O mundo cresceu e desenvolveu-se ao som da dicotomia
ricos/pobres. Povos, reis, presidentes quase sempre elegeram a riqueza material
como objetivo primordial da sua ação. A revolução industrial (que uns fizeram,
outros fingiram fazer e muitos nunca souberam o que isso é) cavou um fosso
enorme entre os povos. Um século depois, os senhores do mundo perceberam que a
sua riqueza se construiu fazendo muito lixo.
Primeiro foi apenas um lixo feio, à italiana, depois
tornou-se um lixo tóxico e mortal. Tão nocivo que urgia exportá-lo, mas não
eliminá-lo, porque todo o conceito de riqueza se baseava nele. Havia então que
encontrar uns parvos que o recebessem, que o tentassem reciclar, eliminar ou…
morrer com ele.
Os parvos são os países pobres, que são tão pobres de
recursos como de bom senso, que aceitam o lixo dos países ricos a troco de uns
ignóbeis milhões de euros. Arriscam a saúde dos seus cidadãos, do seu ar, dos
seus rios, porque o dinheiro do lixo lhes parece bom.
Há dias, a minha filha mais nova perguntava-me: “Pai, por que
andamos a reciclar o lixo dos outros países se isso é perigoso?” A única resposta
honesta que me ocorreu foi: “porque somos pobres e inconscientes!”
No entanto, não era necessário sermos também pobres de
espírito. Ao aceitarmos ser a lixeira do luxo, estamos, objetivamente, a
contribuir para um planeta mais sujo e mais perigoso. Eles sabem que podem
continuar a produzir lixo a seu belo prazer que haverá sempre um país de lixo
para o receber.
Se os países do luxo fossem obrigados a ficar com o seu
lixo, a recicla-lo, a arriscar a saúde dos seus cidadãos, certamente pensariam
duas vezes antes de prosseguir uma política de expansão económica baseada na
poluição.
Um país pobre pode ser pobre por diversas razões, mas só pode
ser “de lixo” por uma: falta de respeito por si!
GAVB
Sem comentários:
Enviar um comentário