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quinta-feira, 17 de julho de 2014

DA ARTE, DA PINTURA, DA EXPOSIÇÃO "ANTÓNIO CARDOSO EM PARALELO - ARTE, MEMÓRIAS, REFERÊNCIAS EM CONTEXTOS"

António Cardoso,Amarante,1959, Aguarela sobre papel, coleção do autor

Também por António Cardoso vale a pena ser Amarantino(a) e orgulharmo-nos disso.
De trato fácil, de discurso fluido e preciso, a cativar as diferentes assembleias a que presidiu ou preside, fosse nas suas aulas ou nos cursos livres de História da Arte a que, em parceria com a Biblioteca Municipal Albano Sardoeira, sempre nos habituou, o Professor António Cardoso também se evidenciou na pintura. A exposição “António Cardoso em Paralelo-Arte, Memórias e Contextos”, patente no MASC, é de visita obrigatória para qualquer apreciador de arte e amarantino que se preze.
Nascido em Amarante em 1932, inicia a sua formação artística na Academia Alvarez, nos anos cinquenta e já em 1965, na Escola Superior de Belas Artes do Porto. Mas o gosto pela História da Arte era enorme e, em 1974,termina a licenciatura em História, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e o doutoramento em História da Arte com a tese sobre o arquiteto Marques da Silva e a arquitetura do Norte do país, na segunda metade do século XX. Em 1981, ingressa no quadro de docentes do curso de História daquela faculdade, variante de Arte, lecionando diversas cadeiras do curso e Mestrado de História da Arte.
Multifacetado, porque professor, museólogo, conferencista e até crítico de arte, António Cardoso sempre pintou e desenhou. A sua dimensão artística foi sendo moldada pelas viagens na sua moto que a partir de 1956, como bem afirma Maria Leonor Barbosa Soares,” … partiu sozinho descobrindo Salamanca, Madrid, Toledo, Barcelona, Lourdes, S.Sebastian, Chartres, Orléans, Tours… aos comandos da sua BSA…”.
Mas as viagens prosseguiam, indómitas. Rouen e Monet, Van Gogh e Arles, Cézanne e Avignon, Picasso e Vallauris. Roteiros plenos de arte e inspiração.
A incontornável Paris reencontrada também através dos escritores e pintores; Marselha e Le Corbusier, onde visita Unité d’Habitation, Pont-Aven e Le Pouldu onde adivinha Gauguin…tantas viagens, tantas experiências e sensações traduzidas depois em desenhos e pinturas novas plenas de vigor.
É em 1957 que Amarante surge nas suas telas. Cenários arquitetónicos de outras cidades também o ocupam.
                                                      António Cardoso, Amarante, 1960, óleo sobre tela, coleção do autor

                                                            
                                                          António Cardoso, Paisagem do Marão,                             
óleo sobre platex, Coleção Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso

Em Paisagem do Marão, o pintor lembra-me Pascoaes. Nenhum Amarantino é imune à Serra que nos observa, altaneira. Uma Serra que “não dá palha nem grão”, mas que é orgulhosa da sua pujança e da sua soberania. Eu própria, observo-a todos os dias, da portada do meu quarto, ao acordar. E todos nós a admiramos, para todos nós ela é sagrada, como bem disse Pascoaes:

“Ó sagrada montanha que eu adoro!
(…)
Longes espirituais, distâncias tristes…
Incorpórea paisagem sublimada,
Feita de ignotas sombras e mistérios,
Em roxo véu de lágrimas velada…

Conheci o Professor António Cardoso numa entrevista para o curso de Museologia a que me candidatei, na Faculdade de Letras do Porto. Gostei logo dele. Assertivo, frontal, mas suave e reconfortante no tom inquiridor em que o diálogo se foi desenrolando. Uns tempos mais tarde, um telefonema da Faculdade informava que havia sido selecionada, mas a Vida troca-nos as voltas com as Voltas que a Vida dá. Não o frequentei, com pena minha. Entretanto, sempre que havia algo de novo, um curso, uma palestra, eu estava lá. O seu poder de comunicação arrastou sempre multidões de qualidade, ávidos dos seus ensinamentos. Eu não fui exceção.
A última vez que nos encontrámos e demos um abraço, foi em Esposende, em casa da minha querida amiga Camila, sua cunhada. Uma verdadeira casa museu, de fachada secular, que alberga tesouros e memórias que eu não me cansarei nunca de apreciar, acompanhada por um chá, ali, ou depois de um passeio pela marginal, no Hotel Suave Mar. A amizade cultiva-se sempre ao redor de um bom chá, não é verdade?
Neste último encontro, voltou a falar-me nos seus quadros, que havia vendido ao Francisco Fonseca, há anos. Sabe, dizia-me, estou a pensar numa exposição. Tem de mos emprestar. Mas as exposições têm um fio condutor, um encadeamento cronológico qualquer, contam também uma história, histórias. Desta vez, nesta exposição, não couberam.
Mas como me habituei a vê-los, a observá-los, a gostar deles com carinho, partilho-os hoje com os meus leitores, com um obrigado à minha sobrinha Sara, que os fotografou apressadamente para mim. Quem sabe, para a próxima? Eu, adoro-os.
Tanto mais ainda para dizer, António Cardoso é imenso. Mas se pelo menos vos tiver convencido a visitar em Amarante a sua exposição, ótimo.
Fiquem bem.


António Cardoso, óleo sobre tela, Coleção particular de Francisco José da Fonseca


António Cardoso, óleo sobre tela, Coleção particular de Francisco José da Fonseca


Rosa Maria Alves da Fonseca

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