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quinta-feira, 31 de julho de 2014

DA ARTE, DA PINTURA, DE VAN GOGH, DE COQUELICOTS, BLEUETS


Vincent Van Gogh, Champs de Coquelicots, 1890, Óleo s/tela, 73 x 91.5 cm.

A 24 de abril, Maria Vilas escreveu um belíssimo texto sobre Van Gogh, pelo que hoje me escuso a incursões sobre a sua extraordinária biografia ou sobre a sua pintura de tensão e suas principais obras de referência.
Na semana em que celebramos o centenário da eclosão da Primeira Guerra Mundial, permitam-me fugir um pouco à temática de sempre e que vos fale de flores. Das flores de Van Gogh. Não, hoje não vos falarei dos célebres girassóis, omnipotentes do amarelo que este pós-impressionista tanto apreciava…mas sim de coquelicots e de bleuets. Dessas simples flores do campo que teimam sempre em crescer, dando esperança e sinais de que a vida continua, sempre, ali, mesmo sob um palco de morte e destruição como o eram as horríveis trincheiras...trincheiras plenas de honra dos jovens soldados em luta por ideais e inundadas de sentimentos tenebrosos e assustadores também.
Hoje, permitam-me deixar convosco em homenagem a todos os soldados mortos na Primeira Guerra Mundial, os bleuets e os coquelicots que Van Gogh tão bem pintou e que tanto alento e esperança deram a todos os que, nas insalubres trincheiras, lutavam pela pátria e pelos seus ideais. É sabido que Van Gogh admirava a cor e a trabalhava como ninguém. Por falta de dinheiro para contratar modelos, pintava sobretudo paisagens ou flores, que explorava numa busca permanente pelo pormenor expressivo e revolto de tensão. Ao fazê-lo, em vibrações de cor, empastelava as telas, que emergiam em relevos imprecisos, também elas a dar sinais de perturbação incontornável e fatal.

"Les tranchées britanniques dans les champs au printemps 1915 étaient remplis de coquelicots », afirmou Francis Ballace, trazendo a certeza e a esperança a centenas de soldados, de que a vida flui, sempre.
 John Mac Crae escreve o poema «In Flanders Fields», que imortaliza esta singela flor que grassa no horror da terra de ninguém.
Estas flores de que vos falo hoje e cujo nome não traduzo (o francês seduz em musicalidade) transformaram-se em símbolos de memória em honra dos soldados da Commonwealth que pereceram na Primeira Grande Guerra.

«In Flanders Fields»
Au champ d'honneur, les coquelicots
Sont parsemés de lot en lot
Auprès des croix, et dans l'espace
Les alouettes devenues lasses
Mêlent leurs chants au sifflement
Des obusiers.

 Nous sommes morts,
Nous qui songions la veille encor'
A nos parents, à nos amis,
C'est nous qui reposons ici,
Au champ d'honneur.


 A vous jeunes désabusés,
A vous de porter l'oriflamme
 Et de garder au fond de l'âme
Le goût de vivre et de liberté.
Acceptez le défi, sinon Les coquelicots se faneront
 Au champ d'honneur.

 De John Mac Crae
Traduction: Jean Pariseau


Champ de Bleuets, Van Gogh, óleo s/tela

Vase aux coquelicots et bleuets, Van Gogh, óleo s/tela

Os franceses fazem o mesmo, com “… les p’tits Bleuets” e surge pelas mãos de Alphonse Bourgoin o poema que não resisto a transcrever:

Les voici les p’tits Bleuets,
Les Bleuets couleur des cieux
Ils vont jolies,gais et coquets,
Car ils n’ont pas froid aux yeux.
En avant partez joyeux;
Partez,amis,au revoir!
Salut à vous,les petits”bleus”.
Petits bleuets,,vous notre espoir!

Alphonse Bourgoin



Deixo-vos com flores de esperança. Até Setembro.

Rosa Maria Alves da Fonseca



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