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domingo, 30 de abril de 2017

PAÍSES DE LIXO E PAÍSES DE LUXO


O mundo cresceu e desenvolveu-se ao som da dicotomia ricos/pobres. Povos, reis, presidentes quase sempre elegeram a riqueza material como objetivo primordial da sua ação. A revolução industrial (que uns fizeram, outros fingiram fazer e muitos nunca souberam o que isso é) cavou um fosso enorme entre os povos. Um século depois, os senhores do mundo perceberam que a sua riqueza se construiu fazendo muito lixo.

Primeiro foi apenas um lixo feio, à italiana, depois tornou-se um lixo tóxico e mortal. Tão nocivo que urgia exportá-lo, mas não eliminá-lo, porque todo o conceito de riqueza se baseava nele. Havia então que encontrar uns parvos que o recebessem, que o tentassem reciclar, eliminar ou… morrer com ele.
Os parvos são os países pobres, que são tão pobres de recursos como de bom senso, que aceitam o lixo dos países ricos a troco de uns ignóbeis milhões de euros. Arriscam a saúde dos seus cidadãos, do seu ar, dos seus rios, porque o dinheiro do lixo lhes parece bom.


Há dias, a minha filha mais nova perguntava-me: “Pai, por que andamos a reciclar o lixo dos outros países se isso é perigoso?” A única resposta honesta que me ocorreu foi: “porque somos pobres e inconscientes!”
No entanto, não era necessário sermos também pobres de espírito. Ao aceitarmos ser a lixeira do luxo, estamos, objetivamente, a contribuir para um planeta mais sujo e mais perigoso. Eles sabem que podem continuar a produzir lixo a seu belo prazer que haverá sempre um país de lixo para o receber.
Se os países do luxo fossem obrigados a ficar com o seu lixo, a recicla-lo, a arriscar a saúde dos seus cidadãos, certamente pensariam duas vezes antes de prosseguir uma política de expansão económica baseada na poluição.

Um país pobre pode ser pobre por diversas razões, mas só pode ser “de lixo” por uma: falta de respeito por si!
GAVB

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