Rapariga com Brinco de Pérola ou Rapariga comTurbante, Johannes Vermeer,
n. datado, óleo s/ tela, Mauritshuis, Haia
Chamou-me a atenção uma notícia, já com algumas semanas, de
que a tela de Vermeer, “Rapariga com Brinco de Pérola”, havia regressado a
Haia, ao Museu Mauritshuis, depois de ter estado exposta em vários museus
internacionais. Esta é uma das obras mais apetecidas do nosso pintor de hoje,
apelidada de “A Gioconda do Norte”, graças à aura de mistério que a envolve, a
recordar as personagens de Leonardo, à inimitável cor destacada pelo fundo
escuro, em modo Caravaggio, à sua textura suave e delicada tão preciosa em
Vermeer.
Vermeer. Mestre da luz. Nascido em 1632,em Delft, este
pintor contribuiu em definitivo para a afirmação da idade de ouro da pintura
holandesa. Consegue como ninguém dotar os seus quadros de uma tranquilidade
especial graças às qualidades que incute na luz com que os ilumina, uma luz
misteriosa, natural, serena, envolvente. O caráter intimista com que trata as
suas personagens trazem às suas obras uma poética invulgar de luz e de cor ,de
sentimento e de mistério.
Cézanne, seu fiel admirador, provocou nos críticos de arte
uma curiosidade e busca incessantes pela obra deste artista, ”escondido”
durante dois séculos, absolutamente esmagado por Rembrandt e outros pintores do
célebre século de ouro holandês.
Mas o primeiro a “descobrir” Vermeer foi o crítico francês
Thoré Burger, em 1866.O conhecimento da sua obra aprofunda-se então de tal modo
que a crítica de arte não hesita em reconhecer “ a perspetiva de Vermeer como
fonte de inspiração das abstrações de Mondrian e dos interiores de Fernand
Léger”.
O Museu Mauritshuis ocupa um belo edifício do século
XVII, em Haia, e reabriu há poucos dias atrás, após importantes obras de
restauro e expansão. Visita obrigatória para os admiradores, como eu, da
designada Idade de Ouro da pintura holandesa, onde podem ser apreciadas obras
de Rembrandt como A Lição de Anatomia do Dr Tulp ou a Vista de Delft de
Vermeer, quase impressionista, senão a primeira obra verdadeiramente
impressionista, tem no entanto, como centro principal das atenções uma rapariga
e um pintassilgo, duas telas celebrizadas graças ao simples facto de terem sido
o pretexto para dois romances de sucesso. Tracy Chevalier publicou , em 1999
,um romance histórico centrado na tela de Vermeer, no qual a musa do pintor é
uma empregada chamada Griet, que Scarlett Johansson depois interpretará no
filme Rapariga Com Brinco de Pérola, de Peter Webber. O mistério permanece, no
entanto. Quem é a linda serviçal? E porque usará ela um brinco tão nobre,
reservado apenas às senhoras de alta estirpe? Tracy Chevalier percorre com criatividade
e imaginação o trilho de vida desta misteriosa personagem e descreve de forma
ficcionada os seus encontros e desencontros com o pintor.
Já O Pintassilgo, óleo de pequenas dimensões de Carel Fabritius, discípulo de Rembrandt e mestre de Vermeer, e o súbito interesse do público por esta pintura, também no centro de um romance intitulado The Goldfinch, de Donna Tartt, causa maior estranheza. Mas o que é certo é que estas duas obras convidam à visita e estão em destaque numa das salas mais nobres daquele museu imperdível de Haia.
Já O Pintassilgo, óleo de pequenas dimensões de Carel Fabritius, discípulo de Rembrandt e mestre de Vermeer, e o súbito interesse do público por esta pintura, também no centro de um romance intitulado The Goldfinch, de Donna Tartt, causa maior estranheza. Mas o que é certo é que estas duas obras convidam à visita e estão em destaque numa das salas mais nobres daquele museu imperdível de Haia.
Museu de Mauritshuis, Haia
As férias tão desejadas estão aí
à espreita. Boa altura para uma incursão pela pintura de ouro holandesa, numa
das cidades mais cosmopolitas da Europa. Fica a sugestão. Entretanto,
deliciem-se, como eu, com a banda sonora do filme “Girl With a Pearl
Earring” do compositor Alexandre Desplat, que deu o mote a este humilde texto
de hoje. Há músicas que tem o dom de nos acalmar e esta é uma delas.
Rosa Maria Fonseca
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