A Europa é o mais lindo tesouro multicultural do planeta. Nela habitam línguas, culturas, costumes e climas tão diversificados quanto complementares que atraem continuamente gente dos quatro cantos do mundo. É certo que na Europa há paz, há democracia, há riqueza e as mais variadas formas de expressar as mil e uma facetas da alma humana, mas também há uma grande importância atribuída à Escola como fator primordial de afirmação pessoal e coletiva.
Apesar de toda a multiculturalidade, cada
país mantém a sua pegada genética e a escola é o local onde tal se começa a
notar. Recentemente li um trabalho patrocinado pela Unicef sobre o dia-a-dia
das crianças em várias escolas espalhadas pelo mundo. Trago hoje três exemplos
europeus: uma rapariga belga, outra italiana, um rapaz polaco.
A belga tinha oito anos e frequentava uma
escola internacional, onde os colegas provinham um pouco de todo o mundo.
Era-lhe familiar ouvir falar italiano, espanhol, alemão, mas tal não impedia a realização
de trabalhos em conjunto nem as brincadeiras sem fronteiras. Claro que falamos
de Bruxelas, centro administrativo da União Europeia, uma das capitais mais
poliglotas da Europa. Aí, mais do que uma obrigação, é uma necessidade ser
versado em línguas. Talvez por isso essa destreza linguística seja um traço
fundamental da escola belga.
Em Itália o foco é outro. Recordo Chiara, uma adolescente de onze anos que vive perto de Milão. O centro da sua educação estava nas artes: aprender música, visitar museus ou observar in loco obras de arte faziam parte do menu educacional dessa adolescente transalpina. A cultura e a mentalidade italianas tinham sido transportadas para a Escola de uma maneira mais vincada do que acontecia em Bruxelas, com a jovem Flora.
Já na Polónia, o menino Marek, natural de
Cracóvia, passa os seus dias na escola, onde tem aulas regulares, atividades
extracurriculares (dança) e faz todas as refeições importantes do dia. A escola
proporciona-lhe o contacto com a natureza, a religião, a arte e o desporto. Não
notei nenhuma preocupação em internacionalizar o ensino nem um forte pendor da
cultura polaca nos conteúdos ou métodos de ensino, mas “apenas” a vontade de
relacionar as crianças com a natureza, de oferecer um ensino diversificado, de
equilibrar atividade física e motora com a parte intelectual.
Decidi então viajar no tempo e procurar
Marek, Chiara e Flora vinte anos depois. Não encontrei um, encontrei milhares.
Os traços que a escola começara a esboçar estavam agora bem definidos e
transformaram-se em peças únicas com dois encaixes que formam o puzzle europeu.
A identidade de cada povo estava neles e havia começado na escola.
Quando um país leva a sério a «sua» Escola,
a sua identidade mantém-se uma identidade inconfundível e necessária para que o
puzzle esteja completo; quando despreza a educação, qualquer multinacional
compra a patente e transforma-a em produto descartável de marca branca.
Gabriel Vilas Boas