Saber
calar. Gerir silêncios. Fazer-se de morto. – O elogio da arte do
silêncio vem de longe e parece não encontrar rival. No entanto, muitas vezes,
esse tático uso do silêncio não causa outra coisa senão dor.
É verdade que o silêncio nos pode ser
útil e, frequentemente, é o mais aconselhável para acalmar a fúria do outro,
deixá-lo vomitar toda a frustração sem provocar a sua ira, mas também pode ser
(e é-o vezes sem conta) uma maneira de o fazer sofrer, de o castigar, de o
manter na dúvida, que o corrói e mata.
É tão
importante saber guardar silêncio como saber quebrá-lo, libertando da angústia
quem nele está preso.
Assiste-se
com frequência à degradação de muitas relações através da imposição da lei do
silêncio. Nenhum fala, pergunta, estrebucha, reclama sequer.
Por que o faz?
Primeiro começa por achar que é uma fraqueza, depois deixa-se invadir pelo
orgulho e pela mágoa e finalmente acaba preso ao medo das respostas.
O silêncio não serve somente para dissolver problemas;
também tem o efeito contrário, ainda que de um modo mais insidioso. Potenciador
de dúvida e desconfiança, o silêncio é um ótimo gerador de equívocos e enigmas.
E nem todos temos palavras finas e hábeis para desfazer
esses nós duros e cegos. Mais do que a cobardia de alguém que foge à resolução
dos problemas, o silêncio denuncia a incapacidade para os encarar.
“Não sei o que fazer!” “Nem sei por onde começar. Até tenho
medo da falar e ser mal interpretado!”.
Não é possível dominar todos os efeitos
perversos do silêncio. Quando usado de uma maneira cínica, o silêncio pode
tomar o efeito boomerang e atingir até quem dele se serviu.
O silêncio é tão oportuno e certeiro como as palavras. E
por muito desajeitadas que elas possam ser, há momentos em que elas desanuviam
um horizonte de chumbo e silêncio.
GAVB
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