António Cardoso,Amarante,1959, Aguarela sobre papel, coleção do autor
Também por António Cardoso vale a
pena ser Amarantino(a) e orgulharmo-nos disso.
De trato fácil, de discurso
fluido e preciso, a cativar as diferentes assembleias a que presidiu ou preside,
fosse nas suas aulas ou nos cursos livres de História da Arte a que, em
parceria com a Biblioteca Municipal Albano Sardoeira, sempre nos habituou, o
Professor António Cardoso também se evidenciou na pintura. A exposição “António
Cardoso em Paralelo-Arte, Memórias e Contextos”, patente no MASC, é de visita
obrigatória para qualquer apreciador de arte e amarantino que se preze.
Nascido em Amarante em 1932,
inicia a sua formação artística na Academia Alvarez, nos anos cinquenta e já em
1965, na Escola Superior de Belas Artes do Porto. Mas o gosto pela História da
Arte era enorme e, em 1974,termina a licenciatura em História, na Faculdade de
Letras da Universidade do Porto e o doutoramento em História da Arte com a tese
sobre o arquiteto Marques da Silva e a arquitetura do Norte do país, na segunda
metade do século XX. Em 1981, ingressa no quadro de docentes do curso de
História daquela faculdade, variante de Arte, lecionando diversas cadeiras do
curso e Mestrado de História da Arte.
Multifacetado, porque professor, museólogo,
conferencista e até crítico de arte, António Cardoso sempre pintou e desenhou.
A sua dimensão artística foi sendo moldada pelas viagens na sua moto que a
partir de 1956, como bem afirma Maria Leonor Barbosa Soares,” … partiu sozinho
descobrindo Salamanca, Madrid, Toledo, Barcelona, Lourdes, S.Sebastian, Chartres,
Orléans, Tours… aos comandos da sua BSA…”.
Mas as viagens prosseguiam, indómitas.
Rouen e Monet, Van Gogh e Arles, Cézanne e Avignon, Picasso e Vallauris.
Roteiros plenos de arte e inspiração.
A incontornável Paris
reencontrada também através dos escritores e pintores; Marselha e Le Corbusier,
onde visita Unité d’Habitation, Pont-Aven e Le Pouldu onde adivinha
Gauguin…tantas viagens, tantas experiências e sensações traduzidas depois em
desenhos e pinturas novas plenas de vigor.
É em 1957 que Amarante surge nas suas telas.
Cenários arquitetónicos de outras cidades também o ocupam.
António
Cardoso, Amarante, 1960, óleo sobre tela, coleção do autor
António Cardoso, Paisagem
do Marão,
óleo sobre platex, Coleção Museu Municipal Amadeo de
Souza-Cardoso
Em Paisagem do Marão, o pintor lembra-me
Pascoaes. Nenhum Amarantino é imune à Serra que nos observa, altaneira. Uma Serra
que “não dá palha nem grão”, mas que é orgulhosa da sua pujança e da sua
soberania. Eu própria, observo-a todos os dias, da portada do meu quarto, ao
acordar. E todos nós a admiramos, para todos nós ela é sagrada, como bem disse
Pascoaes:
“Ó
sagrada montanha que eu adoro!
(…)
Longes
espirituais, distâncias tristes…
Incorpórea
paisagem sublimada,
Feita
de ignotas sombras e mistérios,
Em
roxo véu de lágrimas velada…
Conheci o Professor António Cardoso numa entrevista para o curso de
Museologia a que me candidatei, na Faculdade de Letras do Porto. Gostei logo
dele. Assertivo, frontal, mas suave e reconfortante no tom inquiridor em que o
diálogo se foi desenrolando. Uns tempos mais tarde, um telefonema da Faculdade
informava que havia sido selecionada, mas a Vida troca-nos as voltas com as
Voltas que a Vida dá. Não o frequentei, com pena minha. Entretanto, sempre que
havia algo de novo, um curso, uma palestra, eu estava lá. O seu poder de
comunicação arrastou sempre multidões de qualidade, ávidos dos seus
ensinamentos. Eu não fui exceção.
A última vez que nos encontrámos e demos um abraço, foi em Esposende, em
casa da minha querida amiga Camila, sua cunhada. Uma verdadeira casa museu, de
fachada secular, que alberga tesouros e memórias que eu não me cansarei nunca
de apreciar, acompanhada por um chá, ali, ou depois de um passeio pela
marginal, no Hotel Suave Mar. A amizade cultiva-se sempre ao redor de um bom
chá, não é verdade?
Neste último encontro, voltou a falar-me nos seus quadros, que havia
vendido ao Francisco Fonseca, há anos. Sabe, dizia-me, estou a pensar numa
exposição. Tem de mos emprestar. Mas as exposições têm um fio condutor, um
encadeamento cronológico qualquer, contam também uma história, histórias. Desta
vez, nesta exposição, não couberam.
Mas como me habituei a vê-los, a observá-los, a gostar deles com carinho,
partilho-os hoje com os meus leitores, com um obrigado à minha sobrinha Sara,
que os fotografou apressadamente para mim. Quem sabe, para a próxima? Eu,
adoro-os.
Tanto mais ainda para dizer, António Cardoso é imenso. Mas se pelo menos
vos tiver convencido a visitar em Amarante a sua exposição, ótimo.
Fiquem bem.
António Cardoso, óleo sobre tela,
Coleção particular de Francisco José da Fonseca
António Cardoso, óleo sobre tela,
Coleção particular de Francisco José da Fonseca
Rosa Maria Alves da Fonseca
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