É certo que vivemos o tempo da pós-verdade, em que apenas estamos disponíveis para aceitar aquela parte da realidade que nos interessa; é verdade que os jornais, as rádios e as televisões precisam que o leitor os “compre" todas as manhãs, tarde e noites, mas os factos são ainda mais duros que as leis.
A informação devia primordialmente apresentar os factos e deixar ao leitor o papel principal de comentador. Não é assim que acontece.
Quem informa vive na ânsia de chegar primeiro, criar polémica ou fazer a notícia bater com os desejos da maioria. Informar não é isso! Informar é ser verdadeiro. Às vezes, isso é cruel, outras vezes insonso, outras ainda, doce e fabuloso.
Um dos grandes valores do jornalismo era a confiança que gerava na opinião pública. Hoje isso não acontece, de tal forma que é necessário confirmar determinada notícia através de várias fontes, além de muitos leitores preferirem destacar o subjetivo comentário aos factos do que o próprio facto.
Lamento muito o rumo que o jornalismo segue no mundo. Culpar o poder, culpar as fontes, queixar-se das difíceis condições de trabalho, da raiva dos leitores ou da fraca venda de papel ou audiência é fugir à questão fundamental: um jornalismo relata factos, quando foge disto é outra coisa qualquer, mas não jornalista.
Ao contrário do que possa parecer, o leitor tem um papel fundamental, na formação do jornalista. Quando mudamos de canal, deixamos de comprar o jornal ou denunciamos, nas redes sociais ou entre amigos, o abuso que determinado jornalista faz do seu sagrado papel de informar a verdade, o jornalismo marca pontos e a sociedade também.
Quando não ampliamos apenas a parte da notícia que nos agrada, mas toda a notícia, por ventura até a parte que menos nos agrada, contribuímos para a necessário purga que é preciso fazer neste clima em que os jornais e os jornalistas parecem claques de futebol, digladiando-se em busca do Óscar da pior realização de sempre.
Gabriel Vilas Boas
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