetivo de ajudar os cristãos ortodoxos de leste a libertar-se do domínio muçulmano. Nobres e povo responderam à chamada e organizaram uma expedição que alcançaria sucesso quatro anos mais tarde. 

      Um pouco precipitadamente e de maneira não oficial, o monge Pedro reunira uma multidão onde se incluíam mulheres, velhos e crianças para atuar como guerreiros. A expedição até chegou ao Oriente, mas foi facilmente massacrada. A Primeira Cruzada oficial teve chancela papal e juntava a melhor nobreza europeia. No ano de 1096 partiu para Oriente e obteve sucesso, conquistando a Terra Santa, o Principado de Antióquia e os condados de Trípoli e Edessa.

    Após este sucesso militar cristão, outros se seguiram durante os séculos seguintes, marcando, indelevelmente, quer a Idade Média quer as relações entre cristãos e muçulmanos até aos dias de hoje. As duas religiões assumiram-se como inimigas e os povos que professaram cada uma das religiões justificaram a maioria das suas ações militares e de tomada de territórios como uma luta contra o infiel, ou seja, as lutas assumiram sempre um cunho de guerra santa. Esta noção de inimizade religiosa tornou-se cultural e ainda hoje perdura na mentalidade da maioria dos povos ocidentais cristãos e muçulmanos do Médio Oriente. 



       Curiosamente, o termo cruzado não era muito usado na época, pois os cristãos designavam estas lutas como “peregrinação” ou “guerra santa” enquanto os muçulmanos apenas lhes chamavam “invasões francas”, isto porque a maioria dos nobres que faziam parte destas cruzadas provinham do império Carolíngio e autodenominavam-se francos. O nome vem da cruz de Cristo que estes soldados usavam nos seus escudos e vestuário.

     Além de alterarem, para todo o sempre, as relações entre os seguidores de Cristo e de Maomé, as Cruzadas determinaram o renascimento do comércio da Europa, já que muitos cavaleiros, ao regressarem do Oriente, saqueavam cidades e com o produto desse saque montavam pequenas feiras nas rotas comerciais. 

      Estes guerreiros inseriram também, na Europa, novos conhecimentos provenientes do Oriente, através da influente sabedoria dos povos árabes.

       Na vertente cultural, as Cruzadas favoreceram o desenvolvimento de um tipo de literatura voltado para as guerras e grandes feitos heroicos. Muitos contos de cavalaria tiveram como tema principal estes conflitos.



       A primeira Cruzada foi também muito importante pois a partir dela formou-se a Ordem dos Cavaleiros Templários, que teve uma grande importância nas Cruzadas posteriores. Curiosamente, estes monges fizeram voto de castidade e pobreza, mas as cruzadas permitiram-lhes acumular muita riqueza e tornar-se muito poderosos em toda a cristandade. A sua influência política, económica e militar foi tão grande que Filipe IV de França pensou apropriar-se dos seus bens, acusando os seus líderes e seguidores de heresia. A destruição da Ordem do Templo propiciou ao rei francês não apenas os tesouros imensos da Ordem (que estabelecera o início do sistema bancário), mas também a eliminação do exército da Igreja, o que o tornava senhor e rei absoluto, na França.

      Na minha opinião, as Cruzadas trouxeram à Europa e à Igreja Católica mais aspetos negativos. Muitas das guerras que marcaram o segundo milénio da era cristã, tiveram origem neste ódio entre religiões que jamais se conseguiu sanar por completo e se transmutou numa antipatia cultural que ainda hoje dura. Por outro lado, as cruzadas revelaram aquilo que marca a Igreja Católica na Idade Média e que está nos antípodas do ideário cristão: o desejo imoral de ter terras, poder, dinheiro, ou seja, ser o senhor da Europa, do ponto de vista terreno. Para tal, a Igreja dispunha-se a matar, roubar, saquear, massacrar. 
     Tendo como objetivo inicial algo de aceitável, as Cruzadas iniciariam um dos períodos mais negros da História da Igreja Católica, na medida em que subverteriam a própria essência da religião fundada por Jesus Cristo.

Gabriel Vilas Boas

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