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sábado, 30 de junho de 2018

O GOVERNO É MUITO BOM A PROMETER AQUILO QUE NUNCA PENSOU CUMPRIR




Estão cumpridos três dos quatro anos do mandato do governo português, que teve uma conjuntura política, económica e social muito favorável, apesar de ser um governo minoritário.
         Contou com uma presidente da República colaborante como nenhum outro governo teve; contou com uma oposição de direita muito suave, até porque houve mudança de líder no maior partido da posição; contou com uma ajuda enorme dos partidos de esquerda, quer a nível parlamentar quer a nível da não existência de conflitualidade social. Os sindicatos nunca foram tão mansos!
         Ao mesmo tempo que contava com as boas graças da generalidade da imprensa, o governo português não baixava a carga fiscal e até teve a lata de aumentar alguns impostos indiretos, aproveitando a descida ocasional dos preços do petróleo. Enquanto isto acontecia economia gerou emprego e retirou-lhe pressão social.
        
Desde que assumiu o poder, o governo do partido socialista foi-se comprometendo (de uma forma dúbia, é certo) com alguns dos seus funcionários (enfermeiros, oficiais de justiça, professores) a atender algumas das suas reivindicações, ainda que de um modo faseado, para não comprometer a saída da fase de recobro em que Portugal se encontrava face aos seus parceiros europeus.
De uma maneira paciente, aqueles que trabalham diretamente para o Estado português esperaram que o governo honrasse os seus compromissos. A um ano de terminar funções, o governo diz que não o fará! Timidamente ainda ensaiou a estafada justificação do «não há dinheiro», mas como foi rapidamente contraditado, passou à argumentação do «não podemos comprometer o futuro» como se não se esses encargos não fossem esperados pelos compromissos assumidos perante professores, enfermeiros, oficiais de justiça, polícias… com se esses encargos não decorressem da estrutura das carreiras públicas.


Na verdade, o governo português nunca teve a intenção de cumprir a sua palavra. Na melhor das hipóteses, o governo português andou três anos a amealhar através de altíssimos impostos e derrogando o cumprimento de promessas para usar essas verbas como cenourinha eleitoral como se o povo fosse um coelho estúpido que acreditará piamente em quem lhe mentiu repetidamente.
Acha o governo que só precisa de escolher um coelho diferente. Haverá alguém que queira fazer de estúpido?

quarta-feira, 27 de junho de 2018

TU AQUI NÃO ENTRAS, PRETA DE MERDA!



Parece que Portugal quer receber os imigrantes do navio Lifeline, que navega há uma semana no Mediterrâneo, cheio de imigrantes, que Malta e Itália se recusam a receber. Quer fazer bonito, mas talvez não fosse má ideia começar por arrumar a sua própria casa antes disso. 
Na noite de São João, uma colombiana foi barbaramente agredida por um fiscal ao serviço dos S.T.C.P. (Serviços de Transporte Coletivos do Porto), numa manifestação de racismo, crueldade, desumanidade, que envergonha os STCP e o próprio país.
O relato da vítima, de algumas testemunhas, o vídeo a circular na internet deixam poucas dúvidas sobre o acesso de ódio racista que aquele funcionário da empresa de segurança 2045, a fazer serviço para os STCP, teve, na madrugada do dia 23 para 24 de junho.
Tu aqui não entras, preta de merda!”; “Pretas, vão apanhar o autocarro para a vossa terra”, “Estes pretos não aprendem.. – foram estas algumas das frases do fiscal dos STCP enquanto agredia barbaramente uma jovem colombiana, até pôr os joelhos em cima dela como se de um troféu se tratasse.

A intervenção deste energúmeno surge na sequência de um desentendimento sobre a prioridade numa fila de espera do autocarro, no centro da cidade do Porto, durante a madrugada do dia de São João. Sem vergonha, sem nunca ser impedido por nenhuma das várias testemunhas, num misto de cobardia e medo, o segurança da 2045 exibiu toda a sua animalidade.

Infelizmente, passados três dias após este odioso crime, nem polícia, nem STCP, nem a empresa de segurança 2045 se dignaram a dar uma palavra, uma satisfação, um pedido de desculpa. O caso também não foi reportado pela imprensa sensacionalista, nem apareceram os famosos “Alerta CM”. 
Trump mete crianças imigrantes, pobres e de cor em jaulas; em Portugal, há alguma imprensa que mete o racismo que se faz no país, na secção das «não notícias» enquanto os dirigentes preferem passar o seu tempo entre um aperto de mão a Putin e outro a Trump.
Portugal e os portugueses são bem melhores que uns marginais racistas que usam indevidamente uma farda ou uns hipócritas que praticam a caridadezinha com o pretinho, coitadinho, ao bom estilo do Estado Novo.
GAVB

terça-feira, 26 de junho de 2018

SINDICATOS MÍNIMOS E COMPROMETIDOS

Da próxima vez que decidirem vender os professores em qualquer negociata, perguntem-nos primeiro o que achamos das migalhas que vos oferecem, para vos podermos dispensar.

Queridos sindicatos, retirem-se desta luta que nunca assumistes nem quisestes, deixai-nos com a nossa ILC, com a nossa determinação, com a nossa vontade e com a nossa luta. 

É muito triste que um representante dos trabalhadores vote contra a vontade de quem se diz representante, é muito triste que a Fenprof faça o jogo do Ministério da Educação, do PCP ou do Mário Nogueira, mas mais triste é perder a dignidade profissional e sindical.

Provavelmente, hoje o país enterrou, na prática, o direito à greve, com o beneplácito de uma organização afeta ao CGTP e na vigência de um governo socialista. Note-se que não foi com um governo do PSD ou uma coligação de direita. Foi a Gerigonça de esquerda que nos tenta humilhar perante o resto da sociedade. 
Pode ser que tenha ganho uma batalha para perder a guerra. Cabe aos professores mostrar que esta luta não ficará comprometida por um qualquer Pilatos nem nos vergaremos a discursos mentirosos de ministros e primeiros-ministros, sejam eles de esquerda ou de direita.

Hoje é um dia triste, muito triste. A posição dos sindicatos no colégio arbitral que decretou os serviços mínimos na greve dos professores é uma traição. E Roma não paga a traidores.

GAVB 

segunda-feira, 25 de junho de 2018

SERÃO AS MULHERES SAUDITAS O SÍMBOLO DA MUDANÇA NO MÉDIO ORIENTE?




Mohammed bin Salman é um nome que vamos ter de aprender e um personalidade que teremos de estudar com muita atenção. O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, um dos regimes mais fechados e ortodoxos dos mundo, começa a ser notícia em todo o mundo pelas simbólicas transformações socais que está a empreender no seu país, permitindo às mulheres sauditas alguns direitos tão básicos mas profundamente simbólicos como a autorização para conduzirem, assistirem a jogos de futebol ou irem ao cinema (este ainda em estudo). 

São sinais apenas, porque o príncipe sabe perfeitamente com que linhas se cose a mentalidade do seu país e não quererá repetir os erros de Reza Pahlavi, o último Xá iraniano que perdeu o poder quando tentava modernizar e secularizar o Irão. Também ele quis impor importantes transformações sociais, políticas e económicas, destacando-se o direito de voto às mulheres. Em 1979, os clérigos xiitas e os fundamentalistas islâmicos derrubaram-no e a revolução branca vestiu o véu negro, até hoje.

Mohammed bin Salman não quer ser o novo Reza Pahlavi, por isso age com precaução, tentando que a sociedade saudita assimile cada uma das suas icónicas reformas sociais antes de avançar para as seguintes. Estas reformas têm como objetivo ganhar a população, que é maioritariamente jovem (70%), e quer mudanças, porque a ideia de sociedade que a religião lhes impõe não a satisfaz.
Ao mesmo tempo que faz estas alterações para captar a simpatia nacional e internacional, o príncipe herdeiro já mandou prender ex-ministros, alguns dos homens mais ricos do país e onze príncipes do reino, por alegados crimes de corrupção.
Paralelamente Mohammed bin Salman trabalha com o Egito e com a Jordânia na criação de uma zona económica independente, avaliada em mais de 500 mil milhões de dólares.

Se for bem-sucedido, Salman será aclamado pelo seu povo e admirado em todo o Médio Oriente; na Europa e na América todos se curvarão perante o novo senhor das Arábias que trouxe de novo o Islão moderado, sem precisar de instalar a democracia nem verdadeiramente implementar os direitos humanos entre os seus.  
Quando não temos nada, facilmente confundimos um sinal de boa vontade com o estabelecimento de um direito fundamental. As mulheres sauditas não podem ser apenas um símbolo útil de uma mudança aparente no Médio Oriente. Por isso, o mundo ocidental tem que ter a astúcia e a coragem de um Mohammed bin Salman para lhe exigir, quando subir ao poder, que as mulheres não conduzam apenas até ao cinema mais próximo, mas também até à dignidade a que têm direito.
GAVB

sexta-feira, 22 de junho de 2018

O ANALFABETO POLÍTICO


O pior analfabeto é o analfabeto político.

Ele não ouve, não fala, nem participa de eventos políticos. Ele não sabe que o custo da vida, o preço do feijão, do peixe e da farinha, da renda da casa, dos sapatos e da medicina, tudo depende de decisões políticas. 

O analfabeto político é tão estúpido que é com orgulho que afirma odiar política. 

O imbecil não imagina que é da ignorância política que nascem as prostitutas, as crianças abandonadas e os piores ladrões de todos - os péssimos políticos, corruptos e lacaios de empresas nacionais e multinacionais.

bertold brecht 

quinta-feira, 21 de junho de 2018

O GOVERNO ESTÁ TENTADO A BRINCAR COM O FOGO. PODE SER QUE SE QUEIME.



Há mais de duas semanas em greve, os professores vão resistindo aos jogos de poder e contra-informação do Ministério da Educação. A firmeza dos professores, a clareza e a justiça das suas posições têm sido a melhor resposta a todas as tentativas de manipulação da opinião pública, dos pais, dos alunos e até dos professores.
Um por um, os falsos argumentos do governo vão caindo e sendo abandonados, para logo a seguir aparecer outro, em forma de ameaça, que segue o mesmo caminho dos anteriores, porque é muito difícil vencer gente determinada e com razão.

Primeiro veio o argumento que não havia dinheiro. Provou-se que há, que não é necessário tanto como o governo disse, e que os professores estavam dispostos a recebê-lo faseadamente.
Depois veio novamente o mito da carreira docente, onde toda a gente progride automaticamente sem avaliação. Miguel Sousa Tavares fez o papel de bobo da propaganda governamental e saiu-se mal.

Logo de seguida, a rábula da nota informativa / esclarecimento sobre a realização dos conselhos de turma, querendo obrigar os diretores a desobedecer à lei. Felizmente, a esmagadora maioria dos diretores não são moços de recados.
Seguiu-se a ameaça rasteirinha da Confap, ao bom estilo Trump, dando a entender que lidam com os professores como se fossem seus donos, teve o mesmo êxito que a nota informativa do Ministério.
Há pouco dias o Ministério da Educação suscitou a questão dos serviços mínimos na greve dos professores às reuniões de avaliação. Ainda está em aberto, mas no dia em que uma reunião de avaliação, para atribuir notas de alunos, for um serviço mínimo, é melhor os partidos acabarem com o direito à greve.

Ontem, António Costa disse no Parlamento que o único compromisso com o governo foi discutir o tempo e o modo do tempo de serviço a recuperar. Quem esteve na negociação entre professores e governo sabe que não foi isso que ficou assente. Mas a ser verdade aquilo que António Costa afirma, bastava ao primeiro-ministro ter proposto a recuperação de um mês de tempo de serviço, que a sua promessa já estava saldada.
Hoje, de maneira informal, o ME pediu a alguns jornalistas do «i» que escrevessem a genial solução que o ME prepara para resolver o problema dos alunos que não têm nota interna e têm forçosamente de se candidatar ao acesso à universidade: concorrem com a nota do exame. 
Os alunos já reagiram e os pais também. Estão alarmados e muito preocupados. Além de ilegal, a solução criará grandes injustiças, prejudicando uns e beneficiando outros. Com essa solução, os candidatos ao ensino superior não concorrem em pé de igualdade.
O objetivo do governo é colocar pais e alunos contra os professores. Por isso torna-se imperioso mantermo-nos unidos, pacientes e fazer passar claramente as razões da nossa luta. Com o tempo, alunos e pais perceberão o jogo do governo de António Costa e saberão pedir contas a um governo que tanto desprestigia quem forma e educa as gerações futuras do país.
GAVB

quarta-feira, 20 de junho de 2018

REFUGIADO EM PORTUGAL? SÓ COM VISTO GOLD


No Dia do Refugiado ficamos a saber os dados sobre os refugiados em Portugal, com especial destaque para os vistos concedidos e… recusados. 64% dos pedidos de asilo feitos a Portugal, em 2017, foram recusados. No ano transato só foram concedidos 500 estatutos de proteção internacional, o que faz de Portugal um dos países europeus que mais recusa o estatuto de asilo aos refugiados que procuram a Europa.

Paralelamente, o estado português concedeu 2678 vistos gold em 2017. Trata-se do número mais alto de vistos gold concedidos, desde que este projeto entrou em vigor, há cinco anos.
Os vistos gold não criam emprego mas dão um lucro fabuloso e favorecem muito a corrupção e o livre acesso ao território europeu a gente que pode pagar, mas que não estava nada certa de poder entrar de outro modo. 
Os vistos gold sempre me pareceram aquilo que a eurodeputada Ana Gomes classificou como “um esquema de prostituição das cidadanias europeias”.
Não é possível consultar a lista dos nomes destes generosos investidores estrangeiros, mas não custa nada perceber a razão por que se prestam a pagar 500 mil euros para residirem em Portugal. Querem circular à vontade, em solo europeu. Para fazer o quê? Não lhes fazemos perguntas, desde que paguem. E também não publicitamos os seus nomes, moradas, residências, registos criminais, interesses comerciais...

Já um refugiado, ou seja, um pobre que foge à guerra ou à miséria ou às máfias que tomaram conta do seu país, é recambiado porque não tem como pagar. Talvez se fosse traficante pudesse entrar… quer dizer, pagar.
A nossa humanidade caminha na mesma direção da nossa dignidade – para o abismo. Por isso recordo, um escritor espanhol do século XVI: “Quando perdes a dignidade por causa de um negócio, acabarás por perder o negócio e a honra.”
GAVB

terça-feira, 19 de junho de 2018

TRUMP APOSTA FORTE NA CRUELDADE E NA DESUMANIDADE


Separar crianças de tenra idade das suas mães, fazê-las sofrer até ao limite do desespero, mantê-las em cativeiro como se de animais se tratassem até perceberem bem de quanto crueldade pode ser feito o poder arbitrário de um homem é a aposta clara de Donald Trump para tratar com os seus imigrantes ilegais, vindos do México, da Guatemala, Honduras, El Salvador e México.

 Trump adora ser um estupor. Não me surpreende, mas enoja-me. 
O que mais me revolta é a insensibilidade do povo americano. O que votou nele e o que não votou, o que tem filhos e o que não tem, o pró emigração e o anti hispânico.

Será que o povo americano não se dá conta que está a perder humanidade de uma maneira assustadora?
Uma criança chora suplicando pelo pai, outra desespera no meio da noite à procura da mãe enquanto Trump se prepara para abandonar o Conselho dos Direitos Humanos da ONU, exibindo com boçal orgulho a sua “tolerância zero” aos imigrantes ilegais.
A América do século XXI afunda-se num poço de desumanidade e crueldade nunca antes visto.



segunda-feira, 18 de junho de 2018

A CONFAP ESTÁ COM MEDO QUE ESTRAGUEM AS FÉRIAS AOS MENINOS




A Confap (Confederação Nacional das Associações de Pais) «ameaça» sair em defesa dos contratos de associação, que é como quem diz das escolas privadas em detrimento das escolas públicas.

Ao ver o incómodo da Confap com a luta dos professores pelos seus direitos sociais e profissionais, ocorre-me a mais básica das perguntas:
O que é que a Confap tem que ver com uma luta entre professores e a sua entidade patronal?
Acho que muito pouco ou mesmo nada. Andam nervosinhos porque as notas dos filhinhos ainda não saíram? Não é necessário tanto nervosismo. Os professores darão as justas notas aos seus filhos, mas detestam que os ameacem.
Ao ameaçar defender o ensino privado em relação ao público a Confap está a «confessar» algumas verdades que todos intuíamos.

A Confap acha que os professores do ensino privado não fazem greve por mais espezinhados que sejam porque quem manda nos colégios é a vontade dos pais;
a Confap acha que os professores devem comer e calar, por mais miseráveis que sejam os seus salários e por maiores que sejam os atropelos aos seus direitos;
A Confap pensa que o direito à greve é algo arcaico e que jamais deve ser utilizado com eficácia, especialmente se isso aborrecer os papás ou os meninos que ficam com a sua vidinha um pouco indefinida durante duas ou três semanas. Já o facto dos professores terem a sua carreira congelada há mais de nove anos é assunto sem relevância social;
A Confap não representa 10% dos encarregados de educação dos alunos portugueses, mas acha-se no direito de ameaçar os professores, possivelmente porque a sua força não está na sua representatividade mas na capacidade de fazer lobby junto do ME;
A Confap não se preocupa com as condições de trabalho de quem ensina os seus filhos, porque sabe que a dignidade profissional dos professores é coisa séria e que não está à venda nem se troca por qualquer subsídio do ME.

A greve dos professores às avaliações tem sido ótima para descobrirmos a face de alguns agentes do sistema educativo português. Ao ver o discurso da Confap começo a achar que encontraríamos maior sentido de responsabilidade e verdade no meio das associações de estudantes.
Acho que eles nunca diriam que 2+2 = 22, por muita pena que tivessem que o colega não transitasse de ano.
GAVB



domingo, 17 de junho de 2018

MARCELO SIM, COSTA NÃO!



 Num momento íntimo e sentido, em que relembraram o dia mais traumática das suas vidas (17 de junho de 2017), as vítimas do incêndio de Pedrógão Grande fizeram questão de convidar o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, mas não endereçaram o mesmo convite ao primeiro-ministro António Costa.
Não me parece que aquela gente esteja particularmente zangada com o líder do Governo, mas o «não convite» a António Costa não foi um esquecimento. A dor que atingiu aquelas pessoas fê-las perceber que só quem é totalmente genuíno pode ter a honra de homenagear aqueles que morreram por causa da falta de protecção civil.

Marcelo soube entender a dor profunda daquela gente muito para além do cargo que ocupa. Percebe-se isso em cada gesto, no tom de voz, na influência pequena ou grande que move, na autoridade com que encosta o governo à parede da sua responsabilidade.
A Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrogão não convidou o Presidente da República de Portugal, mas antes Marcelo Rebelo de Sousa, que, «por acaso» ocupa o mais alto cargo da nação. Marcelo sabe perfeitamente quando tem que ser, antes de mais, um compatriota, um amigo, o mar imenso onde desaguam todos os rios de tristeza, infortúnio e desespero. Não é apenas um dom, é saber ser genuíno quando é absolutamente imperioso que o seja.


Ser genuíno é das coisas que António Costa tem mais dificuldade em ser. Ele o protótipo do político que não se compromete, que faz o discurso certo e recomendado nos livros de ciência política, mas um povo precisa mais do que isso. Precisa de gente com alma, gente em quem possa confiar sem que seja preciso uma lei, uma carta assinada ou uma maioria que o empurre. Um povo precisa de sentir que para o seu líder palavra dada é palavra honrada. Com António Costa isto é pouco mais do que um chavão com muitos asteriscos.
GAVB

sexta-feira, 15 de junho de 2018

CRISTIANO RONALDO É MESMO O MELHOR


Só um jogador fabuloso consegue aliar talento, inteligência, sentido coletivo, liderança. Neste momento, não há nenhum jogador de futebol consegue fazer isso como o português Cristiano Ronaldo. 
O capitão da seleção portuguesa carrega uma equipa mediana às costas e torna-a parceira das melhores equipas mundiais. Ronaldo assume o papel de capitão de equipa com uma eficiência nunca vista em nenhuma equipa nacional de qualquer modalidade. 
Sabe agregar, sabe impor respeito pela equipa e não se esconde quando todos esperam que seja ele a fazer a diferença para os demais.
Três golos num mundial já Eusébio tinha marcado (1966, Inglaterra), mas fazê-lo contra uma equipa como a espanhola nunca tinha acontecido.

É verdade que os espanhóis foram melhores e tiveram momentos infelizes, mas o herói dos portugueses é hoje um futebolista acima dos seus pares e como um mágico é capaz de nos devolver um sorriso de felicidade quando a frustração parecia um destino certo.
Ele é mesmo o melhor do mundo.
GAVB

quinta-feira, 14 de junho de 2018

ANTÓNIO COSTA ANDA A PASSEAR PELO MUNDO À ESPERA QUE O TEMPO RESOLVA OS SEUS PROBLEMAS


Para os professores que estão em greve há mais de uma semana, convém que se capacitem que esta luta pode durante mais umas três ou quatro semanas.
O nosso primeiro-ministro anda em tour diplomático, entre os Estados Unidos e a Rússia, em eventos da Google e pelo Campeonato do Mundo de Futebol. Enquanto a seleção portuguesa estiver a jogar na Rússia não contem os professores, os polícias ou os enfermeiros que ele se digne olhar pelas suas reivindicações. Quando ele regressar de “férias” logo se vê…
Obviamente Costa espera que os professores se cansem das greves e lá façam as reuniões de avaliação, mais tarde ou mais cedo, sem que ele tenha de ceder seja o que for. Até 25 de junho a seleção joga e não haverá turbulência mediática. Se houvesse, qualquer Bruno de Carvalho tratava da «chatice»; depois os exames ainda agora estão por começar e Costa confia que, até 10 de julho, os professores se zanguem uns com os outros. Por isso, o próximo desafio que os professores enfrentarão será o da paciência e da resistência.


Nesta luta dos professores não deixa de ser curioso a «não posição» dos partidos do autointitulado arco da governação. O que pensa o CDS, o PSD e o PS sobre as reivindicações dos professores? O que dizem eles sobre a recomendação aprovada em dezembro de 2017, na Assembleia da República, sobre a contagem de todo o tempo de serviço para a progressão na carreira docente? Curiosamente, os jornalistas (que gostam de perguntar a todo o cão e gato o que acha sobre os professores, a sua carreira e os seus salários) não questionam quem tem, quem teve e quem terá capacidade de decidir.
Como seria interessante um país sem ratos nem hipócritas!
GAVB

quarta-feira, 13 de junho de 2018

ESTÁ NA ALTURA DO GOVERNO TROPEÇAR NO SEU PRÓPRIO CINISMO



Os próximos dias serão importantíssimos para a classe docente, pois a sua coesão e unidade serão postas à prova. Não que seja uma prova muito difícil de ultrapassar, mas pode dar-se o caso de não ser superada.
A luta dos professores pela contagem integral do tempo de serviço, para a progressão na carreira docente começa a enervar o governo e a fazê-lo cometer alguns erros, que serão maiores e mais evidentes se tivermos uma coragem suficiente.
Através de uma nota informativa da Dgeste, o Ministério Educação tenta coagir os professores a realizar os conselhos de turma de avaliação do ano letivo que agora finda. Haverá por certo alguns diretores ávidos de serem politicamente úteis, mas a maioria dos professores parece firme na intenção de não se deixar intimidar, continuando a fazer greve às reuniões de avaliação.

Além da razão que lhes assiste por completo, os professores contam com trunfos que convém não desperdiçar: a legalidade da sua ação, a força da sua razão, o silêncio da opinião pública.
Não ter medo das notas informativas, cumprir o que a lei determina, estar disponível para abdicar de algum dinheiro, obter das direções escolares um posição de cumprimento da legalidade, ser capaz de responder com objetividade, racionalidade e classe à pressão mediática que surgirá nos próximos dias – são objetivos ao alcance de todos os professores.
O mais provável é que o governo não ceda para já, mas a primeiro desconforto será sentido por eles. Eles é que vão ter que explicar ao país por que razão irão os alunos a exame sem terem saído as notas; são eles que terão de desatar os nós que a sua hipocrisia política criou. Se nos mantivermos firmes nas nossas convicções e razões, não tardarão a surgir vozes que lhes perguntem por que razão não cumprem aquilo com que se comprometeram.
Quando confrontados com as suas patranhas e ardis, os políticos costumam tropeçar nos seus próprios sofismas.
GAVB

terça-feira, 12 de junho de 2018

CIMEIRA COREIA DO NORTE - EUA: UMA GRANDE VITÓRIA DA CHINA



Há pouco mais de um ano escrevi que a China ia entregar a Coreia do Norte a Trump (https://setepecadosimortais.blogspot.com/2017/05/a-china-vai-entregar-coreia-do-norte.html

Um ano volvido, os inqualificáveis Donald Trump e Kim Joung-un assinaram um improvável tratado de paz e cooperação, que pressupõe a desnuclearização total da Coreia do Norte em troca de alguns prisioneiros. Parecia quase impossível isto acontecer, face à personalidade dos dois líderes e aos sucessivos falhanços anteriores.

Como foi isto possível? Penso que a China teve um papel fundamental. Com a escalada de ameaças entre coreanos e norte-americanos, os chineses perceberam que tinham um grande problema entre mãos, porque a Coreia é o seu brinquedo comunista de estimação, mas nos EUA estão enterrados os maiores investimentos chineses.
Como sair deste imbróglio sem perder a face, que neste caso passaria por obrigar a Coreia do Norte a capitular? Forçar um acordo, em que os americanos ganhassem em toda a linha, mas em que Kim mantivesse o poder. A sorte dos chineses foi a personalidade espalhafatosa de Kim Jong-un e Donald Trump, que viram neste acordo uma oportunidade única de fazer algo credível e com impacto mediático.

Provavelmente foram os chineses que fizeram ver a Kim Jong-un que a única maneira de se manter no poder seria fazer um acordo com Trump. 
A pouca relevância internacional de Kim permite que não seja muito ultrajante esta capitulação, até porque aquilo que ele fez é o correto.
O primeiro sinal deste desfecho foi dado pela reaproximação entre as duas Coreias. Depois, a diplomacia chinesa fez o resto, na sombra e com paciência.
O envolvimento chinês é tão óbvio que, poucas horas após a assinatura do acordo, já est a pedir a suspensão das sanções à Coreia do Norte.
Incrivelmente, são os chineses a liderar geopolítica mundial. Esperamos que os seus planos sejam contidos.
GAVB

domingo, 10 de junho de 2018

BOM ERA O PROFESSOR NÃO TER CARREIRA, NUNCA SER AUMENTADO, SER HUMILHADO E FICAR CALADO


Argumentar/persuadir é a capacidade de convencer o outro pela força dos nossos argumentos. Quem entra numa discussão (por mais polémica que seja) de boa fé, sabe que deve falar e que deve ouvir e tanto deve admitir convencer como ser convencido. 

O que mais me entristece é que a maioria dos participantes em debates públicos não admite “ser convencido” e confunde isso com “perder”. Não é a mesma coisa! Como não é a mesma coisa termos simpatia por uma fação e ser justo que essa fação consiga os seus intentos.

Por norma, os grandes debates públicos não são um jogo, em que os mais habilidosos vencem independentemente do mérito da sua proposta. Os debates que interessam às populações mexem com a vida das pessoas, influenciam a sua atuação social e familiar. Devemos olhá-los com respeito. 
O respeito começa logo ao estar ao corrente das reivindicações de um lado e da contra-argumentação do outro; o respeito continua ao deixarmos de lado os nossos preconceitos, a favor ou contra, sobre determinada classe profissional. 


Respeito é igualmente pormos de lado as graçolas ofensivas e ainda apenas debitarmos posições racionais e conhecedoras de todos os elementos em debate.



A carreira dos professores é aquilo que é. Privilegiada para uns, adequada para outros, insuficiente para muitos. No entanto, existindo, é como a lei – tem de ser aceite. Não podemos fazer como o rei Filipe IV, de França, que ao verificar que devia tanto aos Templários, os ilegalizou, perseguiu e matou, confiscando-lhes os bens. Todo o acusado / devedor gostaria de chegar a tribunal e dizer:
 “- A lei diz que devo? Que tenho de pagar? Então, mude-se a lei e com efeitos retroativos”. 
Quando este tipo de argumentação vingar, qualquer lei deixa de fazer sentido.


Sempre que os professores suscitam a questão de ganharem o mesmo (ou até menos) há vários anos, há um conjunto de pessoas, com tempo de antena, que se acha no direito de vomitar algumas mentiras:

- Eles progridem automaticamente, ignorando que há avaliação, aulas assistidas, formação obrigatória e avaliada;

- Eles ganham de mais, esquecendo que há professores, com vinte anos de serviço, que nunca passaram os mil euros de ordenado e mesmo assim, pagam casa arrendada, portagens e gasolina para irem trabalhar a duzentos quilómetros de casa;

- Eles não fazem nenhum, embora sejam incapazes de descrever o dia-a-dia de um professor do século XXI, pensando que ser professor é aquela atividade que o seu professor primário fazia, há cinquenta anos, na aldeia onde nasceram;
- Eles ensinam mal, ignorando que todos os bons profissionais que o país tem só existem porque houve e há bons professores;

- O que eles fazem qualquer um faz, ainda que não saibam exatamente o que o professor faz, como o faz e nas circunstâncias em que o faz.

GAVB

quinta-feira, 7 de junho de 2018

OS PROFESSORES ESTÃO NA LUTA PORQUE ALGUÉM FEZ STOP A GREVES FAZ-DE-CONTA



Quando a Fenprof marcou a sua greve fofinha para as reuniões de avaliação que podem esperar até julho, eu e muitos professores insurgiram-se contra aquela maneira “caviar” de protestar. 
Felizmente o recém-criado sindicato de professores (S.To.P. – Somos Todos Professores) viu o óbvio – a oportunidade e a eficácia eram «agora», nas reuniões de avaliação que têm prazos apertados de consumação. E também era agora, porque era mais que expectável que da última reunião dos sindicatos com o governo resultasse a «mão cheia de nada» de sempre.

Uma imensa maioria de professores está revoltada, mas age muito pouco. Os sindicatos do sistema têm ajudado, e muito, a esta inércia, com as suas formas de luta clássicas, que não surpreendem nem se têm revelado eficazes.

Ainda durante o dia de hoje, muitos professores diziam que a greve tinha sido suspensa, como se a Fenprof fosse a única entidade sindical como capacidade para marcar greves. Pela Fenprof, os professores estavam hoje a assinar as atas de reuniões dos 9.º, 11.º e 12.º anos, como cordeirinhos, que obedecem ao pastor. Não precisamos desse tipo de sindicalismo. 

Precisamos de gente ativa e apenas comprometida com os interesses dos professores.
Obviamente que a Fenprof é a maior, a mais experiente e influente força sindical dos professores portugueses. Até agora prestou bons serviços à classe, mas parece-me parada no tempo. Um sindicato tem que ser capaz de surpreender a entidade patronal, de a fazer cometer erros estratégicos, de mobilizar outros grupos profissionais, de captar a simpatia da população. Se está cansada, se está gasta, se não tem ideias… dá a vez aos novos, como devia ser uma tradição da casa… e não é.

Na página da Fenprof vejo que a Federação dos Médicos (FNAM) saúda a luta dos professores, ao passo que os polícias e os funcionários judiciais juntam-se às reivindicações dos professores. 
Afinal parece que há mais gente a sentir que o governo falhou à palavra dada e quer lutar. O objetivo desta luta não é fazer sangue, colocar as finanças do país em perigo ou «sacar» privilégios únicos para a classe docente, mas «apenas» restabelecer alguma justiça, com o dinheiro que sabemos que existe e em quantidade suficiente para remunerar justamente quem foi mais castigado com o programa de reajustamento da troika.
GAVB

terça-feira, 5 de junho de 2018

GOVERNO NÃO TEM 600 MILHÕES POR ANO PARA PROFESSORES. E PARA OS BANCOS TEM?

A argumentação do primeiro-ministro português para não pagar o que deve aos professores é muito interessante. Resume-se facilmente: "Devemos tanto que o melhor é não pagar". 
É um argumentação já usada pelos maiores devedores dos bancos nacionais - quando deves 700 mil euros a um banco, tu tens um problema; quando lhe deves 700 milhões, o banco tem um problema. 

A relação do governo com os professores está neste ponto. São os professores que têm um problema, não o governo. Pensar que os governos são pessoas de bem, que cumprem a lei (já não falo do que prometem quando retiram um direito ou descem um salário) é de uma ingenuidade gritante. 

Hoje, um governante já nem discute a moralidade ou a legalidade das suas decisões, porque sabe perfeitamente que não tem argumentos válidos para contrapor; limita-se a jogar com as circunstâncias ou com a inveja entre profissões ou com a inércia de uma classe profissional.

Tal  como escrevi recentemente, os governos fazem opções, os partidos da oposição fazem opções, os professores também têm de fazer opções. Mais do que seguir as suas simpatias políticas juvenis, os professores devem seguir aquilo que melhor defende os seus interesses, sendo que estes não são mais do que a tardia reposição de alguma justiça.

Os professores custam 600 milhões de euros por ano? Até pode ser um valor barato, porque, todos os anos, os professores ajudam a formar engenheiros, médicos, enfermeiros, informáticos, economistas... ou seja, o dinheiro neles investido é reprodutivo. O que lucrou o país com o dinheiro gasto e ainda a gastar no BES, BPN, CGD? Não lucrou nada.

Os professores também não lucram nada em achar que Costa é diferente de Passos Coelho no que aos professores diz respeito. Num certo sentido até foi pior, pois Passos tinha a troika em Portugal e não tinha nenhuma margem de manobra orçamental, já Costa não está obrigado por nenhuma troika e tem algum dinheiro para gastar. Dinheiro que não é dele, mas de todos os portugueses!

Os professores precisam de fazer sentir a António Costa que 600 milhões de euros até era um bom negócio. Daqui a um ano havemos de ficar mais caros. 

GAVB


segunda-feira, 4 de junho de 2018

PERDÃO DA DÍVIDA SALARIAL



Começa a ficar clara a estratégia do governo para a próxima campanha eleitoral: declarar as contas saldadas com os professores pagando apenas 30% do valor em dívida.
Seria fantástico que qualquer português pudesse ficar dez anos sem pagar o aumento da renda da casa, da luz, da água, dos transportes públicos, da gasolina (Como seria maravilhoso!) e no final se dirigisse ao seu credor com a seguinte proposta: ‘Vamos acertar contas! Juros do que lhe devo? Nem pensar! Pago-lhe 30% do que lhe devo e ficamos quites. Amanhã, o senhor passa-me uma declaração de que nada lhe devo, para entregar nas finanças. E não diga que vai daqui! Ou isto ou nunca mais lhe pago!’

Não seria fantástico, seria apenas desonesto e uma grande canalhice. Foi aquilo que senti com a proposta que o governo português fez aos sindicatos de professores. É bem pior que uma ignóbil chantagem, é uma indignidade que merece desprezo e revolta.

Em política, não se devem negociar propostas desonestas e aviltantes. O que há a fazer é dar-lhes a única resposta que um patrão destes merece: reduzir o nosso voto neste governo a 30% do seu merecimento. Como cada um de nós só tem direito a um voto…

Obviamente, a chantagem do Ministério da Educação é ridícula. Vai contar os dois anos e nove meses ou até os três anos para todos os professores, o que se traduzirá na subida de um escalão para quase todos os docentes, mas no roubo de dobro do tempo de serviço que será reposto. 
Em alguns casos, esse roubo será definitivo e terá efeito nas reformas da classe docente de forma permanente.
Não colhe o argumento de dizer que não há dinheiro. O que há são opções. Este e outros governos optaram sempre por encharcar os bancos do dinheiro que foram negando aos salários dos funcionários públicos e ao aumento da qualidade dos serviços. 
A uns meses das eleições, vem o governo do PS com a conversa de sempre, os argumentos do século passado… por isso há que lhes dar a única resposta possível – aplicar a fórmula do pagamento da dívida salarial ao voto eleitoral. 
Ou aceitam 30% ou… nada!
GAVB